Antes da Versace com letras douradas e garrafais, existiu a Gianni Versace. A marca levava apenas o nome do fundador e ainda buscava seu lugar, sua estética (bem distante daquela glamazon com o cinturão da Medusa que seduz e congela). Em 1978, ano que fundou a etiqueta, o jovem Gianni olhava para a rua e procurava formas de saciá-la.
Dito isso, a estreia de Dario Vitale faz todo sentido: o designer resgata justamente esse momento inicial da marca, inocente, jovem, experimental, divertido… “paninari”. A expressão italiana, que nasceu como subcultura dos anos 1980, traduzia o preppy temperado pelos excessos milaneses. É esse espírito que permeia boa parte do desfile. “Eu nunca me interessei pela fantasia, eu sou muito mais interessado na realidade”, disse o estreante após a apresentação.
Há algo de brecholento aí (e não leia como algo pejorativo), um jeito que lembra como Alessandro Michele também monta seus personagens. Vale lembrar que Vitale passou pela Miu Miu, e seu gosto pela imagem vintage sem dúvida floresceu na segunda marca de Miuccia. Trazê-lo para a Versace pode soar estranho à primeira vista, mas essa estética, sim, também faz parte da história da casa italianíssima.
As jaquetas em couro com ombros volumosos gritam anos 80, as regatas sobrepostas, os shorts dobrados, as peças justíssimas, as calças capri, a cintura alta e virilha marcada… tudo remete ao que colecionadores chamam de fase first-label (quando o sobrenome ainda não reinava sozinho). Porém quando passou a assinar apenas com o sobrenome, Gianni já sabia exatamente para quem queria vender: mulheres (e homens) sexy, exuberantes, que viam a moda como montação, diversão, provocação, mas também um estilo de vida.
Esse desfile tem o tipo de moda que arranca expressões de julgamento e, ao mesmo tempo, de admiração. E há algo mais Versace do que isso?