O legado de Azzedine Alaïa (1935 - 2017) é tão respeitado e admirado pelos fashionistas que é quase intocável. É por isso que, ao assumir a direção criativa da Alaïa,Pieter Mulier, o novo diretor criativo, responsável por trazer a marca para seu merecido lugar de destaque, fez questão de resgatar os designs mais notórios de Azzedine e replicar os códigos da marca logo em sua coleção de estréia.
Já em sua segunda coleção, a de Inverno 23 recém desfilada em Paris, Mulier toma a coragem de inserir sua própria visão e identidade sobre um dos mais notórios canvas da moda contemporânea para torná-la novamente atrativa para as novas gerações e apontar um caminho de futuro para a maison. Se as peças vintage de Jean Paul Gaultier caíram nas graças das novas gerações, não é difícil imaginar o mesmo acontecendo com as obras primas de Azzedine Alaïa.
Para esta coleção, Mulier não quis adotar temas ou grandes conceitos, bem como seu antecessor "apenas lindas garotas e lindas roupas" afirmou à imprensa. O foco é a desconstrução da silhueta que é chamada de vestido espanhol pela marca: vestidos com babados e aberturas nas barras, inspirados nos figurinos de flamenco. Pieter Mulier brinca com essa silhueta, que hora ocupa macacões de uma única perna e até um par de jeans, que se tornam quase que calças boca-de-sino levadas ao extremo, ou nos vestidos "sereia" como o de abertura, desfilado por Raynara Negrine, com o rosto coberto pela gola do vestido, truque de styling que também se repetiu ao longo da coleção. A referência à Espanha não para por aí. Peiter apresentou uma série de vestidos em tricô com estampas de pinturas de Pablo Picasso, que era amigo de Alaïa.
É, sem sombra de dúvidas, uma coleção sexy, que aprecia a figura das mulheres e com vestidos que as abraçam como Azzedine sabia fazer como poucos. Mas desta vez, Pieter Mulier mostra que o outerwear também deve fazer parte principal do portfólio da nova Alaïa, como o vestido criado a partir de uma biker jacket, em couro, além de longos sobretudos e volumosos casacos que cobrem o corpo, não deixando em evidência as clássicas silhuetas de Azzedine Alaïa e apontando para uma renovação do repertório da marca, ainda que muito respeitosa à sua importante história.