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    Pitty Taliani e Carô Gold, da Amapô, em conversa com a “FFWMAG”
    Pitty Taliani e Carô Gold, da Amapô, em conversa com a “FFWMAG”
    POR Redação
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    Pitty Taliani e Carô Gold, da Amapô ©Cassia Tabatini

    O FFW aproveita o dia da cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos Toronto 2015 para divulgar esta entrevista imperdível com Pitty Taliani e Carô Gold, da Amapô, que assinam o uniforme que a delegação brasileira vai vestir no evento.

    Quando se pensa em Amapô, duas coisas vêm instantaneamente à cabeça: primeiro, os desfiles-show da marca no São Paulo Fashion Week, sempre irreverentes, debochados e surpreendentes. Depois, o jeans, especialmente a calça flare de cintura alta, que se tornou febre entre as celebridades, sucesso absoluto de vendas e, como nem tudo são flores, modelo plagiado pela concorrência.

    Mas, com onze anos de história, a grife tem ainda outros motivos para se destacar no cenário fashion nacional. Ela é uma das poucas marcas sobreviventes de toda uma geração nascida no Brasil no início dos anos 2000. Manteve-se sempre de forma independente, sem o apoio de grandes grupos ou investidores, e com a mesma espinha dorsal, as estilistas Carô Gold e Pitty Taliani.

    No seu recém-inaugurado ateliê no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, a dupla comemora o bom momento da Amapô com os pés no chão e o entendimento de que não se levar muito a sério é, muitas vezes, o melhor caminho para chegar onde se deseja.

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    Os desfiles da Amapô sempre são divertidos, malucos, interessantes. Como vocês mantém esse ânimo todo depois de tanto tempo?

    Carô: Nós temos o péssimo hábito de deixar as coisas para a última hora, mas dessa forma fica tudo muito fresco. Então, por um lado, é até uma coisa boa. Como não temos a preocupação de a imagem do desfile estar ligada ao comercial, a gente pode se dar ao luxo de deixar para a última hora e ver no que dá. Acho que a gente tem uma coisa muito ligada ao humor, a se desafiar. Por exemplo, primeiro a gente costumava usar como referência só coisas de que a gente gostava. Agora, nós também olhamos para as coisas de que a gente não gosta. Só esse exercício já vira uma piada.

    A gente ouviu falar que a trilha do último desfile, do Verão 2016, com “Show das Poderosas” da Anitta, era um recado…

    Carô: É claro que era um recado, porque a gente está sendo muito copiada. E eu acho isso o fim da picada, não gosto de ver, não me sinto bem, não me vanglorio com isso. Mas também é claro que essa mensagem é uma piada, a gente não quer agredir as pessoas.

    Com a participação no calendário do SPFW, a Amapô se tornou uma marca forte no mercado. Mas isso muitas vezes não significa sucesso comercial…

    Pitty: A nossa história é engraçada porque a Amapô primeiro fez um nome muito forte, mas não tinha venda, não tinha um comercial saudável. Geralmente é o contrário: a marca cresce em vendas e depois faz seu nome. Mas essa fórmula acabou dando certo para a gente, talvez exatamente por ser às avessas, já que a gente sempre foi fora da casinha.

    Carô: Eu acho que a gente só deu certo porque tivemos muita paciência, muita persistência, muito sangue frio, muito estômago. Ninguém da nossa geração sobreviveu. A gente só está aqui porque somos uma dupla, porque tivemos o background da família da Pitty, com toda sua estrutura, apoio e incentivo. Meus pais também não têm nada a ver com moda, mas amam o que eu faço e sempre me apoiaram. A gente só conseguiu ter sucesso comercial porque suportamos toda a merda que veio antes de a nossa calça boca de sino virar um sucesso. A gente podia ter desistido há muito tempo, talvez o certo fosse ter desistido, e ter pego nosso nome, que supostamente é um nome legal, para ir trabalhar numa empresa, ganhando R$ 30 mil por mês, como todos da nossa geração estão fazendo hoje.

    Então, em meio a tantas dificuldades, o que faz seguir em frente de forma independente?

    Pitty: Vai desde o nosso perfil, que não é de bater cartão e ser mandado por alguém, até a nossa vontade de colocar criatividade para fora de forma livre em cada desfile e mandar todo mundo se foder, porque é isso que a gente faz a cada temporada. Também é ótimo ver nossa calça na rua, nos blogs e até sendo copiada por outras marcas. Porque na verdade isso é incrível: a Amapô virou uma referência na moda brasileira. A gente nunca imaginou isso, mas é tudo fruto da nossa persistência, do nosso trabalho.

