“A Pele que Habito”, novo filme de Pedro Almodóvar, entra em cartaz no Brasil nesta sexta (04.11) dando trabalho para as distribuidoras de cinema. Afinal, como classificar uma obra que mistura terror, suspense, drama, existencialismo e ficção científica, tudo embalado em um roteiro dos mais fartos quando o assunto são as adoradas reviravoltas do diretor espanhol? Nas palavras do próprio: “Por alguns meses eu pensei em fazer um filme mudo, em preto e branco, com legendas mostrando descrições e diálogos. E fazendo um tributo a Fritz Lang e Murnau. Depois de duvidar por meses, eu decidi ir pelo meu próprio caminho e me permitir ser levado pela intuição, afinal de contas, é o que eu sempre fiz, sem a sombra de maestros do gênero (entre outras razões porque eu não sei em que gênero esse filme se encaixa) e renunciando a minha própria memória cinematográfica. Eu só sabia que tinha que impor uma narrativa austera, livre de retórica visual e nem um pouco sangrenta, embora muito sangue tenha sido derramado nas elipses que não vemos. Não é a primeira vez que parto desta premissa antes das gravações, mas acho que “A Pele que Habito” é o filme com que eu cheguei mais perto disso”.
Não vamos entrar em detalhes sobre o roteiro da obra para não estragar nenhuma de suas (muitas) surpresas, mas, resumidamente, o longa conta a história do cirurgião plástico Robert Ledgard (Antonio Banderas), obcecado em criar uma pele artificial depois de perder a mulher, gravemente queimada em um acidente de automóvel. Entra então a personagem Vera (Elena Anaya), espécie de cobaia-prisioneira do cirurgião, que é vigiada e atendida 24 horas por dia por Marilia (Marisa Paredes). A frieza do personagem de Banderas dá o tom do filme, como por exemplo na cenografia, criada pelo próprio Almodóvar. Em entrevista à “Harper’s Bazaar”, ele afirmou: “Como a história que eu estou contando é extrema e over-the-top, o que eu queria é que os elementos visuais do filme fossem muito rígidos, muito austeros. Quer dizer, sou eu que pessoalmente faço todo a decoração, sozinho. Quase todos os móveis pertenciam a mim. Eu realmente queria criar uma atmosfera anti-séptica e muito clínica para a casa. Eu não queria nenhuma das coisas sangrentas porque achei que seria mais eficiente se fizéssemos assim”.
O figurino também vai contra o que se espera de uma obra de Almodóvar… e de Jean Paul Gaultier, que assina o “guarda-roupa” da personagem Vera, composto basicamente de segundas-peles que aderem completamente ao seu corpo, em tons neutros que dão a aparência de nudez à primeira vista. Um visual bem diferente das colaborações anteriores do estilista francês com o diretor espanhol: para “Kika”, de 1994, Gaultier criou os figurinos da personagem Andrea Scarface (Victoria Abril), uma personalidade da TV, vestindo-a “como se ela tivesse sido vítima de uma catástrofe, mas com um toque adicional de glamour”, de acordo com o pedido de Almodóvar. Já em “Má Educação”, responsável pelas roupas de Zahara (Gael Garcia Bernal), o estilista criou o provocador vestido longo reluzente que remetia às formas de um corpo feminino nu.
Assista ao trailer oficial de “A Pele que Habito”:
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