A força de Walter Rodrigues está na tradição. Depois de abandonar (para a nossa felicidade) o glamour dos vestidos de festa (para a infelicidade das madames) que mostrou no inverno 2009, o estilista segue disciplinado na retomada das técnicas que fizeram sua fama nas passarelas. A bússola de Walter aponta para o oriente, buscando direção em tecidos fluidos e numa silhueta que oscila entre o muito amplo ou o muito justo, entre a desconstrução do corpo através de recortes geométricos e a valorização do mesmo através das técnicas de moulage.
O desfile abre com uma curta sequência de inspiração militar - cortes mais retos, tecidos mais pesados, botões em evidência. De cara, o equilíbrio vem dos volumes que remetem aos uniformes de kenpo (arte marcial chinesa) e pelas estolas de pele, que, vamos e convenhamos, não deveriam estar lá (nosso inverno tropical não chega a esses níveis de rigorosidade). Sem perder muito tempo, o navio de guerra aporta na terra do sol nascente, paragem obrigatória no itinerário de Walter. A chegada da referência mais forte do estilista (o japonismo) é antecipada por uma variação intermitente de silhuetas: um look fluído, outro adesivo, um fluído, um adesivo - e por aí vai -, até que ele encontra o jeito correto de desestruturar o visual e insere camadas de tecidos, capas, volumes inusitados. Tudo ao som inebriante dos tambores orientais. Só quem ouviu sabe a sensação: cada batida é um passo rumo ao transe total. Ponto para as duas ninjas brancas ocultas por adornos de cabeça feitos por Eduardo Laurino. E ponto extra para a vítima delas: um look total vermelho sangue, num momento onde conceito e roupa se encontram de forma extraordinária.
A cartela de cores privilegia tons mais baixos, muitas vezes queimados, como verde-caçador, ou então azul-marinho e preto. Como acessórios, algumas bijus que desaparecem na composição como um todo, dando ainda mais destaque aos tênis All Star feitos de tecidos de quimonos - incríveis! Walter exagera na dose com alguns looks que poderiam ter sido editados: o modelo desfilado por Bruna Sotili, com quatro camadas de tecidos em cores diferentes, é um bom exemplo de como uma única construção equivocada pode bagunçar o coreto.
Mas não o suficiente para tirar da lembrança os belíssimos vestidos pretos, ricos em detalhes de modelagem, que fecharam a apresentação deixando um gostinho de... quero mais.
Direção: Roberta Marzolla
Make-up & hair: Robert Estevão