João Moraes, o brasileiro por trás do Katseye
No seu portfólio ainda tem Kenzo, Helmut Lang e MAC Cosmetics.
João Moraes, o brasileiro por trás do Katseye
No seu portfólio ainda tem Kenzo, Helmut Lang e MAC Cosmetics.
A trajetória de João Moraes é marcada por movimentos e por cruzamentos criativos. Paulista de nascimento, já morou em Nova York e Londres e hoje vive em Los Angeles, onde atua há quase quinze anos no mercado como diretor criativo. Seu trabalho, que ele define como o de um “visual director”, acontece na interseção entre fotografia, vídeo, design e música com a missão de dar coerência e potência às narrativas de artistas e projetos que passam por suas mãos.
Fascinado desde jovem pelo teatro, pela dança e pela moda de estilistas como Alexander McQueen, João construiu uma estética que mistura o teatral, o pop e a moda. “Sempre quis contar histórias”, resume. Prova disso é que tem dedo dele no sucesso da banda KATSEYE – João divide a direção criativa junto com Humberto Leon, ex-Kenzo e da Opening Ceremony –, hit global do momento, além de já ter integrado projetos icônicos como o Kenzo World, dirigido por Spike Jonze.
Há quanto tempo você atua no mercado criativo?
Trabalho com direção criativa há quase quinze anos — comecei na moda e, hoje, estou mais voltado para música e entretenimento.
Você se define como “visual director”, certo? Explica como isso funciona na prática?
Meu trabalho acontece no cruzamento de várias áreas: fotografia, video, design, styling, digital. Na prática, isso significa que sou responsável por moldar a identidade visual de um artista ou projeto em todos os pontos de contato com o público. Apesar de ser um papel super criativo, também tem muito a ver com comunicação: preciso garantir que todos os profissionais incríveis com quem colaboro estejam falando a mesma língua. Posso chamar o melhor maquiador do mundo para criar algo incrível, mas, se não fizer sentido dentro da história maior que o diretor está contando, não vai funcionar para o projeto.
Sempre quis trabalhar com isso? Como começou ou surgiu isso na sua vida?
Sempre quis contar histórias. Desde muito jovem, amava teatro e a dança — a maneira como um mundo podia ser construído no palco, onde uma coisa podia representar outra. Esse senso de artifício e do absurdo sempre me fascinou. Isto me levou a moda, sempre amei estilistas como Alexander McQueen que criavam historias na sua coleções e desfiles. Minha estética é uma mistura desses universos: o teatral, o pop e a moda, que se unem para contar uma história.
Qual foi um trabalho que te marcou como diretor criativo?
Fiz parte da equipe criativa do KENZO WORLD, dirigido por Spike Jonze. O que eu mais amei nesse projeto é que, no fundo, a narrativa é muito simples — uma premissa usada inúmeras vezes na indústria da beleza: uma mulher que se liberta das expectativas da sociedade para encontrar sua voz e seu verdadeiro eu. Mas o que tornou aquilo foda foi a forma como cada elemento quebrava as expectativas — a música é intensa, a coreografia é bizarra e nada preocupada em ser “bonita”, e o filme tem quase quatro minutos, o que era (e ainda é) incomum para um comercial. Ainda assim, porque cada detalhe tem uma expressão única, funciona. Para mim, um trabalho criativo potente sempre exige grandes esforços, mas pode partir de uma ideia simples.
E tem algum que tenha sido especialmente desafiador ou marcante?
O clipe de “Gnarly”, do KATSEYE, foi uma experiência única. Filmamos na Coreia com uma equipe de produção coreana, enquanto a direção criativa e o diretor (Cody Critcheloe) vieram dos Estados Unidos. Os processos eram bem diferentes, mas foi justamente essa mistura de abordagens que tornou o vídeo tão especial. Uma ideia criativa só ganha vida de verdade quando é interpretada por uma equipe, e eu adorei ver como ela assumiu significados que eu não tinha previsto — a partir de uma perspectiva cultural diferente. É muito significativo para mim por essa construção coletiva diversa, porque cada pessoa envolvida traz sua própria bagagem e suas referências culturais.
Em tempos de IA e do trabalho criativo ser cada vez mais colocado em cheque, como você enxerga e lida com isso?
Vejo a IA como uma ferramenta, não como uma substituição. Mas, como criativo, acho que precisamos ter cuidado para que a cultura não se empobreça nesse processo. À medida que a IA cresce, a experiência humana se tornará mais valiosa na criação. Acredito que isso vai prevalecer.
Como é o seu processo criativo? Acontece mais durante o pré ou muito se dá também durante a direção?
Muita coisa acontece na pré-produção: pesquisa, moodboards, referências, construção de narrativas e o muitas conversas com todas as equipes envolvidas. No mundo ideal, todos já chegam super alinhados, visualizando um resultado parecido antes mesmo de entrar no set. Assim, quando começamos o shooting, podemos deixar as coisas fluírem e abrir espaço para a experimentação.
Tem uma dica ou até mesmo conselho para dar a um jovem que queira se aventurar na sua carreira e esteja começando agora?
Acha sua comunidade. Encontre pessoas com quem você ame colaborar e deixe a coisas crescer a partir daí.