Com tantas expectativas em cima do retorno da Balenciaga à Alta Costura, como Demna Gvasalia poderia, ainda, surpreender? Bom, retornar ao formato mais tradicional de desfiles de moda - não tradicional dos últimos tempos, mas da era de Cristóbal Balenciaga. A tão aguardada volta da Balenciaga à Alta Costura, adiada algumas vezes, finalmente aconteceu hoje em Paris. Foi um encontro entre a arquitetura e formas criadas e eternizadas por Cristóbal às paixões de Demna por temas ordinários como o uniforme, o jeanswear, esporte e street.
Para o desfile, Demna restaurou o original salão de Couture de Cristóbal, onde o arquiteto da moda mostrava suas coleções há mais de 53 anos. A apresentação, que parece simples e até causa incômodo pelo silêncio a barulho ambiente, também é proposital: os desfiles de moda não tinham som ou música até meados dos anos 70, nesse sentido, a era de ouro da Balenciaga foi apresentada sem som ou música ambiente e era possível ouvir o som que os diferentes tecidos faziam quando em movimento. Eliza Douglas, musa de Demna, abriu o desfile, carregando uma rosa vermelha e vestindo num conjunto de terno de ombros estruturados, seguida por uma sequência de looks em alfaiataria unissex em preto e já dando sinais de qual seria a nova proposta de Couture de Demna para sua diversa clientela.
Demna Meets Cristóbal: alguns looks fazem claras referências a criações icônicas de Cristóbal Balenciaga, como o casaco vermelho (look 60), o vestido de flor (look 53) e a reverenciada noiva com vestido túnica de Cristóbal (look 63): quem imaginou que veríamos Demna Gvasalia criar uma noiva? O designer, extremamente ligado ao mundo do streetwear e do jeans também traz esses elementos para a passarela criando looks de Couture inspirados no Ready-To-Wear, de forma surpreendente e irônica: foi justamente o surgimento do Prèt-à-Porter um dos principais motivos para o fechamento do ateliê de Cristóbal Balenciaga. (AUGUSTO MARIOTTI E LUCAS ASSUNÇÃO)