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    O que acontece quando literatura e a filosofia encontram a moda?

    Alguns exemplos que transportaram as páginas para as passarelas.

    O que acontece quando literatura e a filosofia encontram a moda?

    Alguns exemplos que transportaram as páginas para as passarelas.

    POR Vinicius Alencar

    Se a moda é capaz de criar personagens, a literatura, por sua vez, sempre foi uma fonte inesgotável de mundos a serem encenados. Alguns desfiles não apenas citam livros ou autores: eles os traduzem em atmosfera, textura e silhueta. Ao longo das décadas, estilistas encontraram na ficção, na poesia e até na filosofia pontos de partida para narrarem suas próprias histórias.

    Foi Saint Laurent quem me apresentou Madame Bovary de Flaubert e Clô Orozco quem me fez procurar há mais de duas décadas, ainda na minha adolescência, a origem de Huis Clos.

    Da Marchesa Casati a Jorge Amado, da poesia de Poe ao modernismo brasileiro, a moda prova que também sabe ler. E quando lê, não apenas cita: traduz, encena, expande. Cada coleção inspirada em livros é um capítulo novo — escrito não em papel, mas em imagens tão inesquecíveis quanto.

    A figura da Marchesa Casati, imortalizada na biografia de Scot D. Ryersson, serviu de musa para John Galliano em seu verão 1998. A personagem excêntrica, conhecida por sua teatralidade, encarnou no desfile a ideia de vida como espetáculo.

    O gótico romântico também encontrou na moda terreno fértil. Inspiradas tanto em Drácula, de Bram Stoker, quanto no cinema, as irmãs Rodarte apresentaram um inverno 2020 visceral, em que o horror se tornava poético.

    Jonathan Anderson, por sua vez, nunca escondeu sua devoção aos livros. O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, já aparece em seu trabalho desde que estava na Loewe, algo que promete permanecer na Dior – as totes com diferentes títulos são exemplo claro disso. 

    Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, ganhou reinterpretações nada óbvias em Vivienne Westwood e Alexander McQueen: ambos revelaram a potência surrealista e anárquica da narrativa, longe de qualquer infantilização.

    A tensão entre inocência e perversidade, presente em Lolita, de Vladimir Nabokov, foi explorada pela Miu Miu. Nos desfiles e campanhas da segunda marca de Miuccia Prada, o sexy e o pudor sempre caminharam juntos, em constante provocação.

    Histórias também atravessam a alfaiataria de Thom Browne. Seja a poesia delicada de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, ou a densidade sombria de O Corvo, de Edgar Allan Poe, o estilista reconstrói narrativas literárias através de seus próprios códigos visuais e rituais de encenação.

    Literatura brasileira

    No Brasil, Ronaldo Fraga fez de Macunaíma e outras obras de Mário de Andrade manifestos de modernismo em moda — onde memória, cor e identidade se tornaram elementos estruturais.

    Helo Rocha revisitou Ariano Suassuna, traduzindo o romanceiro popular nordestino em rendas e bordados barrocos, enquanto a Fórum deu corpo ao tropicalismo sensual de Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado.

    A literatura também batizou marcas. Clô Orozco buscou em Huis Clos, peça existencialista de Jean-Paul Sartre, o nome de sua etiqueta, que por si só já refletia elegância e introspecção.

    E, numa chave filosófica, Rafaella Caniello tem em Schopenhauer um interlocutor constante: da estreia ao mais recente desfile da Neriage, o pensamento do autor alemão orienta formas, dobras e interpretações do tempo.

    Em outro gesto de resgate cultural, a Normando levou às passarelas Chove nos Campos de Cachoeira, de Dalcídio Jurandir, dando visibilidade à literatura amazônica e suas camadas de lirismo e crítica social.

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