A voz hipnotizante que ecoava como trilha do desfile despertava curiosidade. Para alguns atentos, os versos eram familiares: This Must Be the Place, clássico do Talking Heads, mas declamado (não cantado) pela inconfundível Cate Blanchett.
Esse tipo de detalhe já diz muito sobre Nicolas Ghesquière. Um dos maiores criadores da moda contemporânea, tantas vezes mal interpretado ou visto como “avulso” em meio às tendências de 2025, mas sempre consistente em execução. A Louis Vuitton sabe bem: desde 2013, ele ocupa um dos postos mais poderosos da indústria justamente por sua capacidade de transformar roupas em narrativa.
O Louvre, mais uma vez, serviu de palco. Dessa vez, os aposentos de verão de Ana da Áustria, Rainha da França. E aí está a chave: Ghesquière, que vinha falando tanto de viagens e da mulher LV ao ar livre, agora volta-se para dentro. Para a intimidade, para os espaços privados, para o silêncio que também constrói identidade.
As golas foram um espetáculo à parte: rígidas, esculturais, quase pontiagudas. Pesquisando, percebi que não era coincidência: Ana da Áustria também tinha nas golas uma marca registrada de estilo. A cartela de cores, lânguida e esmaecida, reforça a sensação de pausa, mais próxima da primavera do que de um verão ardente.
Numa época marcada pela pressa, pela aceleração constante, até a Louis Vuitton encontra um jeito de propor desaceleração. De olhar para o entorno, de descansar – e de trazer o boudoir, grande tendência da temporada, para o centro da conversa.