Para contrapor a abertura ultra jovem desta 28ª edição do SPFW (com o desfile da Cavalera na Galeria do Rock), o evento se encerra pelas mãos dramáticas de André Lima. Um bom jogo de extremos.
Neste inverno, o estilista sobe mais alguns degraus na afirmação do seu talento em criar vestidos para coquetéis e festas. Totalmente alheio aos termômetros baixos da estação mais fria do ano, André abre fogo com vestidos über adesivos e, em sua maioria, super mini. Quando os braços e ombros ganham cobertura, ela vem na forma de giga ombreiras ou mangas bufantes-mutantes. Uma coisa meio futurista, meio Lady GaGa na época de "Poker Face". Na transição para as araras da loja, ele deve enxugar os excessos para acertar em cheio o coração das suas clientes.
A mutação se torna uma constante: André Lima entra na onda da reciclagem de conceitos, compondo a maioria de suas peças através de vários tipos de tecidos, diferentes padronagens, texturas variadas. O primeiro vestido, encorpado pela modelo Luana Teifke, é um resumo da ópera: três tipos de tecidos, patchworks enviezados, estampa gráfica, brilho. Esse reaproveitamento aciona nossa memória das colchas de retalhos: tecidos interligados com orientação geométrica, porém assimétrica, uma coisa super artesanal.
Laços oversized também aparecem em vários momentos, sendo alternados por uma estampa oriental (qualquer semelhança com o inverno 2009 do estilista não pode ser mera coincidência), pelo trabalho que remete aos fuxicos (bem executados no vestido vermelho com aplicação de babados pretos), e pelas jumbo dots que surgem no final da apresentação. No meio disso, as geometrias são onipresentes. Elas até saltam das cabeças das modelos nos belíssimos adereços criados pelo designer Davi Ramos.
Alguns momentos de sobriedade oxigenam e pontuam as transições do desfile, como o excelente casaco preto desfilado pela new face Lais Ribeiro com dobraduras que se envelopam para formar as ombreiras. Genial. O look esmeralda de Indira também enche os olhos – e deve preencher as páginas de muitos editoriais de moda. Mas o clímax do design é o micro vestido em dois tecidos divididos por uma aplicação de babados que formam a letra "S". "S" de "sensacional".
O extraordinário aqui não é a trilha sonora divertidíssima do DJ Zé Pedro (que mixou tecnobrega com divas pop), nem a plateia de clientes peruonas à beira de um ataque de nervos, nem a espalhafatosa Fafá de Belém fofocando e fazendo furdunço na fila A. Isso tudo é ordinário. O prefixo extra está nos acabamentos impecáveis, na modelagem quase impossível, na qualidade suprema da execução das roupas. Olhando de longe (ou de perto) tudo está no lugar. Até as coisas que não deveriam estar no lugar subvertem as leis da Física para entrar no eixo. E é exatamente essa obsessão pela maestria, aliada à sua veia espetaculosa, que fazem de André Lima um estilista digno do encerramento da maior semana de moda da América Latina.
Estilo e coordenação: André Lima e Carlos Cardoso
Direção: Roberta Marzolla
Produção executiva: Equipe André Lima
Styling: Flavia Pommianosky e Davi Ramos
Make up & hair: Robert Estevão
Trilha sonora: Zé Pedro