Curioso pensar que, ao lançar a linha masculina em 1969, Yves Saint Laurent bravejou: “Vou deixar para a concorrência criar ternos chatos para homens chatos.” O estilista era jovem, e o mundo, como sabemos, era outro. Quase 60 anos depois, os ternos continuam lá — mais uma vez, na passarela da marca. Mas calma: Anthony Vaccarello não pesou tanto a mão.
O primeiro look, composto por uma camisa açafrão e microshorts marrom com barra italiana, já revela esse desejo de leveza que o verão naturalmente pede — embora o perfume corp ainda esteja presente. É curioso notar como a imagem do homem Saint Laurent sempre se entrelaçou ao estilo pessoal do próprio Yves.
Após longas horas no ateliê, ele também colocava a gravata para dentro da camisa — como mostram tantas imagens de backstage dos anos 1980 e 1990, quando o terno passou a ser seu uniforme. Mas já é hora de deixar um pouco de lado a formalidade, o corp, a estética de Wall Street e do Psicopata Americano… Aqui, as mangas estão arregaçadas e a calça clochard surge como um gesto quase rebelde dentro de uma silhueta recentemente ultra enrijecida.
Os ombros perderam a rigidez escultural, dando lugar a uma certa fluidez — visível nas camisas e blazers acetinados, molengos, que escorregam pelo corpo. Assim como no nylon finíssimo e semi transparente, algo novo no vocabulário YSL. A cartela de cores não surpreende: foi praticamente emprestada do último desfile feminino (não é preciso forçar muito a memória), mas ainda assim funciona. Há um desejo de levar a vida menos a sério — e a rotina, menos estafante.
Vaccarello sabe que a linha entre legado e repetição é tênue. Por isso, espera-se que os ares de mudança comecem a soprar, ao menos, na próxima estação pois os números vão cobrar. As vendas da marca caíram 8% no primeiro trimestre do ano, em meio à desaceleração do consumo de luxo. Logo, a pressão por novidades que façam os clientes abrirem as carteiras deve aumentar.