A galeria Firma Casa apresentou na terça-feira (28.02) a sua mais recente aposta em termos de arte e mobiliário: as criações do designer Martin Margiela. A exposição conta com as duas linhas já criadas pelo belga, uma em 2010 e a outra no final do ano passado, e estará disponível para visita até ao dia 28 de abril. Agora de rosto novo projetado pelos irmãos Campana e pelo estúdio de arquitetura SuperLimão, a galeria passa a ser a única representante da Maison Martin Margiela móveis.
Sonia Diniz, proprietária da galeria, explica a aposta feita nos móveis da Maison: “Martin Margiela é um estilista cool e interessante e o Brasil gosta disso. É a primeira vez que está sendo vendido Martin Margiela no Brasil. Nem a parte de roupa era vendida e muito menos a linha casa porque é nova. Então acho que vai ter muito boa aceitação”.
Martin Margiela, designer que já trabalhou para nomes como Jean Paul Gautier e Hermès, é conhecido pela sua postura low profile — ele raramente aparece em público. As suas criações excêntricas e inovadoras, mas com um apelo minimalista, desde o começo apresentavam braços longos e desproporcionais, costuras grandes e visíveis, e pretendiam atuar como uma revolta ao mundo do luxo. Outra característica era o uso de códigos próprios: as etiquetas da grife sequer carregavam o nome “Martin Margiela”, e eram identificadas com números do 0 ao 23, conforme o tipo de produto. O nome da marca só passou a ser identificado em etiquetas após a saída de Margiela.
Assim como as suas roupas, os seus móveis refletem a sua personalidade minimalista e discreta e respeitam o conceito da Maison: “O conceito dos moveis é Margiela. Eles foram todos pensados pelo Martin Margiela e desenvolvidos por Cerruti Baleri e o conceito dos moveis é exatamente o mesmo que você tem na roupa: o minimalismo e o processo surreal para enganar o olho” , explica o curador da galeria, Waldick Jatobá. Os sofás e poltronas, com design visivelmente minimalista em preto e branco, são complementados por mesas de centro com detalhes de surrealismo e por objetos decorativos — todos muito bem pensados.
O FFW conversou com Eduardo Dente, diretor criativo da Maison Martin Margiela, que explicou bem como essas tendências são traduzidas e pensadas para os moveis.
É a sua primeira vez no Brasil?
Não, eu sou argentino então há muito tempo passei umas férias no Brasil, inclusive em São Paulo. É muito bom estar aqui outra vez.
O que significa esta exposição em São Paulo para a Maison Martin Margiela?
Há quase 15 anos que trabalho para a Maison e tem sido maravilhoso. Para mim, esta exposição é um sinal de que o nome é já conhecido. Vocês (Brasil) estão crescendo rápido e têm coisas locais e ao mesmo tempo conectadas ao resto do mundo. Então talvez exista a possibilidade para que marcas europeias não tão conhecidas, como a Margiela, possam estar presentes em lugares pequenos com coleções pequenas, neste caso nós com móveis na Firma Casa e quem sabe na próxima vez com moda. Por que não?
Eu considero São Paulo como uma capital da moda, cultural, política e econômica do Brasil, onde muitas coisas acontecem. A energia investida neste tipo de projetos, para a nossa equipe é considerada um investimento na imagem. Ajuda a marca a crescer, para um mercado maior e acho que tem grandes chances. Vejo algumas pessoas fazendo perguntas e querendo saber mais… porque já conhecem um pouco a Margiela, então isso me deixa muito satisfeito com as oportunidades que podem surgir.
O que sentem ao unir moda com outro tipo de arte?
Não acha que são mais ou menos a mesma coisa? Todas são belas formas de arte. E é difícil criar beleza. Não é? É mais fácil quando se trabalha em equipe. As pessoas conversam, trocam ideias e chegamos juntos a uma conclusão daquilo que é belo. Depois tem o parceiro industrial que ajuda a desenvolver a sua ideia. E durante esse processo, a ideia pode mudar e se tornar outra coisa diferente.
Qual é a visão de beleza da Maison Martin Margiela?
Na companhia, a equipe criativa tem três serviços diferentes, Moda, Arquitetura e Design, e um grupo criativo de designers. E é diferente. Nós não passamos muito tempo pensando em conceitos e viajando. Por vezes, desta vez mais concretamente, criamos mobília como este sofá preto, já da segunda coleção. Eu falo para o Cerruti Baleri, “vamos fazer algo muito Martin Margiela, que é a mudança de formas e de tamanhos, mas vamos fazer em um tamanho abaixo do normal”. Então temos uma redução do tamanho. Dizer é muito fácil, mas quando você faz reduções de um sofá assim, tem que pensar como fazer algo que não seja para crianças e que cumpra a sua função.
Este, encontramos para servir de referência em um mercado de pulgas, e é um sofá feito para os navios, que tinha que ser menor, devido aos espaços reduzidos. Muitas vezes isso acontece. Os estilistas vão aos mercados (de pulgas), pegam determinadas peças que quase copiam, mas de uma forma mais moderna. Então se cria a ideia de réplica. Para mim é ótimo unir estes dois conceitos: tamanho reduzido e réplica. Se alguém olha, pode falar que é um tamanho menor do que devia ser para um sofá de duas pessoas, mas no entanto estamos aqui duas pessoas sentadas e não é essa a sensação. Na verdade, se você convida alguém para sua casa é porque o conhece, e porque tem alguma intimidade. E para isso, esta peça serve perfeitamente. Ela cumpre a sua função. E é desta forma que surge a maior parte das ideias e se desenvolvem os conceitos.
Sobre o Sofá Groupe:
Chama-se Groupe porque é um grupo. Quando abrimos a nossa primeira loja em Paris, ela era um desastre. A única vista boa era a de uma janela que dava para o Palais Royal. Então o Martin, perdão, Sr. Margiela, disse, “nós vamos fazer um lugar aqui que dê vista para esta janela. Vamos a um mercado de pulgas, pegamos sofás diferentes e unimos com um mesmo tecido. Mas temos que mostrar que esta unidade é propositada, com níveis e camadas”. Depois disso, quando criamos esta peça, Sr. Magiela pensou que poderia usar essa ideia mas para lhe dar um pouco mais de design. A ideia é de alguém que sai de férias ou pinta a casa e deixa um pano branco em cima dos móveis. Como é mais couture, usamos tecidos diferentes para formar o mesmo tecido branco. Então começamos com algodão, passamos pelo linho, uma mistura dos dois, e seda. Para o tornar industrial, usamos toda uma estrutura que o une e lhe dá estabilidade, e foi aí que entrou Cerruti Baleri.
Para mim, o mais importante é termos usado três formatos diferentes: um sofá estilo Club, uma poltrona Voltaire, e um tipo banco de café. A ideia é criar uma silhueta. A versão em preto foi criada para o mercado chinês, porque lá é muito ofensivo o branco. Significa luto. Mas acabou por resultar muito bem porque fica quase como a sombra deste.
Exposição Martin Margiela @ Firma Casa
De 28 de fevereiro a 28 de abril
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1487, São Paulo
Horário: 10h às 19h
Entrada Franca