Houveram muitas apostas, divagações e leituras sobre a estreia de Daniel Lee à frente da Burberry. Para quem esperava seu já conhecido olhar minimalista aliado a funcionalidade da marca foi surpreendido por uma coleção bem fora da curva tanto no histórico do designer, quanto na Burberry.
O que fica explícito é que apesar de toda a tradição Daniel chegou para mudar tudo, como bem ilustra a t-shirt com a frase “The Winds of Change” [Os ventos da mudança, tradução livre], em um mix de grunge com pós-punk e metal, afinal nada melhor do que ter a famosa rebeldia britânica como tempero.
A cartela de cores bem soturna e apresentada de forma blocada denuncia como a coleção foi minuciosamente pensada, mostrando que a transgressão se reverberou mais no storytelling do que na criação em si. O xadrez tão característico serviu de ponto de partida fazendo com que a padronagem aparecesse de diferentes formas e cores, assim como os casacos que ganham volumes, golas de pelo e comprimentos variados.
Já os acessórios (foco atual da marca) revelam um grande exercício de criação com approach mais conceitual e de encher os olhos – serão ainda mais impactantes nos unboxings de influencers, consumidores e fãs nos próximos meses. Todos são bem bold: botas enrugadas em camurça encorpada, muitas texturas fluffy, solados marcantes e formas arredondadas. “É preciso ter um pouco de humor para entender”, disse Lee após o desfile e, realmente, as bolsas térmicas usadas como acessórios simbolizam bem esse desejo de aquecer uma marca com tamanha austeridade e brincar com a seriedade – mesmo que de uma forma bem contida e cerebral.
O azul cobalto vibrante foi a cor destaque na cartela da coleção: seria a aposta de Daniel equivalente ao verde que instaurou na Bottega? Ao que tudo indica, sim!