Angela Brito olhou para dentro para criar essa coleção. Com o nome Arquivo, ela revisitou questões familiares através de um arquivo de fotos feitas por seu pai. Ele não é fotógrafo - é advogado - mas tem um senso estético bem artístico com registros de família que poderiam muito bem estar em uma exposição. Ela escolheu algumas dessas imagens para reproduzir como estampas nas roupas, tudo em segredo, sem seu pai desconfiar. Além disso, ela também olhou para seu próprio acervo enquanto estilista e trouxe peças e ideias que ainda não haviam sido lançadas ou que foram reformuladas para esta coleção. Os acessórios foram feitos de garimpos de joias, num processo que durou meses de pesquisa. Talvez, se não fosse a pandemia ela não teria feito essa coleção. Tudo começou porque, pela primeira vez em mais de 20 anos, ela passou seis meses direto com seus pais, em sua cidade natal, Cabo Verde, o que a possibilitou reviver determinados lugares e histórias. Suas peças levam o luxo para um outro lugar, mais afetivo e sustentável. E esse desfile também acabou tendo um outro propósito: “Foi importante pra eu me situar e saber como continuar em 2022 porque na pandemia eu quase saí do mercado por falta de apoio”, ela me conta em uma conversa no backstage. Pela beleza e leveza de sua coleção - e pela reação da plateia - Angela Brito se mostra muito em forma e certamente ainda temos muitas histórias dela para apreciar. (Camila Yahn)