A reinvenção pop de Addison Rae
A trajetória da ex-TikToker que virou símbolo de uma geração.
A reinvenção pop de Addison Rae
A trajetória da ex-TikToker que virou símbolo de uma geração.
Addison Rae passou de fenômeno do TikTok a nome cult no pop com uma habilidade rara: fazer do algoritmo o trampolim, e não destino final. Depois de anos sendo reduzida a vídeos virais e dancinhas coreografadas, ela se reinventa com ‘‘Addison’’, seu primeiro álbum, lançado hoje (06.06), – um disco que mistura a estética Y2K com vocais etéreos e uma presença física que nunca deixou de ser o centro de sua carreira. É o tipo de estreia que não só surpreende como também encerra um ciclo, elevando Rae a um novo patamar do pop atual.
A repórter de moda e cultura da FFW, Laura Budin, faz uma análise sobre essa transformação, destacando a estética, o impacto visual e a construção da identidade pop de Addison – uma jornada que vai muito além dos 15 segundos do TikTok.
Por que Addison Rae é a musa pop da nova geração
Se tem algo que diferencia Addison Rae das outras it-girls do TikTok é a maneira como ela virou fetiche cultural – meio piada, meio ícone – e se apropriou disso com um certo grau de consciência estética. A primeira vez que gravadoras se aproximaram dela foi pagando 20 dólares por vídeo no TikTok, como revelou o The New York Times.
Hoje, Addison desfila como uma popstar maximalista que entende o zeitgeist: seus clipes parecem fanfics visuais com gloss, lágrima, corpo suado e poses que misturam a libido de Britney à melancolia de Lana Del Rey. Seu som remete ao Y2K, mas sem depender da fórmula: ela inverte os clichês, canta com doçura sobre obsessão, se filma sensualizando de forma quase cartunesca, exagerada – tudo com uma estética lo-fi que flerta com o pastiche.
Addison virou símbolo de uma nova sensibilidade pop: feminina, autoparódica, emocional e visualmente obcecada – uma it-girl de mentira que acabou se tornando real demais.
O primeiro álbum de Addison

Lançado nesta sexta-feira (06.06), ‘‘Addison’’ marca a estreia oficial de Addison Rae como artista pop com um álbum autoral e majoritariamente feminino em sua concepção. Produzido por Luka Kloser e Elvira Anderfjärd – que também assinam a coautoria das 12 faixas ao lado de Rae -, o disco é uma ode ao pop etéreo e nostálgico, com influências diretas de ‘‘Ray of Light’’, de Madonna, e construído sobre a base do icônico sintetizador Korg M1.
Gravado entre Los Angeles, Nova York e o QG sueco de Max Martin, ‘‘Addison’’ soa como um manifesto visual e sonoro de uma artista que, ao contrário do que muitos esperavam, tem controle total sobre sua narrativa. Apesar de lançado com um ar de ‘‘primeiro e último álbum’’ – como sugere o site oficial da cantora -, o projeto parece mais um recomeço do que uma despedida.
Faixas como ‘‘Fame Is a Gun’’, ‘‘Money Is Everything’’, ‘‘Summer Forever’’ e ‘‘Times Like These’’ se destacam por unir ironia, vulnerabilidade e ambição pop em camadas dançantes e confessionais. Ao abrir mão de feats e apostar em interlúdios como parte da narrativa, Addison entrega um debut coeso, autoconsciente e absurdamente pop.
Dara Allen e o styling como narrativa
Se ‘‘Addison’’ soa como um revival pop emocional e autoconsciente, o visual acompanha – e grande parte disso vem da parceria com Dara Allen, stylist e editora de moda da Interview Magazine, que também assina o styling de Hunter Schafer. Juntas, Dara e Addison criaram uma imagem que flerta com o Y2K, mas mergulha mesmo no Tumblr de 2010, numa mistura de erotismo doce, nostalgia e teatralidade adolescente. Não é apenas uma releitura de tendências, mas um uso quase afetivo delas: como se Addison fosse uma cápsula do tempo ambulante, atualizando estéticas que a internet já declarou mortas.
Dara assinou o styling de videoclipes como ‘‘Fame is a Gun’’ e ‘‘Headphones On’’, além da própria capa do álbum de estreia – um visual que mistura bullet bras, meias-calças rasgadas, microvestidos brilhantes e referências sutis à cultura pop dos anos 2000. É uma relação recente, já que a carreira de Addison na música também é, mas talvez uma das decisões mais certeiras da artista: ter ao seu lado alguém que entende o poder simbólico do styling e sabe como transformar looks em linguagem.
Pop em película
Os videoclipes da nova era de Addison Rae são um mergulho cinematográfico na construção de uma popstar com vocação para ícone cult. Em ‘‘Times Like These’’, dirigido por Ethan James Green – fotógrafo de moda responsável também pela capa do álbum Addison -, a estética é de editorial de revista, com luz suave, sensualidade contida e uma aura melancólica que apresenta Addison como musa introspectiva.
Já em ‘‘Diet Pepsi’’ e no viral ‘‘Aquamarine’’, o diretor Sean Price Williams (de The Sweet East) transforma a cantora em personagem de um filme alternativo dos anos 60, com referências a Russ Meyer, Carly Simon e ao estilo Direct Cinema, em takes frenéticos, quase crus, que flertam com o kitsch e o sublime.
Por fim, os vídeos de ‘‘Headphones On’’ e ‘‘High Fashion’’, dirigidos por Mitch Ryan, levam Addison a um universo de escapismo pop, como no clipe gravado na Islândia onde ela troca a realidade por cavalgadas tecnicolor e cabelos rosa neon.
Cada vídeo reforça uma faceta diferente dessa nova identidade visual da cantora – ora diva nostálgica, ora protagonista de um sonho estranho – mas sempre com a câmera girando em torno dela como se soubesse que está diante de uma estrela.