Marc Jacobs é, antes de tudo, um lembrete de que a rebeldia merece ser vivida, experienciada ou, em casos como o dele, jamais abandonada. O estilista que definiu parte da estética dos anos 1990, da Perry Ellis à Louis Vuitton, vem, nos últimos tempos, questionando – como pode — a engrenagem da qual ele mesmo fez parte. Em um desfile de quatro minutos (lembram que ele já chegou a desfilar em apenas 60 segundos, só para caber em um único story?), ele continuou seu exercício de proporção e modelagem.
O cartoon segue presente, menos óbvio, mas ainda ali, especialmente nos acessórios 2D. Desta vez, quem brilhou foi a forma inflada: há um quê de conto de fadas, bonecas antigas e um final meio horror, com alta dose de fantasia. Remete até a “Body Meets Dress, Dress Meets Body”, coleção-ref de 1997 de Kawakubo para a Comme des Garçons.
Mas voltando às bonecas vivas de Marc, elas mais intimidam do que convidam — por mais que você queira tocar nos laços, nas mangas gigantescas e nos volumes dos quadris, que desafiam a gravidade. As calças cargo nos lembram que, mesmo em meio a tantas alegorias, a realidade permanece, do jeito MJ, mas permanece.
Num mundo ultra rápido, em que diretores criativos buscam maneiras de entregar o maior número possível de produtos (acessórios especialmente, com foco em bolsa e sapato), Marc vai criando sua própria realidade em meio ao caos. Ao invés de ser conformista, ele nos lembra que a moda pode ser mais do que uma mera proposta do que usar na próxima estação. Assim como Rei Kawakubo na Comme des Garçons, Jacobs cria uma filosofia própria tentando driblar planilhas e o algoritmo das redes sociais, com o intuito de, jamais, deixar se adequar. Ainda bem.