FFW
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade

    De Florianópolis ao Popload: conheça a banda Exclusive Os Cabides

    De ensaios caseiros em Floripa ao palco do Popload, a banda une referências visuais e afetivas em um som que é tão estranho quanto familiar.

    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides.

    De Florianópolis ao Popload: conheça a banda Exclusive Os Cabides

    De ensaios caseiros em Floripa ao palco do Popload, a banda une referências visuais e afetivas em um som que é tão estranho quanto familiar.

    POR Laura Budin

    Com um nome que nasceu de um meme familiar e um som que mistura garage rock, bruxaria, poesia e caos ensaiado, a Exclusive Os Cabides abre hoje (31.05) o festival Popload no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Formada em Florianópolis, a banda transita entre o descompromisso estético e o compromisso emocional com a música que faz – e isso se reflete tanto no álbum ‘‘Coisas Estranhas’’ quanto nas performances ao vivo.

    Em entrevista à repórter de moda e cultura Laura Budin (@laura.budin), o grupo compartilha processos, pensamentos e opiniões sobre a cena musical. No conteúdo, voltamos à origem curiosa do nome, destacamos faixas essenciais para entrar no universo da banda e acompanhamos a trajetória de um coletivo que, sem grandes pretensões, se tornou um dos nomes mais interessantes da nova cena alternativa.

    Quem são Exclusive Os Cabides?

    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides posando para foto em lente de peixe.
    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides.

    Exclusive Os Cabides é uma banda nascida entre primos e amigos em Florianópolis, onde sotaques viram piada interna e histórias de família se transformam em nome de grupo. Fundada por João Paulo Pretto, a banda cresceu do improviso dos primeiros ensaios para os palcos de festivais como o Popload. O som é rock, mas passa por muitas misturas – tanto nas influências visuais quanto nas letras e timbres – com uma estética caseira e verdadeira, fruto do próprio estúdio e dos processos manuais que cercam o grupo.

    Com humor, certa dose de descompromisso e um sentimento quase crônico de que ‘‘a ficha ainda não caiu’’, os Cabides fazem parte da nova geração que encara o underground como território real, feito nos shows e nos encontros. Tudo com um pé fincado em Floripa e outro girando em alguma rosa dos ventos emocional.

    Sobre o nome: ‘‘Exclusive’’ é de família

    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides sentados no sofá em foto meio indie sleaze com referências de cultura pop.
    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides.

    Nos anos 1980, o avô dos primos João e Antônio teve sua loja roubada em Floripa e, ao dar entrevista para a TV local, soltou sem querer um clássico instantâneo: ‘‘Roubaram tudo, exclusive os cabides’’, trocando o ‘‘inclusive’’ pelo ‘‘exclusive’’ no sotaque manezinho. A frase virou piada interna, virou apelido de infância e, anos depois, virou nome de banda. O ‘‘exclusive’’, que era erro, virou assinatura.

    Uma música para começar

    ‘‘Música Para Achar Bruxa’’ é o tipo de faixa que desenha um mapa sentimental com bússolas tortas e mares internos. A letra evoca imagens de um amor místico, quase ritualístico, com versos que falam de direção, feitiço e busca – como se a banda dissesse que, no fim, todo mundo está procurando alguém que saiba lidar com as marés. É uma boa porta de entrada para entender o espírito livre dos Cabides – música de pista, de palco, de brisa ou de ritual lunar.

    Um álbum para conhecer:

    Capa do álbum ''Coisas Estranhas'' da banda Exclusive Os Cabides.
    Capa do álbum ”Coisas Estranhas” da banda Exclusive Os Cabides.

    ‘‘Coisas Estranhas’’ é o primeiro álbum dos Cabides e funciona como uma espécie de diário bagunçado e sincero da banda. Lançado em 2024, o disco soa como se tivesse sido gravado entre uma ideia anotada no bloquinho e um ensaio na garagem – no melhor sentido possível. Com canções que misturam cotidiano e delírio, poesia simples e riffs carismáticos, o álbum tem a cara de quem cresceu ouvindo rock alternativo, mas sem nunca deixar de ser brasileiro.

    Ao longo das faixas, dá para sentir a espontaneidade que virou marca do grupo: uma entrega sem fórmulas, em que cada canção é quase um episódio da série pessoal que os Cabides vivem entre shows, rolês e o estúdio caseiro. É estranho no nome, mas é justamente isso que faz sentido.

    Bate-bola com Exclusive Os Cabides

    Última coisa que inspirou uma música?
    Um gol.
    Um meme que representa a banda?
    O Agostinho Carrara em qualquer situação.

    Um lugar ideal para ouvir Exclusive os Cabides?
    Praia.

