Luz, Câmera e Close: Como Marlon Brambilla se tornou o Videomaker favorito da Moda
Luz, Câmera e Close: Como Marlon Brambilla se tornou o Videomaker favorito da Moda
No backstage muitos sabem que Marlon Brambilla é um nome não apenas familiar, como decisivo quando o assunto é criação de conteúdo. Silvia Braz, Sabrina Sato, Ivete Sangalo e todo um sortimento de atrizes, influencers, cantoras e apresentadoras procuram o seu trabalho e olhar pessoal para se comunicarem em tempos em que quase todos querem falar e poucos são aqueles que conseguem parar, enxergar e ouvir. “Foi com Sabrina a primeira vez que me senti diretor de verdade”, relembra.
É quase impossível não dizer que nos conhecemos em 2013, quando ele se mudou para o edifício Copan, no centro de São Paulo. Era outro tempo – e, como tudo que Marlon toca, havia uma atmosfera de imagem em movimento. Desde então, acompanho de perto e, confesso dizer, que de forma íntima, a trajetória de um dos profissionais mais inquietos e generosos do audiovisual brasileiro.
De Maringá à fundação do Carne (espaço múltiplo de criação e recém-inaugurado próximo ao bairro de Higienópolis), ele construiu uma linguagem própria que transita entre o editorial e o publicitário, entre o bastão de LED e a câmera na mão, entre a espontaneidade e o controle total da direção. Vê-lo em ação é quase uma performance, o que faz sentido quando o conhecemos e entendemos (ou quase) a sua personalidade.
Marlon começou a trabalhar aos 13 anos, como assistente de uma advogada chamada Viviane. Até então, seu prazer maior eram os dias em que podia ir ao fórum da sua cidade natal, com gel no cabelo e gravata. Logo depois foi professor de inglês da rede Fisk, até que chegou a São Paulo no dia 29 de janeiro de 2009, tendo nas mãos uma inscrição no curso de publicidade da faculdade ESPM, onde havia conseguido bolsa, além de “um lenço de zebra e uma mala cheia de shortinhos”.
Nesta conversa, ele relembra o início, fala sobre suas obsessões visuais e compartilha como o desejo de fazer se transformou em método, ofício e negócio (cujo investimento foi de 1.5 milhão de reais, sem nenhum investidor por trás) – e, principalmente, sem perder o suor, o improviso e a paixão que sempre estiveram ali.
Marlon, antes de tudo: como você descreveria o que você faz hoje?
É sempre difícil definir em uma palavra só. Mas acho que, essencialmente, sou um videomaker. Gosto dessa palavra porque, quando comecei, ela ainda não existia como profissão do jeito que conhecemos hoje. O videomaker é quem faz tudo: cria, dirige, monta a luz, grava, edita, finaliza, publica. É uma figura completa do audiovisual. E eu me reconheço muito nesse lugar.
Hoje, essa palavra parece ter ganhado um certo desprezo — como se fosse menor que ‘diretor’. Mas quero deixar claro: sou videomaker, sim. Mas também sou diretor. Ou talvez o contrário: um diretor que é, sobretudo, videomaker. Amo roteirizar, criar imagens, fotografar. Como naquele meme: “queria ter um cargo fictício tipo ‘creative director’”. Mas no fundo, sou criador e executor de imagem.
Quando você percebeu que queria transformar isso em um negócio próprio?
Foi quando virei freelancer. De repente, eu era também atendimento, comercial, financeiro. Fazia orçamento, nota fiscal, reunião… tudo. E percebi que esse lado também fazia parte do fazer. Daí nasceu o Carne. Antes mesmo de ser um estúdio, ele já existia como desejo — em algumas camisetas que vendi no Minhocão, nos manequins que comprei ao longo dos anos, nos livros que li, nas conversas com Clarissa, que editava meus vídeos, e com a Lucia, amiga de mais de 15 anos, uma super produtora com passagem pela Globo.
Trabalhar com outras pessoas mudou tudo. Quando você está sozinho, vai até um ponto. Para ir além, precisa de troca. O Carne nasce disso: de um laboratório que virou espaço, e de um espaço que virou estúdio, lugar de troca, improviso, sem ter que se definir para ser propriamente algo.
E quando você sentiu que estava desenvolvendo uma linguagem própria?
