CRio Festival 2012 trouxe ao Brasil o 9º Fórum Mundial de Criatividade ©Daniel Ayub/FFW

Do dia 21 a 25 de novembro, o Rio de Janeiro recebeu o 1º Festival Internacional da Criatividade no Pier Mauá, o CRio Festival 2012. Com um Fórum, uma Bienal de arte, workshops e reuniões de grupos colaborativos, o evento realizou uma programação de conteúdo e propostas dentro dos campos da arquitetura, urbanismo e design. Ao todo, mais de 60 convidados nacionais e internacionais ministraram palestras e workshops e participaram dos grupos de discussão dos últimos dois dias, no que foi chamado de CRio Redes – Urbanismo Colaborativo.

Winy Maas no CRio Festival 2012 e seu projeto “Vertical Jakarta – Peruri 88”, na Indonésia ©Daniel Ayub/FFW

No primeiro dia do Fórum, que foi a 9ª edição de um circuito que começou em Flanders, na Bélgica, Winy Maas, arquiteto holandês fundador do The Why Factory, levantou uma questão que foi tema de sua fala: “O que vem por aí?”. Enxergando a densidade populacional como o grande desafio do futuro, seus projetos focam estruturas verticais que se harmonizam com a cidade e sua paisagem. Um dos exemplos mais impressionantes é o “Vertical Jakarta – Peruri 88”, na Indonésia, um complexo de dez prédios sobrepostos entre mercados, farmácias, escritórios e áreas de lazer, que aproveitam recursos naturais do meio ambiente.

Mauro Munhoz explicou no CRio Festival 2012 sobre a reforma urbana que realizou em Paraty ©Daniel Ayub/FFW

Na mesma linha de reestruturação urbana, Mauro Munhoz – já entrevistado pelo FFW -, arquiteto criador da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty, diz que “não existe criatividade sem cultura, e vice-versa”, lembrando que a transformação de Paraty só aconteceu com a colaboração da população. A colaboração acabou se tornando o tema informal do evento e é o assunto de estudo de Michel Bauwens, fundador da P2P Foundation. Michel acredita que as pessoas podem produzir valores sem depender de empresas privadas ou de governos.

O primeiro dia de palestras encerrou com Cacá Diegues, o renomado diretor de “Tieta do Agreste” (1996), falando sobre a nova onda de filmes que fez surgir atores, diretores e produtores das favelas. Entre eles, estavam Cadu Barcellos, Wavá Novais e também Feijão, do grupo AfroReggae, que contaram suas experiências e dificuldades em mostrar ao mundo seu trabalho. “Minha mãe não olhou para mim quando nasci e disse ‘nasceu mais um diretor de cinema’”, disse Cadu durante o evento.

Um dos painéis do CRio Festival 2012 ©Daniel Ayub/FFW

Muitas outras atividades aconteceram paralelamente às palestras, como o 6º Rio Design Indústria, organizado pela FIRJAN, e o SENAI Moda Design, um encontro com órgãos do governo para discutir os rumos do mercado criativo no Rio de Janeiro e no Brasil. De acordo com Guilherme Mercês, gerente de estudos econômicos do sistema FIRJAN, a economia criativa representa 2,7% do PIB do país. Além disso, durante os dias 22 e 23, painéis de discussão foram formados na entrada do auditório do Fórum para apresentar experiências de trabalho e levantar questões acerca do futuro da educação, arquitetura, economia e empreendedorismo nas cidades. Entre os convidados estavam líderes de coletivos já conhecidos, como o Engage e Perestroika, membros das secretarias municipais de Urbanismo e também Ciência e Tecnologia, assim como representantes de institutos, museus e também dos distritos criativos da Dinamarca e Escócia.

Victor van der Chijs apresenta no CRio Festival seu projeto do Prada Foundation Museum Milano ©Daniel Ayub/FFW

O segundo dia de palestras do Fórum começou com um viés mais econômico e empresarial, com Victor van der Chijs, diretor do escritório de design OMA, na Holanda, falando sobre “como transformar a criatividade em um negócio viável”. Entre os diversos exemplos que usou, Victor mostrou a evolução da parceria da Prada com sua agência, que começou com o design e arquitetura das lojas, seguindo para uma aplicação de tecnologia de espelhos virtuais em seus provadores e depois assumindo as campanhas da marca e também a arquitetura e design das salas de desfiles. Seu projeto atual é a construção do Prada Foundation Museum Milano.

