A Balenciaga era aguardada por inúmeros motivos, que iam da curiosidade as possíveis easter eggs que o desfile entregaria após polêmicas, ainda recentes. E acredito que mais do que nunca Demna tenha refletido sobre tempo, legado e, principalmente, sobre eternidade – o que na coleção acabam sendo mais do que sinônimos.
O efeito tromp l’oeil denunciava não ser apenas um recurso imagético, mas discutir sobre perspectiva – casacos que imprimiam a textura de pele, calças pintadas à mão que imitavam a lavagem estonada do jeans, vistos anteriormente em coleções recentes, mas refeitos sob o olhar mais edgy de Demna e com qualidade e primor elevados dos ateliês de Couture da casa. Há ainda a sua visão de romantismo: o decote coração em vestidos e na alfaiataria. O amor na Balenciaga é assim, bem defensivo, rígido, endurecido.
Casacos e cachecóis em malhas metálicas, como se o vento tivesse os lapidado e os eternizado estáticos, o que nos leva a pensar sobre o momentâneo e o efeito do tempo sobre as coisas (lembra quando falamos sobre eternidade ali em cima? Então!).
E, como prometido, Demna quis mostrar mais do que nunca sua paixão pela moda, então nada mais natural que trazer musas de diferentes momentos: Ines de La Fressange (modelo ícone da Alta-costura nos anos 1980), Amber Valletta, Malgosia Bela, Saskia e, claro, a atriz Isabelle Huppert. E por fim, sua musa-mor Eliza Douglas com vestido de noiva-armadura é mais um indicativo de que a Balenciaga é romântica e está pronta (e protegida) para lidar com quaisquer outros conflitos que estejam por vir.