Foi com a Sabrina. A gente se juntava para fazer vídeos curtos dos looks dela — antes de stories, IGTV, reels… A gente cortava quadrado para caber no feed. Eu tinha uma câmera e um bastão de luz, gostava de juntar o movimento do corpo com o rastro da luz. A linguagem nasceu ali, espontaneamente, quase como uma performance física. Hoje reconheço: bastão numa mão, câmera na outra. Isso virou uma marca — se não uma linguagem, pelo menos uma assinatura.
Teve um trabalho em que você sentiu: “ok, isso aqui é só meu”?
A primeira vez que a Sabrina me chamou para fazer o projeto de Carnaval dela. Ela tinha acabado de ter a Zoe, ainda amamentando. Era uma diária intensa com vários looks, várias histórias. E ela me deu liberdade total, contanto que estivesse linda. Foi a primeira vez que me senti diretor de verdade. Estúdio, equipe, beleza com Henrique Martins e Krisna, Fernando Thomaz fotografando… A gente postou no mesmo dia. E ali eu entendi o meu lugar: contar histórias em imagem, com ritmo, emoção e afeto.
Por que esse nome: Carne?
A palavra “corte” sempre me marcou no audiovisual. E a carne vem do que está por baixo da pele, do que é vivo, pulsante, visceral. Queria algo que falasse de profundidade, de presença, de verdade. Carne é isso. Um corte que toca o fundo. Uma imagem que atravessa.
Como você equilibra o Marlon artista com o Marlon empresário?
Não domino. Odeio a parte burocrática. Tenho dificuldade com o financeiro, jurídico, contratos. Às vezes paro tudo para escrever com delicadeza, e aí vem uma planilha. Mas sigo. Voltei a criar de madrugada, quando o mundo silencia. Nunca tive uma estratégia de carreira, tipo “com 35 vou ser VP”. Faço as coisas conforme a vida me chama. A Carne é isso também: nasceu sem planejamento excessivo, vi o espaço, aluguei, reformei. Agora está pronto. E quero que ele seja usado, sentido, vivido.
Que tipo de experiências você quer oferecer com o Carne?
Além de produtora, a gente criou um espaço físico — e quero que ele seja um lugar de estranhamento. Nada de aula com PPT. Quero workshops, cursos (que em breve serão anunciados), encontros presenciais. Um lugar que provoque. Que faça as pessoas se mexerem. Que misture cozinha com criação, banheiro com brainstorm. Quero ver como as pessoas vão usar o Carne. Esse espaço é uma experiência.
Do feed à televisão, você navega por muitas plataformas. Como lida com o conteúdo hoje?
“Conteúdo” virou uma palavra meio esquisita. Tudo é conteúdo. Ou nada é. Mas lá atrás, na Chilli Beans, quando me chamaram para fazer fotos de fundo branco, já sabiam que queriam um millennial. O tal do “conteúdo” era só Facebook — mas ali comecei a contar histórias. A publicidade, para mim, sempre foi linguagem. O conteúdo pode ser editorial. Pode ser entretenimento. E pode vender também — mas não precisa parecer só um comercial.
Como foi sair da Chilli Beans para seguir carreira solo?
Tinha muito medo. Não tinha câmera profissional. Mas não queria mais perder quatro horas no ônibus para Alphaville. Pedi para ser mandado embora, usei o FGTS para comprar meu equipamento. Foi então que o Caito Maia, fundador da Chlli, me disse: “se você abrir a sua produtora, faço questão de ser seu primeiro cliente.” E até hoje trabalhamos juntos.
Quais nomes e trabalhos marcaram seu percurso?
Isis Valverde foi a primeira atriz que me marcou. Com a Juliana Paes, fizemos a capa da Vogue em 2021, na Bahia. Foi uma realização. Com a Maísa é diferente, ela tem o tempo e a escuta. Com a Ivete, foi pessoal: ela tem um senso de propósito enorme, se importa com o que entrega, não com a vaidade. São pessoas que me lembram por que faço o que faço.
Como foi a construção da sua relação com Silvia Braz?
Começamos em Paris, em uma semana de moda. Fomos aprendendo a contar histórias juntos. Silvia é curiosa, não tem medo de experimentar, nem a preocupação de algo engajar pouco. A gente se provoca, se renova. Já fizemos entrevistas com Jojo Todynho, Bruno Astuto, Sabrina… criamos um reality, depois um formato informativo. Foi tudo intuitivo. Gosto disso.
E para quem está começando, qual conselho você deixaria?
Use PREP [risos]. Use o que você tem. Faça o que puder, com o que estiver à mão. E poste. Posta e sai correndo. O importante é fazer.