Foto de Hedi Slimane de um letreiro “Youth”. Em português: “Juventude” ©Hedi Slimane
via @ErikaPalomino
Subiu ontem no blog de Hedi Slimane (e se espalhou pela rede) sua mais nova série, com um grupo de adolescentes ingleses de Manchester, integrantes de uma banda com um nome delicioso: Egyptian Hip Hop. Eles estão ainda no college, mas já chamaram a atenção dos semanários ingleses e, agora, do mundo, pelas mãos de Slimane, ex-estilista da Dior, o homem responsável pela calça skinny, pela valorização da silhueta magra, da androginia (voltando a falar dela), pela capa da Lady Gaga. And so on. Acaba de fazer 41 anos.
No silencioso site, batizado Hedi Slimane’s Diary, ele vai postando suas fotos. Que de hobby se transformaram em ocupação principal (pelo que parece, já que sua única entrevista em três anos foi em fevereiro para o Style.com, acho que já falamos disso aqui antes). Que invejável nível de despojamento (e de dinheiro, não?). Saiu do grupo Gucci quando Tom Ford entrou de sola na casa de Yves Saint Laurent, fez história na Dior Homme mas também vazou quando lhe foi gongada a vontade de fazer uma linha feminina (as mulheres mais incríveis de Paris queriam e já vestiam suas roupas). Permite-se morar onde quiser: Paris, Berlim, Nova York. Se diz desapegado, que não tem vontade de ter “uma casa” e mora perfeitamente em hotéis. Bons hotéis, claro.
Gradativamente, foi desenvolvendo um depuro em suas imagens fotográficas, criando um estilo. Karl Lagerfeld (que emagreceu 800 quilos somente para caber nas roupas do colega) diz que o que mais admira em Slimane é seu olhar para o moderno. Nas roupas, na música, no print. E que fica contente em poder lançar pela sua editora os livros de Slimane. Conheci Slimane uma noite em Nova York. Ele consegue ser mais tímido do que eu, não chega chegando, gosta de passar batido, o mais invisível possível. Bons observadores são assim.
Quem estranhou o adjetivo silencioso empregado no segundo parágrafo deste texto vai entender vendo as fotos. Elas tem uma contemplação, uma calma, um pouco de voyeurismo e admiração. Distanciamento e intimidade. Retratam em preto e branco jovens em shows de rock, festivais (Coachella, recentemente), parques. Olha para cima, para a arquitetura, com pegada geométrica quase ingénua, mas sempre bem enquadrada. Já fez móveis de linhas limpíssimas e em sua gestão na Dior fez de cada loja um oásis de design com nomes vindos da arte. Repetitivo? Também foi disso acusado na Dior. Ele não se importa e segue.
Na escolha de seus castings ou de seus objetos, também exerce curadoria. Foi assim com o The Drums e agora com os moleques do Egyptian Hip Hop (Nikc Delap, Alex Pierce, Alexander Hewett, Louis Stevenson Miller, produzidos por Sam Eastgate, do Late of the Pier). O som é fresco. Tem a energia da juventude que está no trabalho de Slimane como um todo. Algo que, como fotógrafo, o coloca na tradição de nomes como Larry Clark. Sem agulhas de heroína.
Slimane (que parece ter alguma ascendência brasileira, não sei direito) veio ao Brasil. Diz a lenda que na noite de 31 de dezembro ele pegou o avião no Rio de Janeiro de volta para a Europa. Para ver os fogos do alto.
