O estilista pernambucano Melk Z-Da tem um gosto especial por criações que beiram o conceitual. Seu rico trabalho artesanal, construções elaboradas (e volumosas) e pesquisa têxtil conferem às peças qualidades quase únicas e cheias de valor, embora vez ou outra esse aspecto conceitual acabe pesando.

Para o inverno 2010 o ponto de partida é a carpintaria. Da madeira sai boa parte dos tons de marrom e bege que neutralizam a cartela de cores _acesa pontualmente por dois bons looks em turquesa e outros dois em laranja fluo. O material também serve de referência para texturas e estampas trabalhadas com elaboradas técnicas de manipulação –como o vestido que simula as nervuras da madeira.

As formas começam rígidas, estruturadas por tela de algodão de aparência bem rústica, remetendo à matéria-prima em seu estado bruto, e aos poucos vão ganhando contornos mais suaves e sofisticados. Os volumes marcantes que nem sempre favorecem o corpo da mulher (como aqueles na cintura) vão aparecendo mais contidos; as aplicações de espinhos viram paetês chapados em madeira resinada; os crochês pesados dão espaço para nervuras mais delicadas, enquanto a tela algodão vem substituída pela machetaria que dá forma a bermudas e casacos.

Assim como em coleções anteriores, Melk continua dosando seu lado experimental com peças de assimilação mais fácil. Sem perder sua identidade, looks como naquele da bermuda e casaqueto de crochê, ou nos vestidos sem muito volume, cheios de trabalhos intricados (drapês, pregas e aplicações), mostram de forma mais desejável o preciosismo e a atenção aos detalhes que caracterizam o trabalho do estilista. Investir mais nesse equilíbrio entre imagem e realidade pode ser algo que Melk deva considerar para as próximas coleções.

Direção de desfile: Bill Macintyre
Styling: Melk Z-Da
Trilha: Max Blum
Beleza: Max Webber