Eduardo Srur mostra um de seus desenho mais significativos para a evolução do seu processo criativo ©Daniel Ayub/FFW

Em seguida, Candy Chang apresentou projetos mais humanistas em relação à interação humana com a cidade, com exemplos de intervenções que realizou em espaços públicos no México, Chile e África do Sul, onde pessoas puderam escrever em muros uma continuação para frases como “Eu gostaria que isto fosse…”, “Eu quero … no meu bairro” e “Antes de morrer, eu quero…”. Eduardo Srur, artista paulistano, também seguiu esta linha com seus projetos de intervenção urbana “A Arte Salva”, “Sobrevivência” e “Caiaques”. Sobre sua instalação “touro bandido”, em que colocou um touro em cima de uma das vaquinhas da Cow Parade em São Paulo, Srur comenta que “a arte tem que trazer uma questão nova, provocar, nos tirar da zona de conforto”.

José Junior e Perfeito Fortuna conversam sobre o surgimento do Grupo AfroReggae no CRio Festival 2012 ©Daniel Ayub/FFW

Também buscando salvar com a arte, José Junior, fundador do Grupo AfroReggae, teve uma conversa com Perfeito Fortuna, mestre de cerimônias do CRio Festival e conhecido por ser o fundador do Circo Voador no Rio de Janeiro. José Junior comentou sobre a importância de seu grupo, que foca em propor uma alternativa artística aos jovens da favela. Lembrou também que seu trabalho precisa ser multiplicado, já que a qualquer momento a mídia pode se cansar de seu trabalho, mas a linha de produção em recuperar vidas não pode parar.

Nizan Guanaes conta suas experiências e o segredo de sua ascensão na Publicidade ©Daniel Ayub/FFW

No período da tarde, todo de branco, Nizan Guanaes comentou alguns dos segredos do seu sucesso e ressaltou que a “criatividade é que nem barriga tanquinho: tem que manter!”, ou seja, é preciso disciplina e também conhecimento. “Não adianta o cara querer ser redator, mas não saber português”. Além disso, Nizan comentou sobre a importância que a diferença de culturas e opiniões tem na criatividade, lembrando que este é um dos pontos mais fortes do Brasil.

Na mesma tarde, Arnoud Raskin emocionou o público com seu projeto “Happy Streetwise People”. Cansado de depender de doações para manter seu trabalho filantrópico, Arnoud criou sua próprio modelo econômico, já que estava antes “vendendo pobreza e pena como modelo de marketing”. Ao levar empresários e pessoas capazes de oferecer novas oportunidades aos jovens carentes, um modelo autossustentável foi criado. Além disso, ele também criou a “Mobile School”, uma escola móvel capaz de levar ferramentas de alfabetização e até uma espécie de MBA para comunidades carentes de conhecimento.

Vik Muniz encerrou a série de palestras do 9º Fórum Mundial de Criatividade no CRio Festival 2012 ©Daniel Ayub/FFW

Bastante popular pela indicação de “O Lixo Extraordinário” ao Oscar de melhor documentário, o artista brasileiro Vik Muniz foi escolhido para a palestra de encerramento do Fórum Mundial da Criatividade. Em sua palestra, ele contou como ser autodidata foi o grande diferencial em sua evolução na arte, lembrando que sua avó o ensinou a ler sozinho, da mesma maneira como ela aprendeu.

Tendo a participação de mais de 1000 pessoas por dia, sobre as próximas edições, Washington Fajardo, do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e um dos idealizadores do evento, declarou que o CRio Festival já faz parte do calendário da cidade.

CRio Redes – Urbanismo Colaborativo

No CRio Redes: um dos grupos colaborativos propondo novas soluções para os desafios da cidade ©Daniel Ayub/FFW

Durante o Fórum Mundial da Criatividade, os participantes do evento tiveram a chance de propor temas para a criação de grupos de discussão nos dias seguintes. Durante as manhãs, Lala Deheinzelin, organizadora do CRio Redes, convidou coletivos e grupos ativadores como o Fora do Eixo, Engage, Software Livre Brasileiro, Pipa, Future Media e outros para contar um pouco de suas experiências nesse universo de economia e cultura colaborativa. Após as apresentações e o almoço, os grupos foram formados e passaram os dias 24 e 25 evoluindo as ideias para uma apresentação final, mostrando os contatos que foram feitos e as ideias postas em prática.

Veja o vídeo com o resumo do que aconteceu nestes dois dias de CRio Redes:

2ª Bienal Mundial da Criatividade

A Bienal Mundial da Criatividade aconteceu de 21 a 25 de novembro, fazendo parte da agenda do CRio Festival 2012, com a participação de 17 artistas nacionais e internacionais e curadoria de Liana Brazil, da agência SuperUber. Confira algumas imagens das obras expostas: