Essa é a terceira vez que Fernando Miró pega um avião especialmente para apresentar a coleção da marca de moda masculina Mipinta no Projeto Estufa, o celeiro de novos talentos do SPFW. Há cerca de um ano, recebeu o convite para estrear no evento depois que o time de curadoria da semana de moda viu seu trabalho de formatura na La Cambre, conceituada escola de arquitetura e artes visuais da Bélgica, onde ele mora e ainda estuda. Virgil Abloh, diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton, também se impressionou, o que rendeu a Fernando um estágio na maison. As criações mostradas nesta temporada, portanto, trazem a experiência do que aprendeu com um dos nomes mais importantes da moda mundial hoje. "O momento da coleção é aquele do amanhecer, quando as pessoas estão saindo da festa enquanto a cidade está acordando. Pensei no que é mais significativo neste momento, e foi daí que vieram o grafismo e as cores da sinalização do trânsito, das listras da faixa de pedestre em preto e branco", conta Fernando. Um detalhe curioso:  uma das estilistas da marca, que é francesa, foi a responsável pela pesquisa da sinalização em São Paulo e ficou louca com a variedade que encontrou. A ideia desse encontro entre essas duas situações urbanas (o "pos-party" e início de um dia numa metrópole) foi tratada com um bem-vindo humor criativo. Nas roupas, o conceito é aplicado por meio de sobreposições de peças de ocasiões diferentes, como o shorts que aparece por baixo da calça de alfaiataria (que representa o trabalho), ou o casaqueto por cima do casaco maior. As sacolas de feira se transformaram em jaquetas e blusas. Na beleza, assinada por Helder Rodrigues, olheiras azuis e vermelhas foram feitas no modelo. Já o garoto que fechou o desfile tinha o rosto inteiro prateado. "São meninos livres, que sentiram vontade, então se pintaram para a festa", conta Helder. Uma imagem de moda experimental e sofisticada, que se, da maneira como se apresenta, pode ter peças nada convencionais e não tão fáceis de serem vestidas, também atende a um público masculino que hoje não se encontra nas grifes masculinas, além de ser um belo exercício que tem tudo para crescer. (CAROLINA VASONE)