Versalhes, os salões de alta-costura, croissants, cadeiras Luís XV… “A Cesta de Morangos Selvagens” de Jean Siméon Chardin enviada pelo Louvre para decorar o desfile. Imagens sedutoras e fragmentos da indulgência francesa que seduziu e segue seduzindo o mundo. Todas elas estavam na estreia histórica dessa manhã, em Paris, de Jonathan Anderson na Dior.
Jonathan nasceu em 1984 e sua infância e adolescência foi marcada por uma mídia e cultura britânica que era fascinada – ainda mais – pela família real inglesa. Ao ver as primeiras bermudas cargos, golas propositalmente desarrumadas e gravatas entreabertas, a imagem de Harry e William e aquele vestir meio preppy dos anos 1990 logo me veio à mente. É a forma dele de unir suas referências pessoais com uma das maiores marcas do imaginário francês.
Vale lembrar ainda que a icônica bolsa Lady Dior foi feita, inclusive, em homenagem a Lady Di, então tem sentido essa linha de raciocínio. E se na sua marca própria Jonathan inventa – literalmente – e na Loewe ele criou todo um vocabulário, aqui, na Dior, é a primeira vez que vemos como ele trabalha com legado – e isso, como sabemos, a Dior tem de sobra.
No primeiro look sua assinatura já de cara: a brincadeira do gênero com as ancas emprestadas do New Look de 1947. Ele trouxe ainda os cinzas, afinal todas as nuances do tom sempre foram códigos da linha masculina desde o seu surgimento. Capas, suéteres, golas dramáticas, meio um Rimbaud moderno. Todo o romantismo da figura displicente e sofisticada do ideal francês.
Jonathan sabe que os jovens são obcecados pelo old money, então há ali essa imagem polida, mas o melhor vem do seu lado rebelde e experimental: as bermudas cargo feitas com mil camadas que se tornam quase calças ultra volumosas – ninguém melhor do que ele hoje redesenha silhuetas. Lembra garotos que parecem estar voltando das aulas de piano meio tenores desgrenhados, lembra um jovem Basquiat e lembra também o frescor universal do que é ser jovem. Uma estreia segura, bem segura, mas nem por isso menos bela.