SÃO PAULO, 29 de novembro de 2010
Por Luigi Torre (@luigi_torre)
No último verão, Walério Araújo fez de sua passarela uma festa de aniversário _afinal, o estilista completava 40 anos. Agora, para o inverno 2011, trocou a celebração da vida pela da morte. Assim, sua mais recente coleção vem toda trabalhada em torno do luto. “Não só das perdas físicas, de amigos e parentes queridos que perdi ao longo do tempo, mas também perdas financeiras, emocionais... De todo tipo”, disse Walério ao FFW momentos antes de seu desfile.
Vem daí a predominância do preto e uma certa sobriedade que só não é absoluta pelo requintado _e quase obsessivo_ trabalho com rendas dos mais variados tipos e tamanhos. Intercaladas, geravam sobreposições de texturas e transparências que se tornaram o centro da coleção.
Mas esse luto não é de todo triste. É sedutor e sensual, bem Walério Araújo. Sua viúva é uma “sedutora boa”. Pode preferir a elegância clássica _ainda que com toques subversivos_ da renda, mas não dispensa algumas peças de alfaiataria como o ótimo vestido-blazer ajustado ao corpo, ou então peças em couro, seja num tomara-que-caia curto ou numa espécie de bolero de ombros volumosos. Ah, claro, tudo sempre muito bem "acessorado" com os saltos _também rendados, de Fernando Pires_ e bolsas de mão com pequenas flores de plástico preto.
A sensualidade se faz onipresente nas transparências _responsáveis por revelar peles e seios de maneira sedutoramente velada_, e também na silhueta levemente anos 90: acinturada e ajustada ao corpo, com uma discreta atenção aos ombros. Tudo bem de acordo com essa busca por sofisticação que Walério vem investindo nos últimos tempos.
Porém, ao fim, o luto acabou tomando conta não só da coleção, mas do próprio estilista. Talvez Walério seja um dos estilistas mais passionais da Casa de Criadores. Suas coleções _e apresentações_ são sempre recheadas de emoções e humor, responsáveis não só por arrancar aplausos e gritos da plateia, mas por despertar os mais variados sentimentos e sensações daqueles que assistem. Agora, no entanto, sua obra vem letárgica. Como se o luto fosse uma ausência de vida _vida esta que sempre foi um fator tão peculiar ao estilista.
Antes de seu desfile, Walério contou ao FFW que quase ficou sem desfilar nesta temporada por conta das habituais dificuldades financeiras e estruturais de uma marca pequena e, no seu caso, underground. Mas, como entende a importância do desfile não apenas como uma vitrine em potencial, mas como exercício criativo, “não desistimos nunca”. Ainda bem. E assim, esperando que esse luto não dure mais que uma temporada, pedimos todos: Walério, por favor, volte à vida!