Na noite desta última quarta (26.11), com um desfile no histórico cinema Marabá, no centro de São Paulo, a Misci colocou a moda onde ela sempre deveria estar: no meio da cultura do país onde ela é produzida. E o diretor criativo Airon Martin fez isso de maneira espetacular, um dos fatos que contribuíram para que sua marca, em apenas cinco anos, seja a responsável talvez pelo desfile mais aguardado da cena fashionista nacional hoje.
Refletir a cultura brasileira significa honrar as tradições e os regionalismos, mas também seu aspecto urbano e, por que não, também as influências que incorporamos de fora. Tudo é uma questão de peso e equilíbrio, e isso a Misci tem sabido fazer bem. Assim, o Cinema Novo de Glauber Rocha, os crochês, franjas e bordados filé que evocam o artesanal nordestino convivem com a alfaiataria afiada da grife, não sem causar um certo choque visual em alguns momentos. Mas talvez seja essa a graça: o regional não é diluído, mas se impõe lado a lado com o global, tanto na estética, quanto na relevância.
Nesse patchwork de referências culturais calcadas no nordeste brasileiro, entra a arquitetura minimalista elegante, com foco em materiais naturais de Isay Weinfeld, que assina a coleção com Airon. A modelagem ganha formas ora mais recortadas, ora mais arredondadas, como no casaco longo azul com toques de marrom e vinho, feito de retalhos desfiados, ora no decote milimetricamente retangular nas costas do vestido marrom arroxeado que abre o desfile.
O couro plissado aparece em jaquetas e bolsas de tamanhos diferentes e tons como o verde abacate, ou combinações sofisticadas de vinho e amarelo. A cartela de cores, aliás, é sempre um show à parte nos desfiles da Misci. Combinada no styling de Renata Correa, é um dos pontos altíssimos da coleção, que traz o mix do amarelo manteiga na calça masculina com o blazer marrom quase beringela, puxando para o roxo, que aparece pela primeira vez na marca. Os tons terrosos muito sofisticados, são combinados com violetas, verdes, azuis e vermelho.