Como muitos que acompanham seu trabalho, eu conheci Louise Trotter na Lacoste, em um momento em que a marca havia encontrado um equilíbrio raro: comercial o bastante para justificar sua presença em uma fashion week, mas ainda interessante do ponto de vista criativo. Louise entende de produto, domina as cores, é meticulosa. E posso dizer sem hesitar: sua estreia na Bottega foi bela.
O lugar deixado por Matthieu Blazy poderia ter se tornado apenas mais uma das tantas cadeiras vazias que a moda coleciona. Mas, quando ele partiu para a Chanel, a sucessão ganhou outro peso. Felizmente, o posto foi ocupado por uma mulher, e mais ainda por Louise, um talento que merecia atenção, mas que permanecia discreto na Carven até ser convidada para assumir a direção criativa da casa italiana.
Trotter fez o dever de casa: olhou para a Bottega como um todo, passado e presente, para desenhar o futuro. A presença de Lauren Hutton na fila A foi um gesto calculado: seu look remetia a Gigolô Americano, filme em que sua personagem usava uma clutch bordô da marca, peça que consolidou o nome da Bottega nos EUA nos anos 1980. Essa década, aliás, ecoou nos ombros projetados e no workwear imponente, símbolos da elegância milanesa que seguimos admirando e desejando.
Mas o ponto mais empolgante veio do lado experimental: franjas de acrílico em tops e saias criaram um efeito hipnótico, quase futurista, que redefine o glamour para o agora. Se na Lacoste ela era esportiva demais, e na Carven, contida, na Bottega Louise finalmente tem espaço para explorar seu lado escultural, exuberante, trabalhando texturas e acabamentos que elevam até as peças mais casuais.
A marca vive hoje um momento crucial, fruto de um terreno pavimentado por Blazy, sim, mas que Louise tem tudo para manter, ainda que de forma mais discreta. Vale lembrar que até pouco tempo atrás a Bottega era lembrada basicamente por suas clutches de casamento e loafers. Agora, o desafio é perpetuar esse frescor não só na moda, mas também em diálogo com o cinema, a música e as artes. Porque o agora, nunca foi tão importante.