O desfile da Valentino trouxe algumas mudanças que vale a gente observar. Primeiro, a gente logo vê uma tentativa de cortar excessos e se aprofundar na pureza do design. Nesta coleção, chamada de Unboxing Valentino, Pier Paolo vai em direção ao minimalismo, que nada mais é do que a inteligência de falar muito com pouco, a expressão simples de pensamento complexo.
Então, no lugar das cores misturadas e grandes volumes, entram tons mais neutros como marrons, pretos, nudes e branco em looks monocromáticos e uma modelagem mais precisa, recortes e transparências que evocam o minimalismo sensual dos anos 90.
O que parece ser uma coleção mais comercial, menos extravagante ou sedutora, revela na verdade, um outro jeito de pensar. O minimalismo é um jeito de ocupar o mundo, você limpa, remove excessos, cria espaços vazios. E como diz o release: “esses espaços vazios não são falta de conteúdo”. Pensa num silêncio poderoso.
E de repente, no meio desse silêncio, entram uns gritos vermelho, rosa, azul, verde…
E a outra coisa importante desta coleção: um foco extra no monograma: a gente viu o logo Valentino ocupando looks inteiros, até a maquiagem, com o V repetido várias vezes causando um efeito óptico. E sabemos que logotipos de monograma são uma ótima maneira de construir identidade de marca e chamar atenção. Eu não sou muito fã da logomania, mas achei bem bonito o trabalho que eles fizeram com o logo.
Então vimos Minimalismo, Herança e Foco na Alfaiataria. E o que isso conta pra gente? Que a vida está complexa. E quando a vida está complexa, a gente tende a simplificar nas roupas e buscar por algo mais prático e descomplicado e a marca também precisa se apoiar no que tem de mais forte, sua história, sua herança e seu logo.
Pode ser que o minimalismo seja também um ponto de partida ou um lugar onde o designer – ou uma marca – pode voltar para recarregar e renovar. E mesmo nesse momento mais contido, o desfile ainda emociona.
No final, Pier Paolo e as 90 modelos saem do espaço levando o desfile para a rua de Paris. E tudo isso ao som da trilha assinada por Erykah Badu.