Brilhante, fabuloso, surreal, extraordinário, arrepiante. Essas foram apenas algumas das palavras usadas para descrever o primeiro desfile de John Galliano para a Maison Margiela (agora assim, sem o Martin), com a coleção de Alta-Costura exibida em Londres ao final da semana de moda masculina (veja aqui as fotos).
Por trás dos elogios, estão outros ícones da moda, como Anna Wintour, Alber Elbaz, Kate Moss e Christopher Bailey, este na primeira vez em que vai a um show que não o da Burberry.
Um desfile pode conter muita emoção e expectativa e este certamente é um desses casos. O retorno de Galliano, um dos maiores gênios da moda contemporânea, após ter descido do céu ao inferno. Na época da demissão da Dior, chegava a pegar mal você citar seu inúmeros talentos como estilista ou até mesmo sentir sua falta no período que se apresentou com sua saída de cena e a morte de McQueen. Mas por trás do silêncio sempre houve a torcida para sua recuperação e volta ao mercado.
Certamente seu nome era o menos óbvio para assumir a Margiela, marca belga conhecida por sua identidade minimalista, porém não menos forte, mas que passa longe dos teatros memoráveis que Galliano costumava montar a cada desfile seu ou da Dior. “O que será que ele vai fazer?”, a gente perguntava.
Em uma conversa mais cedo com o diretor de arte Giovanni Bianco, nós falávamos justamente de como seria o retorno de um gênio após este tempo parado. Pois hoje, para fazer sucesso, é necessário você ter outras ferramentas em mão além de talento.
John e Martin são dois extremos. Um entrava vaidoso para receber os aplausos vestido de, por exemplo, pirata; o outro nem aparecia e nós mal conhecíamos o seu rosto. Um levava suas ideias a um extremo estético em termos de silhueta e volumes de tecido, criando imagens maximalistas e dramáticas; outro trabalhava contra o luxo exagerado dos anos 90 e partia da ideia de reciclagem e desconstrução, transformando objetos como perucas, telas e lenços em peças de Alta-Costura.
Com a saída de Martin da direção criativa em 2009, a equipe foi cuidadosa em manter seu legado estético e as principais assinaturas da marca, ao mesmo tempo em que flertava com uma imagem mais comercial e pop, culminando em uma parceria com Kanye West na turnê Yeezus.
Inteligente e sensível, Galliano surpreendeu ao abraçar a história da grife sem deixar de incluir seus sonhos nos croquis. Porque se tem uma coisa que ele faz bem, é sonhar. Mas agora a fantasia tem que flertar com números. “Foi extraordinário. Queria poder apertar o pause para estudar, olhar de perto”, disse Bailey ao WWD.
O local minúsculo (com apenas três fotógrafos), as poucas cores, a entrada rápida no final vestindo um jaleco branco (marca registrada de Margiela), a reciclagem presente em alguns looks, o trabalho com as máscaras que a marca vem desenvolvendo evocam fortemente o lado Maison Margiela (com destaque para o último e incrível look). As silhuetas românticas, a construção das roupas, a alfaiataria impecável, os vestidos dramáticos com rostos 3-D, os bordados e o animal print são reconhecidamente Galliano. Sem falar na trilha, com “Big Spender”, de Shirley Bassey, Galliano na veia.
Na música, Bassey canta:
“Wouldn’t you like to have fun? Fun? Fun?
How’s about a few laughs? Laughs?
I can show you a good time
Let me show you a good time”
Fã de Galliano desde meus 20 e poucos anos quando morava em Londres, tenho a alegria de escrever que ele voltou e pode sim, ainda, nos trazer tempos felizes na moda.
