Nem mocinho, nem vilão: o homem atual virou coadjuvante
O homem, antes protagonista das comédias românticas e o herói da história, agora se divide entre o vilão, mocinho ou, na maioria das vezes, mero coadjuvante.
Nem mocinho, nem vilão: o homem atual virou coadjuvante
O homem, antes protagonista das comédias românticas e o herói da história, agora se divide entre o vilão, mocinho ou, na maioria das vezes, mero coadjuvante.
A vergonha de ter um namorado
Nas redes, o tom é outro. “É constrangedor ter um namorado?”, perguntava um post recente que viralizou. Por trás da provocação, uma crítica à mulher que ainda se apaga sob a sombra do parceiro, ou que tem sua identidade diluída por ele.
Entre pesquisas que mostram o homem ficando para trás, social e financeiramente, e memes “para gays e garotas”, a figura masculina vai perdendo espaço, cultural e simbolicamente.
Enquanto isso, o homem, esse autoproclamado centro gravitacional da narrativa ocidental, parece perder o eixo. Já não é o salvador, o decidido, o super-herói. É frágil, hesitante ou, quando muito, performático.
O colapso da masculinidade moderna
Em um artigo da The New Yorker, a editora Jessica Winter fala sobre o “colapso da masculinidade moderna”: homens jovens estudam menos, trabalham menos, se isolam mais. A taxa de suicídio é três vezes maior do que entre as mulheres. “O que está acontecendo?”, pergunta ela.
Assexual e virtual
Scott Galloway tem alertado para um fenômeno silencioso e profundamente contemporâneo. Segundo o professor da NYU, o conteúdo gerado por algoritmos nas redes sociais “contribui e lucra com o isolamento social, o tédio e a ignorância dos jovens homens”. Em uma entrevista recente a Anderson Cooper, ele foi direto: as grandes plataformas “estão no negócio da irritação, da polarização e do sequestro emocional”, mirando especialmente homens jovens, “que têm o córtex pré-frontal menos desenvolvido”.
Os números reforçam o diagnóstico: 45% dos homens entre 18 e 29 anos, nos EUA, não se aproximaram de uma mulher pessoalmente no último ano. Galloway fala de uma geração em que o assexual ganha força, não necessariamente por escolha, mas por desajuste. Entre o medo e o ódio, o consumo de pornografia e as relações virtuais preenchem o espaço antes ocupado pelo encontro real. Para ele, as big techs, e principalmente as redes sociais, não são apenas espectadoras desse comportamento: são suas maiores cúmplices.
Culpa dos red pill?
Como revelou a Dazed, a pesquisa The State of UK Men mostra que muitos homens no Reino Unido se sentem inc ompreendidos e retraídos: 67% afirmam que a mídia os retrata negativamente, e 59% enxergam o feminismo como algo que beneficia mais as mulheres.
A manosphere agrava esse cenário: entre homens que seguem influenciadores de masculinidade, 63% defendem que mulheres devem assumir papéis tradicionais, quase o dobro dos que não consomem esse conteúdo.
Crise afetiva e pessimismo entre jovens
Os dados da mesma pesquisa também apontam um esgotamento nas relações: 54% dos homens acreditam não ter chance nos apps de namoro, embora 52% ainda usem as plataformas para buscar relacionamentos sérios. O desalento cresce entre os mais jovens: 33% dos homens de 18 a 24 anos dizem acreditar que nunca vão encontrar alguém para compartilhar a vida. E no Brasil, você acha que o cenário é parecido, melhor ou pior?
Uma crise de todos?
Talvez o que esteja acontecendo não seja uma crise dos homens, mas uma crise comum, um desmoronamento coletivo de papéis, expectativas e afetos… Não?
O amor, que sempre foi espelho do tempo, agora reflete o cansaço das narrativas antigas e a urgência de novas formas de estar junto. Qual seria a solução? Menos pose e mais realidade?
A definição do que é ser homem, construída ao longo do século 20, precisa ser reinventada ou, ao menos, repensada para alinhar expectativas e frustrações, entre mulheres e… entre os homens.