É possível adicionar trivialidade a sonhos excepcionais? Até que é… afinal toda realidade precisa de um pouco de sonho e todo sonho tem um pouco de realidade, esse raciocínio quase filosófico foi o que me veio a cabeça ao ver a primeira coleção de prêt-à-pôrter de Daniel Roseberry para a Schiaparelli.
Desde que o designer assumiu tínhamos tido apenas acesso a sua proposta mais superlativa para a marca. Com roupas-instalação beirando ao figurino, que arrancavam suspiros e, nos mais sensíveis, até arrepios de excitação. Sabíamos o que ele propunha para a festa do ano, para o sábado à noite, mas e para a segunda-feira, para o dia a dia?
A casualidade da Schiaparelli também é bem fantasiosa, segue com a cabeça nas nuvens. Os looks acolchoados (sim, eles estão por toda parte) quase entregam uma despretensão, a bolsa carregada pela base e não pela alça denuncia esse movimento, essa realidade – mesmo que milimetricamente pensada.
Sabemos que ela é fã das artes plásticas e sua relação surrealista é sabida, mas seu interesse por Matisse parece ter surgido: as peças com motivos e formas orgânicas são bem interessantes aparecendo em algumas das principais peças. Há até um look denim – mas arrematado por botões dourados ornamentais –, e um flerte discreto com o esportivo. Um real que ainda ecoa como surreal.