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    Crise no mercado editorial não é problema exclusivo da editora Abril nem do Brasil
    Crise no mercado editorial não é problema exclusivo da editora Abril nem do Brasil
    POR Camila Yahn
    Capas de revistas ilustradas / Reprodução
    Capas de revistas ilustradas / Reprodução

    A semana começou com a notícia da demissão em massa na Editora Abril e o término de diversas publicações da empresa, como Elle e Cosmopolitan.

    Mas este, como se sabe, não é um problema exclusivo da Abril, da moda ou do Brasil. Muitos grupos editoriais ao redor do mundo estão sofrendo os efeitos colaterais por não terem se antecipado em relação à transformação causada pelo digital. O número de assinantes e anunciantes caiu drasticamente e não ajuda o fato que hoje andamos na rua com os olhos no celular, passando batido pelas bancas de jornal que antes, eram parada obrigatória. Há muito conteúdo bom e gratuito na web e a geração nova se acostumou a consumir notícias pelo celular. Editores e executivos ainda recebem salários milionários e grupos editoriais ocupam prédios inteiros nas áreas mais nobres das cidades. Uma estrutura que antes era possível, mas hoje é insustentável. Além de tudo isso, há o simples fato de que custa caro fazer uma revista.

    Assim, muitas publicações impressas passaram a gerar receitas com outros negócios, como eventos, seminários e produção de vídeo. Um dos exemplos é o Condé Nast Entertainment, uma unidade especial para vídeos, filmes e projetos para TV lançado em 2011. A empresa produz mais de 400 vídeos por mês, publicados em seus sites e em canais como YouTube, Facebook, Instagram e Snapchat. Recentemente, fizeram até o documentário Last Chance U, em cartaz no Netflix.

    Pela primeira vez na história da companhia, a divisão de vídeos e web cresceu tanto que sua receita ultrapassou a do impresso. Ou seja, certamente um caminho para o futuro da empresa, que gradualmente pode deixar de ser uma editora de revistas para se tornar uma produtora de vídeos. Alguns deles vocês devem conhecer, como o 73 Questions With, que é super bem produzido e já ganhou mais de 300 milhões de visualizações desde que começou, em 2014.

    Este pode ser o futuro, mas o presente ainda apresenta questões complicadas e que necessitam de decisões difíceis. A própria Condé Nast se encontra na véspera de uma reunião em que vai apresentar aos seus funcionários seniores os resultados de um estudo de meses encomendado à consultoria Boston Consulting Group, segundo reportou o New York Times.

    Faz tempo que a empresa tem tomado medidas para cortar gastos, mas atitudes mais radicais estão sendo esperadas para que a empresa volte a operar no azul, como vender três de seus títulos (Brides, Golf Digest e W) e alugar 23 andares de seu prédio localizado no novo World Trade Center.

    Algumas mudanças editoriais também estão sendo percebidas como tentativas de driblar as dificuldades e se adaptar os novos tempos. Uma delas foi a contratação de Samantha Barry para a Glamour, na direção da revista. Samantha não tem experiência no mercado impresso e em seu último trabalho, cuidava das redes sociais da CNN.

    Outra é a atual edição de setembro da Vogue. Para conseguir ter a poderosa Beyoncé em sua capa, a revista fez algo inédito: deu a ela controle total sobre sua participação, incluindo aprovação de fotos, da capa e dos textos – tudo especificado em um contrato. Se tem alguém com condições de exigir qualquer tipo de concessão, é Beyoncé – e ela faz bom uso do espaço que tem, como por exemplo, convidar o jovem Tyler Mitchell para assinar a capa, o primeiro fotógrafo negro a fazer isso. Mas ao aceitar seus termos, a revista também manda uma mensagem pro jornalismo: sua falta de poder.

    Beyoncé fotografada por Tyler Mitchell para a Vogue US / Reprodução
    Beyoncé fotografada por Tyler Mitchell para a Vogue US / Reprodução

    Em uma matéria no BoF, Anna Wintour questiona: “quem melhor para escrever sobre Beyoncé que a própria Beyoncé?”. Bom, se todos os profissionais, estrelas ou não, passam a aparecer “in her own words”, o jornalista deixa de ser necessário e com ele se vão também um olhar mais aberto e crítico. Imagina se um jornal deixa, por exemplo, o Bolsonaro escrever “in his own words”? Soa como um exagero, já que a Beyoncé usa seu espaço para o bem, mas é o mesmo processo. Veículos de referência, como é o caso da Vogue americana, normalmente são equipados por profissionais competentes e capazes.

    “A edição de setembro da Vogue é um panfleto de crenças de Beyoncé. Essas crenças podem ser inteligentes, louváveis e estimulantes. Beyoncé pode estar certo em tudo o que diz. Beyoncé pode ser indiscutivelmente fabulosa. Mas o que estamos lendo não é jornalismo mascarado como um furo jornalístico. Que uma celebridade deve cooptar os meios de produção de uma revista brilhante diz muito sobre o poder dessa celebridade e o que a celebridade significa hoje”, diz um artigo de Tim Teeman no Daily Beast. “Mas o mais preocupante é a Vogue concordar com isso”.

    Algumas vezes, mesmo que as intenções sejam boas, é necessário deixar claro o que está em jogo, já que nesta época de vale tudo, muitas situações podem passar despercebidas ou fantasiadas de algo que não são.

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