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    Entrevista: top stylist Daniel Ueda fala sobre criação e a aceleração de sua profissão
    Entrevista: top stylist Daniel Ueda fala sobre criação e a aceleração de sua profissão
    POR Redação

    Daniel Ueda montando o board de looks com a equipe da Espaço Fashion ©Reprodução Facebook

    Uptade: Essa entrevista foi concedida em 2010. Por abordar questões sobre a profissão de stylist que podem ser úteis aos jovens profissionais, aproveitamos a ocasião do aniversário de Ueda (07.01) para traze-la de volta à home, atualizada para o momento atual.

    “Sou super workaholic. Vida pessoal e trabalho se misturam sem distinção”, diz Daniel Ueda. O capricorniano de 39 anos, nascido no interior de São Paulo, está sempre ao lado dos personagens, projetos e marcas mais interessantes da moda brasileira. Na mais recente temporada, de Inverno 2014, Ueda assinou o styling de marcas como Triton, Ronaldo Fraga, Patricia Motta, Sacada, Colcci, Alessa, Espaço Fashion, Juliana Jabour, entre outras. Daniel também está na lista anual do FFW das 50 pessoas mais estilosas da moda brasileira. Veja a lista completa e com fotos aqui

    Em entrevista ao FFW, ele desmistifica a profissão de stylist, hoje uma das mais valorizadas do mercado de moda. “O trabalho é pesado. Não é só colocar pulseira e chapéu, é acompanhar o processo”, explica. Leia mais abaixo:

    Como tudo começou?

    Cresci no interior. Vim para São Paulo e fiz um curso de produção de moda na [faculdade] Anhembi Morumbi. Logo novinho, com uns 19 anos, arrumei um estágio na revista “Vogue”, como assistente do assistente do assistente. Fiquei lá quatro anos, mas fui assistente por sete anos anos, eu adorava. Você vai se moldando.

    Se moldando?

    Você experimenta, descobre o que gosta e o que não gosta, fica tudo mais claro. Foi muito importante pra mim. Fiquei sete anos da minha vida até começar a fazer os trabalhos sozinho e acho que isso conta bastante depois. Porque no final é um trabalho muito difícil, você precisa ter background, tudo é questionado: é preciso ter na ponta da língua a resposta para qualquer coisa. Hoje é diferente, o processo acelerou, as pessoas vão cortando caminhos. Mas no meu caso esse processo mais longo foi muito importante.

    Você acha bom que o processo tenha sido acelerado?

    Putz, eu não sei. A minha experiência é outra. Hoje as pessoas são muito antenadas. Já eu nunca tive pressa, nunca fui planejando nada, e sempre tive vontade de trabalhar com pessoas diferentes. Há pessoas que já nascem mais prontas. Eu sou super inseguro e achava que tinha muito a aprender. Ainda tenho, claro. Às vezes olho para algumas coisas que fiz e penso que poderia ter feito diferente.

    Qual é a sua auto-crítica mais constante?

    Eu tenho uma coisa de não olhar meus trabalhos depois de prontos. Sei que vou ficar com uma paranoia na cabeça, pensando que poderia ter feito melhor, e eu sempre acho que poderia ter feito melhor, mesmo que receba um elogio, que falem bem. É legal receber elogios, mas eu sempre volto a achar que poderia ter chegado mais longe.

    A sua herança oriental é presente de alguma maneira no seu trabalho?

    Não, não é. Meus pais nasceram o Brasil e meus avós morreram super cedo, então na verdade eu só fui aprender a comer comida japonesa [risos] em São Paulo. E não gosto! Não como peixe cru, não sei usar os pauzinhos [risos]. É engraçado porque quando fui pro Japão para fazer um editorial da revista “MAG!”, eu me enxerguei um pouco lá. Nas atitudes, na minha instrospecção. Mas não tenho essa coisa enraizada da cultura japonesa.

    Todo mundo associa o seu trabalho às sobreposições.

    As pessoas falam de sobreposição. O meu trabalho não é só isso, pelo contrário. Não sei se tem que existir esse rótulo. Há desfiles em que eu não faço sobreposição, vários stylists fazem. Nem fico pensando muito no que as pessoas pensam ou vão pensar. Se eu acredito, se eu gosto, se é o que fica bom, eu faço. Até porque não depende só de mim, tem muitas variáveis que influenciam o resultado final. Tem “n” coisas no meio que influenciam.

    Qual é a sua missão como stylist?

