Com “Le Chouchou”, Jacquemus retorna à sua terra natal e como era de se esperar em versão megalomaníaca: barcos cruzavam o lago de Versalhes tendo apenas dois convidados cada – para uma marca que propõem uma linguagem tão democrática e acessível, é interessante observar essa estratégia de exclusividade, que fascina ao ponto de nem ser questionada.
Falando em estratégia, quem melhor do que Simon para chacoalhar a moda atual? Seus dotes como estilista até podem ser colocados em cheque em alguns momentos, mas o seu olhar marketeiro e sua veia para a comunicação são inquestionáveis, fazendo com que imagens se tornem virais, lançamentos objetos de desejo e furem a bolha – até quem não acompanha moda já se deparou com alguns dos seus feitos.
Voltando a “Le Chouchou” há uma tentativa de decodificar a realeza e recosturá-la a partir de suas referências – um período onde o conceito de moda era restrito à nobreza, então é interessante observar como ele propõe isso para o hoje de um modo envolvente, lírico e, claro, sexy, já que o sexy dá sempre um boost no quesito vendas.
Para quem acompanha o trabalho da marca, percebe-se que além da alfaiataria sinuosa que o tornou famoso, Simon olhou pros grafismos, pros poás que ama (a partir de imagens de um dos nomes mais carismáticos e famosos da realeza: Lady Di, nos anos 1980, como bem revelou seu moodboard), ainda apostou nos volumes (que há tempos não se arriscava) e também adicionou um clima boudoir com rendas e lingeries texturizadas em suas princesas contemporâneas. No masculino, lançou mão do cocoon em jaquetas e no underwear volumoso – um truque de styling que fez toda diferença à imagem final. Se sozinhas as roupas não arrancam tantos suspiros, com a mise en scene tudo faz mais sentido.