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    Opinião vs. publicidade: a questão da ética nos blogs de moda
    Opinião vs. publicidade: a questão da ética nos blogs de moda
    POR Redação

    Os blogueiros Susie Lau, Rumi Neely, Bryan Boy, Hanneli Mustaparta e Elin Kling em desfile da semana de moda de Estocolmo — audiência cativa e público segmentado atraem anunciantes ©Reprodução

    Desde que os blogs de moda conquistaram seu lugar na internet, surgiram os debates a respeito de seu posicionamento. Podemos citar entre os principais temas a originalidade dos conteúdos,  ctrl c + ctrl v,  superexposição dos blogueiros, seu papel como críticos e formadores de opinião, a apologia ao consumismo, o espaço reservado a eles em semanas de moda, etc. E eis que surge a polêmica da vez: os blogs de moda e sua relação com a publicidade.

    A discussão faz sentido: os blogs sempre foram o “espaço livre”, lugar de opiniões sinceras e ligação direta com o público. Com a profissionalização do meio e exploração do espaço publicitário nos blogs, será que essa liberdade toda não estaria ameaçada diante de posts pagos, obrigações contratuais e interesses monetários? O FFW repercutiu o assunto com blogueiros, jornalistas e empresários da moda para estimular o debate.

    Profissionalização dos blogs

    A partir do momento em que os blogs se popularizaram e ganharam seguidores, as marcas farejaram uma oportunidade de atingir um público fiel e segmentado –- enquanto bloggers apreciaram a chance de ganhar dinheiro com seu trabalho. “Acho normal que uma mídia que ganha cada vez mais força gere dinheiro. Blog virou um trabalho pra muitas pessoas então é lógico que a coisa precisou monetizar”, afirma Lia Camargo, que recentemente deixou o cargo de editora do site da “Gloss” para se dedicar só ao seu blog Just Lia. Cris Guerra, do Hoje Vou Assim, compartilha a opinião: “Não vejo problema e não escondo que essa prática faz parte da lógica do blog. Até porque se isso não acontecesse, provavelmente o blog não poderia ter uma história tão longa. Acabei migrando da publicidade para a moda porque o meu trabalho foi sendo reconhecido pelo público e me mostrou que eu tinha competência para estar neste mercado. E só dessa forma, sendo remunerada, pude continuar fazendo o blog”.

    O apelo publicitário

    As atuais blogueiras — e blogueiro — do F*Hits de Alice Ferraz ©Divulgação

    Para quem duvida da força desta plataforma como espaço publicitário, a criação do F*Hits, empreendimento de Alice Ferraz em parceria com o grupo RBS, é de abrir os olhos. Trata-se de um projeto que reúne blogs de moda escolhidos pela própria Alice (por audiência, conteúdo e público-alvo, entre outros fatores), e que tem como finalidade “proporcionar para seus anunciantes impacto no público certo, com total relevância, e retorno imediato de investimento sobre suas campanhas, produtos e ações” (como descrito no site oficial)

    Alice Ferraz explica ao FFW que o F*Hits cuida da comunicação dos blogs com os anunciantes e dá acesso a tudo que possa promover a geração de mais conteúdo das blogueiras participantes – tecnologia, profissionais, viagens, eventos. A lógica seria: mais conteúdo, mais visibilidade, mais anúncios, mais dinheiro. Tudo isso, garante, sem interferir no material editoral. Alice afirma que os anúncios são apenas no formato de banners e que as blogueiras não têm obrigação alguma de inserir produtos dos anunciantes em seus posts.

    “O Look do Dia fazia sucesso e eu não tinha ninguém pra comercializar isso. Tinha muita gente pedindo pra fazer propaganda, mas a gente não fazia porque não concordava com os produtos. O F*Hits é ótimo porque ele cuida dessa parte dos anunciantes, e nós continuamos com a nossa liberdade para escrever”, afirma Chris Francini, do Look do Dia, um dos blogs do projeto.

    Transparência com o leitor

    Por falar em liberdade para escrever, esse é o tema sensível do assunto “publicidade nos blogs”, já que mexe com a ética e a autenticidade dos blogueiros. “Prefiro sempre que os vínculos publicitários sejam claros para o leitor. O tal do ‘post pago’ [outra modalidade de propaganda além do formato banner] deveria ser sinalizado com um selo ‘publieditorial’ ou algo do gênero. Já sobre falar bem de anunciante, não vejo problema. O dono do veículo sabe onde lhe aperta o calo e tem todo o direito de bajular o quanto quiser. Mas o leitor deveria saber que a marca Xis é anunciante ou parceiro. Da mesma forma, os anunciantes também deveriam ser chiques o suficiente para deixar a opinião do jornalista longe de seu plano de mídia. O mercado deveria valorizar a opinião, e não cerceá-la e tentar controlá-la ou comprá-la”, diz a jornalista de moda Erika Palomino, que também mantém um blog.

    Sobre a ética a respeito dos anúncios, todos os blogueiros afirmam, sem exceção, que precisam gostar das marcas para permitir a publicidade em seus espaços: “Os anunciantes do blog eu gosto. Eu tenho esse critério, a primeira coisa que eu penso é se eu gosto, se a qualidade é boa. Não coloco algo nada a ver. Quando vou fechar o contrato, deixo claro que não tenho obrigação de postar; eu não perco a identidade do blog. Se fosse fazer todas as propagandas que me oferecem, eu estaria rica”, afirma Mariah Bernardes, do Blog da Mariah, também membro do F*Hits. Susie Lau, do blog gringo Susie Bubble, confirma: “Desde que o blogueiro verdadeira e genuinamente acredite no produto e que ele esteja produzindo um bom conteúdo para os leitores, eu não vejo problema – você tem que definir a sua própria ética quando lida com marcas”.

