Carpetes cândidos, cadeiras dispostas formando quatro salas ovais, iluminação dramática. Apesar de tudo ser tão superlativo, a atmosfera transmitia um desejo bem claro – ainda mais quando primeiro o look surgiu: ser intimista. Tudo milimetricamente idealizado para não tirar das roupas seu protagonismo, além de dar aos presentes a oportunidade de analisar cada peça em 360 graus. Claro que havia uma preocupação com o efeito final, mas antes havia uma atenção maior ao detalhe.
O retorno de Reinaldo Lourenço aos desfiles não podia ter um título mais adequado “Sonhos e Memórias”. O release escrito em primeira pessoa acentuava esse contato direto do convidado com o criador. Nas linhas podíamos ler não apenas suas divagações, como as referências para o comeback (de um desfile de alta-costura de Lacroix para a Maison Patou, passando pelas décadas de 1950, 1990 e seus códigos pessoais).
O mais chocante: ver roupas que impactam pela beleza, mas principalmente pelo corte, pela costura, pelos bordados manuais. A descrição impressa de cada um dos 44 looks nos transferia para esse outro tempo repleto de dramaticidade e lirismo, que ronda o imaginário dos apaixonados pela moda. “Três tipos de entretelas, martingales nos ombros, cetim duchese, plumas, jacquards…”. Ler e ver eles ali, tomando forma e flutuando bem à sua frente.
Reinaldo conseguiu o apelido de Rei entre suas clientes e fãs fiéis por inúmeros motivos, mas um deles é incontestável: o estilista sabe interpretar e revelar uma silhueta da forma mais sofisticada que conhecemos. Sua característica alfaiataria estava presente, ela não era para o dia a dia – mas para longos jantares, para se divertir, para ver e ser vista. Enquanto os longos nos faziam idealizar situações, criar cenários surreais, vestidos que transitam por dias de sol, noites fantásticas, entardeceres lânguidos e etéreos. “O verdadeiro sentido da vida é simplesmente viver os próprios sonhos”, escreveu Reinaldo Lourenço. Uma máxima que vale não só para ele, mas para todos os apaixonados também.