O desfile da Apartamento 03 arrancou lágrimas de muitas pessoas na plateia por simbolizar um momento de poética e sensibilidade no meio caos que é uma semana de moda.
Quem estava ali teve o privilégio de ver uma apresentação de João Butoh, maior nome da América Latina quando o assunto é o butoh, estilo de dança criado no pós-guera por Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata. Ao som da voz aveludada e melancólica de Antony Hogarty, João abriu o desfile convidando a todos a baixar a guarda, silenciar a mente e entrar naquela história.
Faz tempo que Luiz Claudio tem Kazuo Ohno no radar, mas ele não encontrava o momento certo de criar essa coleção a partir de uma referência de expressão tão forte e que lida com tantos símbolos ao mesmo tempo. Sobre a dança, ele falava: “não é preciso dançar no ritmo da música. O ritmo interior é mais importante”.
E talvez as coisas tenham mesmo seu tempo certo para acontecer, uma vez que esta foi a mais bela coleção já mostrada pela Apartamento. Luiz acha um novo lugar para a elegância, onde ela é requinte, poesia e beleza, mas não é esnobe.
O fotógrafo Emídio Luisi, que acompanhou Kazuo por muito tempo, cedeu três fotos do coreógrafo para serem usadas no desfile (elas não serão comercializadas). É linda a técnica que Luiz Claudio usou para mostrar a estampa - impressa em três camadas de tecido em vestidos e casacos, ela ganhava vida no caminhar das modelos.
Na coleção, a série de cinzas e pretos que abrem o desfile, simbolizam a transição das trevas para a luz. E na luz nós fomos arremessados até o fim da apresentação, com os gloriosos looks que encerram e sua fina sintonia entre a festa sportswear (com jaquetas e trenchs de design contemporâneo, porém construídos em materiais luxuosos).
Poucas pessoas conseguiriam deslocar uma expressão tão única como o butoh para uma passarela e sair bem sucedido. Luiz Claudio é uma delas. (Camila Yahn)




































Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite



