    Quem da banda tem o melhor gosto duvidoso?
    Carol, bem metódica com seus miojos.

    Qual música da banda define 2025?
    AAAAAAAAA.

    Confira a entrevista completa abaixo:

    Como surgiu a Exclusive os Cabides? Qual foi o momento em que vocês perceberam que a banda era pra valer?
    A banda surgiu quando um amigo do João botou uma ‘‘pressãozinha’’ nele pra ele começar a tocar as músicas dele em público. João não gostava muito da ideia mas acabou cedendo porque curtiu muito fazer som em grupo e acabou que nessa brincadeira Os Cabides surgiram.

    Sobre ser para valer acho que nesses momentos de show grande em festival em cima do palco dá um sustinho e se percebe, seila desde a primeira vez que tocamos já dava para sentir que o som era muito massa mas sinceramente tudo anda tão corrido também que talvez a ficha não caiu por completo, mas sempre teve um que a mais de pra valer, mas uns descompromissos também, somos uma banda de rock querendo ou não rs.

    De onde veio esse nome? Tem uma história por trás?
    Antônio: De acordo com a nossa família (minha e do João, somos primos) eles contam que nos anos 1980 nosso avô tinha uma loja onde se vendia de tudo “desde edredom até paçoca” de acordo com um dos familiares… enfim, a loja foi roubada um certo dia, então a TV local foi até a loja fazer uma matéria sobre o acontecimento (minha mãe lembra de ver isso na televisão). Durante a entrevista, nosso avô lançou uma frase que se perpetuaria ao longo das gerações na família “fizeram um buraco atrás da loja, roubaram tudo, exclusive os cabides!!” com a intenção de se falar “inclusive os cabides” mas pelo sotaque manezinho (pessoas de floripa) ele puxou o X clássico dos nativos e acabou sendo muito engraçado pra quem viu a cena.

    Acabou que crescemos ouvindo o “exclusive” sendo usado nas frases toda vez que alguém fosse usar um “inclusive” seguido de uma risadinha sacana… daí botamos a banda com esse nome porque é um lance enraizado em nós desde pequenos, não tinha nome melhor pra colocarmos na banda dos primos plus amigos rockeiros.

    Como era a cena em Floripa quando vocês começaram? Vocês se sentiam parte de algum movimento ou estavam criando o próprio caminho?
    João: A cena era massa, nós tocavamos num bar chamado Taliesyn que era um bar de rock lá em floripa das antigas que todos podiam tocar, era muito acessível e formou muitas bandas legais. Hoje em dia tem muita banda legal como: Tapete Tapete, Centro Leste Auto Peças, Dirty Grills, Gol de Goleiro, Coentro, Verde Menta… sei lá tem várias, o lance do caminho a gente acho que fez nosso próprio mesmo com a ajuda de amigos e tal, a palavra movimento é muito forte na minha opinião. algo que vale ressaltar é que tem um documentário chamado “Aquela Mistura” do Fábio Bianchini que mostra a cena que nos antecede em floripa, vale ver.

    Quais artistas ou movimentos inspiram vocês, musical ou visualmente?
    João: Acho que nós somos uma mistureba muito louca, visualmente tem um pouco de todas as décadas mas acho que a galera dos anos 1970, 1980 era muito estileira. Visualmente, Daniel Johnston, Mark Gonzales e Basquiat são minhas refs eternas, acho que isso acaba interferindo a banda porque eu desenho vários cartazes e afins pra Exclusive e isso entra no nosso mundo visual e gera certo contraste com o som, na minha humilde opinião (risos).

    Como rola o processo de criação de vocês?
    João: Eu chego com as músicas, a gente ensaia e fica pronto, sem brincadeira é literalmente isso.

    O que mudou da primeira demo até o show que vocês vão fazer no Popload?
    João: Puts, muita, muita coisa, precisaria de muitas mesas de bar para deslanchar todo o assunto, mas o ponto principal talvez seja o público, acho que o público aumentou muito, o que é muito satisfatório de se ver.

    O que vocês querem que o público leve do show de vocês no Popload pensando que podem ter muitas pessoas que ainda não conhecem a banda e vão conhecer pelo festival?
    João: Quero que a galera assista o show tomando aquela cervejinha antes do almoço, a que bate bem e não fique no celular, fazendo isso aí é impossível não curtir. E leve seu bombojaco e sua touca porque faz 10 graus em São Paulo.

    Como vocês enxergam a cena musical brasileira atual? Sentem que tem espaço para bandas como vocês?
    Antônio: Enxergo a cena hoje como algo massa, muita banda jovem apareceu nos últimos anos (ou talvez eu tenha começado a prestar mais atenção nisso depois que fizemos uma banda rs) gosto de bandas que cantam em português e não tem vergonha de serem normais, sem forçação… é uma cena muito diversa né, eu particularmente sou do time das bandas indie que curtem rock.

