Após dois anos sem desfilar, o última tendo sido em janeiro de 2020, Craig Green emerge de seu isolamento com uma coleção bastante reflexiva sobre a pandemia. Para seu Inverno 23, o designer britânico opta por representar seus sentimentos durante a pandemia, isolamento e retorno das atividades presenciais através dos materiais e texturas. Ele conta à imprensa que a ideia da coleção era fazer com que as pessoas "sentissem" novamente, e isso aparece através do tato, nas texturas e tecidos escolhidos para a coleção.
Os tecidos felpudos para fora mostram uma ideia de percepção versus utilidade, refletindo sobre como os pelos para fora nas peças dizem muito mais de uma autoexpressão do que uma necessidade de se esquentar propriamente dita. Ele trabalha com tecidos desconfortáveis, como o mohair, propositalmente, na busca de representar artisticamente a constante dualidade paradigmática do não se sentir bem durante o isolamento e a pandemia. Outras peças, como os looks de material inflável, foram inspirados numa imagem de um homem que utilizava um pulmão de aço, segundo Craig Green, que faz uma analogia com a pandemia: sobre a necessidade de se utilizar auxílios técnicos para respirar e ao mesmo tempo sentir-se enjaulado e preso durante o isolamento. As peças com bolsos laterais também são uma referência aos pulmões de aço, que possuem entradas laterais para uso dos médicos.
O designer sempre foi fascinado com a vestimenta médica, tendo sua mãe como uma enfermeira. Nesta coleção, especificamente, que marca seu retorno, é interessante notar como Craig Green apresenta peças muito conceituais - do design à escolha de materiais - contrastadas com peças simples e de construção primorosa. O arco-íris de cores visto na passarela parece apontar por uma saída otimista, pelo ponto de vista dele.