SÃO PAULO, 10 de junho de 2010
Por André Rodrigues (@randreh) Se traçarmos uma linha do tempo onde constem as duas últimas temporadas (verão 2010 + inverno 2010), podemos dizer que o verão 2011 de Alexandre Herchcovitch é o giro completo num ciclo regido pelo domínio da técnica. Herchcovitch não precisa provar mais nada a ninguém. Tem apelo conceitual, tem sucesso comercial, tem ao seu lado um vortex criativo que atende pelo nome de Maurício Ianês. Mesmo assim, continua em busca de uma evolução constante no seu trabalho e, novamente ativando seu domínio sobre a técnica, exercita um primoroso trabalho como colorista. Diferente de todas as demais coleções, esta não foi criada a partir do tecido, da moulage, do corte e da costura: abstrata e expressionista, ela só pode ter sido criada a partir das cores. São as diferentes tonalidades que comandam, ordenam, mandam e desmandam nas formas superestruturadas dos vestidos, peças que ganham relevância máxima nas costas muitas vezes trabalhada numa complexidade de simetrias que aproxima Herchcovitch de um japonismo fora do comum. Para poucos e bons. Nos acetinados e nas armaduras existe uma nostalgia, uma vontade de se aninhar no seu verão 2010 (dos uniformes de futebol americano), mas Alexandre dá o passo adiante e sai de sua zona de conforto: os blocos de cores solitárias escondem modelagens meticulosamente trabalhadas, com muitos plissados, pences, pregas e dobraduras pesadas que são, na verdade, pura leveza. Uma etapa tétrica, onde cartelas de cores quadradas formam estampas nas roupas, vem para interromper as monocromias, e é seguida por splashes de tinta numa estamparia tipo paintball que já entra para a lista das melhores padronagens desta temporada. A beleza de Celso Kamura, que usou aerógrafos coloridos nos coques, e os sapatos de Alexandre Birman, que desafiavam a força gravitacional, arremataram os looks sempre curtos, acima dos joelhos (com exceção de quatro calças super adesivas e um macacão super fluido). O clímax surge com um tratamento de cores raramente atingido com sucesso: o degradê no mesmo tom e em tons diferentes, que pode ir do azul mais claro, passando pelo turquesa até o verde-limão, do roxo bem fechado ao vermelho-fogo, e do azul claro ao bege acetinado. No meio disso, a coleção tem um intervalo de três looks total black, num quase deboche do estilista para com a plateia, uma síntese poderosa que reafirma a plena capacitação técnica de Alexandre Herchcovitch para ocupar a posição de maior estilista brasileiro. Direção da marca: Alexandre Herchcovitch Diretor de casting: Roberta Marzolla Diretor do desfile: Roberta Marzolla Stylist: Maurício Ianês Make up & hair: Celso Kamura Trilha sonora: Max Blum Cenografia: Rossi