    Lia Camargo avalia também a ética em relação ao anunciante: “O meu blog [que recentemente foi adicionado à plataforma F*Hits] não tem muita limitação de conteúdo. Apesar da base ser moda, maquiagem e fofurices, do mesmo jeito que eu contei sobre quando estava tirando carta ou decorando meu carro, eu aceito fazer uma ação divertida em vídeo para uma montadora de carros. Se eu gosto do anunciante e acho que aquele assunto vai atingir alguém, eu aceito. Me interessa ganhar dinheiro, claro, mas me interessa também que o anunciante fique satisfeito com o retorno. Então se acho que não vai dar resultado ou que ele vai ser negativo, não faço”.

    Paralelo com o jornalismo

    “Vogue” francesa dezembro/2010 – janeiro/2011: a capa e o editorial que teria desagradado a LVMH e causado a saída de Carine Roitfeld do posto de editora-chefe ©Reprodução

    Uma questão interessante levantada por alguns entrevistados do FFW foi a existência da propaganda no jornalismo –- meio que, idealmente, também deveria ser livre de amarras comerciais quando o assunto é “opinião”. “O blog é uma coisa nova, mas esse tipo de atividade existe em qualquer lugar, então eu não entendo o por que de tanta polêmica. Todos os veículos têm grandes anunciantes, olha o caso da LVMH, com os anúncios na ‘Vogue’ francesa e como isso afeta o conteúdo da revista”, provoca Alice Ferraz. Erika Palomino reflete sobre o assunto: “Sabemos que grandes sites e grandes revistas acham perfeitamente normal vender seu conteúdo. Quem trabalha com isso sabe que pode ligar nos departamentos comerciais de sites e revistas e perguntar ‘quanto custa uma matéria’. Para mim, que fui criada em redação de jornal e tenho mais de 20 anos de profissão, acho isso uma obscenidade. Nos veículos que já tive não trabalhava assim e todo mundo sabe dos patrocinadores e anunciantes que já perdi por isso”.

    A sedução do dinheiro

    E a vulnerabilidade dos blogueiros diante da sedução de mimos como roupas de graça, viagens pagas e lugares garantidos na primeira fila dos desfiles? Será que isso afetaria o conteúdo dos blogs? Luigi Torre, editor de moda da U+Mag e autor do About Fashion, opina: “Acho que depende do blogueiro e de quão a sério ele leva seu trabalho. Lógico, que se o blog dele tem como único objetivo sustentar o hype e garantir o lugar dele nas salas de desfile, o julgamento ou opinião já nasceu comprometido, né? Mas se ele quiser realmente fazer valer seu ponto de vista, tiver algo realmente válido e relevante para falar e acrescentar, independente do que a marca ou assessoria que o convidou for achar, acho que essa abertura que lhe é oferecida, pode acabar sendo muito benéfica. Afinal, ele foi simplesmente convidado, ele não assinou nenhum contrato que o proíba de dizer certas coisas”.

    Susie Lau também acredita que os mimos não afetam a crítica dos blogueiros, ou não deveriam afetar: “Acredito em críticas construtivas – eu nunca fiz críticas sem pé nem cabeça sobre designers. É melhor fazer críticas construtivas, e os blogueiros não deveriam ter medo de fazê-las. Eu gosto de dar opiniões equilibradas — pesando os prós e contras das coleções sem ser muito efusiva; você não pode deixar mimos e convites te atrapalharem”. Chris Francini concorda: “No blog [Look do Dia] nós não temos mesmo essa linha de criticar ou falar mal; o que a gente poderia fazer é dar dicas de como melhorar. A Paula [Martins] e eu temos essa linha de mostrar a melhor maneira de usar as coisas”.

    Apesar das visões otimistas, há também quem tenha desistido desse tipo de atividade. Jana Rosa, repórter do It MTV e dona do Agora Que Sou Rica, afirma que não é totalmente contra publiposts, mas que se recusa a fazê-los em seu blog. “Quando eu fazia publipost a internet era outra, hoje em dia as marcas querem as blogueiras e não os blogs. Querem as meninas vestidas da cabeça aos pés com produtos fazendo propaganda. Eu nunca soube me colocar um preço, mesmo porque trabalhando com moda, achava que poderia afetar minha credibilidade. Então comecei a recusar fazer propaganda de produtos e marcas, até que cheguei em um momento de libertação e não precisar mais falar de nada que eu não quisesse. Hoje não ganho dinheiro algum com blog, mas também não tenho preocupação alguma e nem engano menininhas dizendo que tal batom é legal ou tal sandália é a da moda. Cansei dessa ditadura”, desabafa.

    Para concluir a reportagem mas abrir a discussão, uma reflexão da jornalista Erika Palomino: “Acho que seria mais saudável para o mercado que o que esteja disponível seja o espaço de publicidade, e não a opinião das pessoas (jornalistas ou blogueiros) e dos veículos. Porém, quem tem dinheiro na mão pressiona no sentido contrário. Cede quem quer. Não julgo, mas também não respeito. Cabe aos veículos inventarem formatos ‘bonitinhos’ para dourar essa pílula. E se sai melhor quem consegue isso sem agredir a sensibilidade e a inteligência do leitor e ao mesmo tempo preservar sua própria ética _ah, essa palavra que anda tão fora de moda…”.

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