    É tentar amarrar as coisas da melhor maneira. Eu palpito junto com os estilistas desde o começo. Às vezes é limpar, às vezes não. Tem gente que acha que o trabalho do stylist é ir lá e colocar uma pulseira, um chapéu. Você participa do processo todo.

    Três momentos em desfiles com styling de Daniel Ueda no SPFW Inverno 2014: Triton, Colcci e Fernanda Yamamoto ©Agência Fotosite

    O que você busca num assistente?

    Essa é uma boa pergunta. Durante o processo com as marcas eu trabalho sozinho. Na semana de moda, de prova de roupa, é complicado. Tenho uma prova de roupa de manhã, edição à tarde e outra prova à noite. Tem que ter interesse por moda, gostar de moda, mas também se interessar por outras coisas. Hoje, só saber de moda não vale. Tem que ter disciplina, porque o trabalho é difícil. As pessoas têm uma outra ideia. A gente fica dezoito horas de pé num dia de trabalho. Trabalhei com pessoas que reclamavam de dor nas costas porque tinham que abaixar o tempo todo para amarrar sapatos das modelos. Ainda faço isso até hoje sem o menor problema. As minhas assistentes trabalham muito, às vezes fico admirado. Tem que querer muito.

    O estilista Lucas Nascimento (radicado em Londres, hoje no line-up da London Fashion Week) disse, em entrevista, que a sua presença é fundamental para o trabalho dele. Qual é a relação de vocês e o processo de trabalho?

    Nós somos amigos há muitos anos. Trabalhamos juntos quando ele fazia trabalhos para outras marcas, como a Coven. Ele morava em Londres e todo mundo falava “você tem que desfilar”, e ele queria, mas não sabia como. Vários amigos foram montando um projeto para apresentar para o Paulo Borges, que acabou resultando em dois desfiles do Fashion Rio (Inverno 2010 e Verão 2011).

    O que você mais admira no Lucas?

    Gosto da elegância do trabalho dele. Acompanho o processo desde o início, e ele faz o fio, faz o tecido. É um trabalho de pegar pequenos fios, juntar, experimentar e ver se tem caimento, se fica bonito, uma alquimia mesmo. Ele é uma pessoa de personalidade, engraçada, que tem senso de humor. Não gosto de gente que se leva muito a sério, que fica “oh, meu trabalho! Minha carreira!”. O Lucas faz bustiê de cortiça, pô! Uma mulher que usa bustiê de cortiça não se leva a sério. [risos]

    Quais outros stylists você admira?

    Muita gente. O César Fassina, com quem trabalhei. Gosto muito do trabalho do Pedro Salles, do Maurício Ianês, que já trabalhava com o Alexandre Herchcovitch quando eu era assistente. Tem o Thiago Ferraz, que foi assistente junto comigo, gosto muito dele. E admiro pessoas como o Paulo Martinez, ou o Giovanni Frasson, que são guerreiros, estão há tanto tempo trabalhando com isso.

    O que te inspira atualmente?

    É o cotidiano. Eu amo observar as pessoas. Se você quer me deixar feliz, é me deixar sentado em algum lugar o dia todo olhando ou ficar em algum lugar cheio de gente observando as pessoas. Não sou muito de falar, sou mais quieto. O cotidiano é muito rico, tenho muita sorte de, pelo trabalho que eu faço, conviver com muita gente diferente, pessoas talentosas, e no final você acaba trocando muito com as pessoas. Se você viaja dentro do Brasil, cada capital tem um jeito completamente diferente. Tudo isso me influencia. Sou muito curioso com tudo.

    Você ainda coleciona sneakers?

    Não, dei tudo. Desapeguei, não tenho mais nada. Cansei de colecionar roupas e usar somente as mesmas! Além de gastar uma grana, eu não usava. Passo tanto tempo montando looks e pensando em roupas que quando chego em casa não quero me montar, pensar no que funciona. Também pela coisa de comprar mais consciente. Ainda mais durante temporada de moda, em que acabo não dormindo. Só pego o que está limpo e pronto!

    Qual é o seu maior medo?

    Avião. Choro, agarro a pessoa ao lado… É um drama.

    E o maior medo durante um trabalho?

    Troca de roupa no desfile. Sempre prefiro quando o casting é gigante e completo, mas nem sempre o estilista tem grana pra isso. Então é preciso trocar, e nem sempre os modelos ficam tão arrumados quanto eu gostaria.

    Qual é a pergunta que você não aguenta mais ouvir?

    “Me fala sobre o styling desse desfile?” [risos]

    + Reveja o editorial com Rick Genest (o Zombie Boy) com styling de Dani Ueda na praia de Ipanema

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