A marca masculina Mipinta tem exatamente um mês e meio de existência. "Ela nasceu especialmente para o projeto Estufa. O convite surgiu a partir do meu desfile de formatura", conta Fernando Miró, que acaba de concluir o curso de estilismo e criação de moda na La Cambre, respeitada escola de arquitetura e artes visuais da Bélgica. A coleção de graduação rendeu também um convite para estagiar na Louis Vuitton masculina com o diretor criativo da marca, Virgil Abloh. É na maison francesa, em Paris, portanto, que Fernando trabalha desde setembro, e onde vai continuar seu exercício de criação de moda apresentado neste SPFW.
Para sua estreia no Estufa, o mineiro de 23 anos fez um desdobramento da sua aplaudida coleção de formatura da La Cambre. O ponto de partida foi uma reportagem que ele leu sobre uma faceta feminina do pai da aviação, Santos Dumont. Isso o inspirou a pensar no que as pessoas escondem dos outros e delas mesmas, o que o levou a fazer construções e colocar para fora partes escondidas da roupa, como o forro amarelo do blazer xadrez cinza, que floresceu em babados cheios de volume e acabamento de zíper esportivo, como se fosse a faceta exuberante e oposta da alfaiataria. Essa peça diz muito sobre toda a coleção e também sobre o conceito da Mipinta. O zíper esportivo, o volume e o material, náilon, da parte "escondida" do blazer remetem ao principal estudo do estilista para a coleção, que é o paraquedismo. "A La Cambre acredita que tudo pode virar roupa. Fui então estudar a estrutura do paraquedas para conhecer toda a sua estrutura e reinterpretá-la nos códigos do vestuário, em camisas, calças jaquetas", conta o designer. "O paraquedas também faz uma alusão à liberdade da nossa parte oculta."
Com uma cartela de cores viva, com laranjas, amarelos, mix de preto, branco e vermelho, e shapes oversized, volumosos e desafiadores, a moda da Mipinta quer trazer propostas masculinas não convencionais, mas com um objetivo muito claro em mente. "Quero criar uma moda extravagante para o homem, libertá-lo do seu guarda-roupa convencional sem usar, porém, os códigos femininos para isso." Um desejo que passa pela necessidade de quebrar padrões e preconceitos estabelecidos e reforçados atualmente em sociedades como a nossa. "Vestir-se já é uma manifestação política. Quando proponho um homem extravagante, ele já foge do conservadorismo, que na minha opinião é o principal problema do Brasil hoje." (CAROLINA VASONE)


















Foto: Zé Takahashi / Ag. FOTOSITE

