    Sobre ter espaço na cena como uma banda como Os Cabides… Aparentemente sim, mas tendo ou não estamos aí rsrsrs nao a quem dite o que cabe ou não na cena, a partir do momento que você não desiste e continua com seu trabalho, em algum momento você acha um espaço com um público que gosta de você e um lugar que vai te aceitar e a coisa toda vai acontecer.

    A “cena” existe em todos os lugares, em Floripa tá cheio de banda massa da “cena” mas o circuito RJ e SP não olham nem falam muito da galera de lá, mas não é porque que eles não estão na “mídia” que eles não são uma peça fundamental da “cena” – odeio a palavra cena (risos).

    O underground tá mais vivo no digital ou ainda é nos rolês que tudo acontece?
    Maite: A gente bota fé que a força do underground está no off-line, nos shows e nos rolês. Com certeza é no mundo real que as coisas acontecem. É óbvio que as redes sociais e o streaming são ferramentas importantes, mas não substituem o poder das interações ao vivo.
    Antônio: Enquanto tiver uns maluco no palco fazendo o que sabem fazer e fazendo só porque eles tem que fazer porque eles precisam disso, o underground vai viver para sempre, espero que entendam (risos).

    Tem um som ou projeto que vocês ainda não conseguiram realizar e sonham em fazer?
    Antônio: Som que queremos fazer acho que pra sempre vai ter, temos muitas composições ainda pra se encaixar nos próximos álbuns das nossas vidas como Cabides, muitas mesmo. Sobre projetos queremos entrar nesse circuito de editais, conseguir viabilizar tour viajando na boa rsrsrs, temos nosso estúdio em casa que seria um projeto a se completar também. Quem sabe um dia a gente ganhe muito dinheiro com a banda, daí posso comprar o Figueirense Futebol Clube, tá aí um baita projeto trabalhoso pro futuro.

    O que vem depois do Popload? Tem disco novo, turnê, clipe… o que podem contar?
    Antônio: Estamos focando em tentar rodar mais por aí, tocar mais em cidades ainda não visitadas por nós e revisitar cidades onde se viu um público fiel. Clipe certamente vai acontecer mais uns, estamos com um no papel que está pra se desenrolar, recentemente lançamos um estilo karaokê da faixa “pilha eletrônica”. Disco novo acho que vamos deixar pra 2027 (risos) mas acreditem, já tem um rascunho muito bom aí na mão. Então basicamente depois do Popload é voltar pro dia dia e continuar fazendo o que a gente já faz.

    Como vocês veem a relação entre música independente e moda hoje? A banda tem essa proximidade com a moda?
    Antônio: Pô, nada mais legal que ir num show de uma banda com um som massa e o pessoal do palco estar naturalmente bem vestidos. Nos anos 1990 por exemplo, muita gente no palco dava aulas de roupagem…. mas cara no fim na real cada um tem que se vestir como se sente confortável mesmo, não tem regra né?

    No caso dos Cabides aqui, eu tenho uma marca de roupa chamada Wordly onde produzo umas peças desde 2016, hoje tenho também estúdio de costura (teiaaaaaaaaa) onde junto com meus amigos produzimos parte dos merchs dos Cabides e tenho muita amizade com outras pessoas do meio como Dismorfia, Kleos, Preux, Four Finguers. Gosto de moda, mas ao mesmo tempo eu odeio a moda, gosto de costurar, estampar, mas as vezes também eu só quero me divertir com meus amigos, e naturalmente aqui na nossa banda a gente acaba usando as nossas peças e dos amigos para compor visualmente no palco, acho que a ligação é essa.

    Não deixe de ver
    O retorno do grave: a nova geração redescobre o reggae e o dancehall
    Antônio dos Anjos (voz), João Paulo Pretto (voz e guitarra), Maitê Fontalva (baixo e voz), Carol Werutsky (bateria) e Eduardo Possa (baixo) da banda Exclusive Os Cabides posando para foto em grupo.
    De Florianópolis ao Popload: conheça a banda Exclusive Os Cabides
    Irmãs de Pau
    FFW Sounds: Irmãs de Pau apresentam sua Gambiarra Chic
    FFW Sounds: Samuel de Saboia canta o que antes só pintava
    Sombr: O novo nome do pop melancólico
    Lady Gaga chegou no Brasil: apague as luzes do aeroporto
    Lorde apresenta novo single de surpresa em praça de Nova York
    Os shows estão caríssimos. E agora?
    Superafim: O novo capítulo de Clara Lima e Adriano Cintra
    Rick Rubin: Quem é o nome por trás de discos históricos da música mundial