Ali, no número 16 da Rua da Imprensa, no centro do Rio, Lenny Niemeyer marcou o retorno de seus desfiles ao Rio de Janeiro, cidade que a acolheu e fez dela uma das maiores referências nacionais do beachwear e, agora, do resortwear. A locação, por si só, já era um espetáculo: o Palácio Capanema, ícone do modernismo brasileiro idealizado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
O ponto de partida foi Inhotim, o parque-museu mineiro que é outra referência brasileira quando o assunto é arte. Conforme andávamos pelo espaço, olhando e absorvendo o entorno, tudo começava a se encaixar. E a confirmação veio logo na primeira entrada: uma camisaria desconstruída e sobreposta, sinal de que não seria um desfile banal. A assinatura do stylist Daniel Ueda estava em cada detalhe — ele, que já deixou de ser apenas colaborador, tornou-se parte vital da identidade atual da marca.
Assistindo, me peguei pensando: Lenny poderia ocupar um lugar confortável, acomodado, de quem já conquistou tudo. Mas não é esse o caso. Ela gosta de ser provocada — e de provocar. Prefere instigar, propor novas leituras para a moda praia. E cada vez mais deixa claro que não se limita a ela. Havia sobreposições, plissados, modelagens engenhosas que em muitos momentos nos fazem esquecer que ela é a rainha da moda sob o sol.
Se nos anos 1990 e 2000 se dizia que outras marcas eram para a areia e Lenny para a piscina, hoje essa definição se expande: Lenny é para todos os dias – ou os dias mais especiais. Pode incluir a praia, sim, mas não se restringe a ela. O desfile foi um laboratório de experimentações, em que os vestidos plissados se destacaram ainda mais que os de malha — embora estes cumprissem bem o papel de lembrar que a mulher idealizada por Niemeyer gosta de ser vista e ter suas formas valorizadas.
O que fica evidente é o movimento em direção às modelagens boxy, que se tornaram quase onipresentes. Vestir e despir na mesma proporção: eis a mulher de Lenny agora.
Review por Vinicius Alencar