    Carô: O que motiva, na verdade, é a possibilidade de exercer o poder criativo. Como eu fiquei oito anos fazendo um trabalho que entendi que não era para mim, eu já sabia que queria ter a minha marca e movimentar uma emoção dentro de mim que é muito forte, a criação.

    Qual é a estrutura hoje da Amapô?

    Carô: Hoje em dia, além de nós duas, a Amapô tem quatro funcionários, o que para a gente é um luxo. Aqui no prédio do Bom Retiro funciona nosso ateliê, onde fica a pilotagem – produção de peças piloto e de projetos especiais como figurinos – e a expedição, que é a distribuição das peças para os clientes. Quando a gente começa a preparar o desfile, tudo acontece aqui dentro também com a ajuda de colaboradores. Além disso, temos um showroom terceirizado na rua Estados Unidos, em São Paulo, para as vendas. A gente não tem loja própria, estamos em cerca de 40 multimarcas pelo Brasil e também temos as vendas online, que é onde mais estamos bombando hoje em dia.

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    Os jeans “empina bumbum” que fizeram a fama da Amapô

    Pitty: A produção é toda terceirizada, porque a nossa demanda é pequena, então não vale a pena abrir um setor aqui dentro. Eu contrato os mesmos profissionais da Vício, mas em esquema freelancer, no qual tudo é feito paralelamente à confecção da minha família.

    Como a Amapô se especializou no jeanswear?

    Pitty: Foi tudo meio por acaso. Eu sempre fui apaixonada por jeans, tanto que tenho coleções absurdas, e o meu pai trabalhava muito com jeans na época que começou a Amapô. Aí naturalmente a gente colocou no primeiro desfile, depois no segundo e no terceiro, que foi quando fizemos a skinny com a modelagem que ela tem até hoje. A gente começou produzindo 30 calças para vender e deu certo. Depois fizemos 50, e esgotou. De repente, virou 100 e foi crescendo… A gente percebeu também que existia uma lacuna. Nenhuma marca de jeans nacional tinha o status que tinha antigamente e quem fazia sucesso por aqui eram grifes internacionais, como a Diesel e a Seven. E a gente, em uma brincadeira nossa, começou a falar que a Amapô seria a nova marca de jeans brasileira. Realmente hoje ela se tornou isso, primeiro graças às skinnys, com sua cara mais rock’n’roll, e finalmente, com a calça de cintura alta.

    Em que medida vocês acham que o fato de a Amapô ter se tornado queridinha entre as globais e as blogueiras influenciou o sucesso da marca?

    Pitty: Foi sem dúvida muito importante, mas a gente também enxerga isso como consequência do nosso trabalho. A Globo, na verdade, colocou a calça de cintura alta há seis anos na Taís Araújo, mas não teve a menor relevância. Desde então, a emissora foi, de pouco em pouco, colocando as calças nos figurinos, até que as próprias atrizes começaram a usar e começaram a pedir para pôr na novela. E aí começou a rolar. No ano passado, a gente criou, inclusive, um figurino especial para a novela “Boogie Oogie”. E junto com a televisão veio também o boom das blogueiras, tudo casou ao mesmo tempo e foi uma verdadeira avalanche.

    Qual é o segredo do sucesso da calça de cintura alta da Amapô?

    Carô: Ela tem uma modelagem muito específica, pensada para o corpo da brasileira, e a sua maior preocupação é deixar a bunda bonita. Qual é a primeira coisa que uma mulher faz quando experimenta uma calça? Virar no espelho e olhar a bunda! E é aí que a nossa peça se torna irresistível. Na verdade, ela foi feita no meu corpo para nosso primeiro desfile no SPFW, porque eu queria uma calça de cintura alta para mim, mas não encontrava em lugar nenhum. Foram feitos muitos estudos e tentativas até ficar no jeito: com a bunda bonita, a perna justa, a cintura alta, sem lavagem e a boca de sino.

    Como vocês avaliam o momento atual da marca? Chegaram aonde queriam?

    Pitty: Às vezes, eu fico pensando sozinha: “nossa, nós chegamos aonde queríamos”. Esse é o limite? Não sei. Era aqui que eu realmente queria chegar? Também não sei! Nós nunca soubemos direito onde ia dar isso tudo. De certa maneira, a gente sempre projetou estar aqui, mas eu não sabia que ia ser desse jeito, porque não há uma fórmula e acho que nem dá para trabalhar com uma no país que a gente vive. Mas acredito que ainda temos muito mais pela frente, a gente trabalha todos os dias para isso. E que venha muito mais!

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    Fila final do desfile de Verão 2009 no São Paulo Fashion Week

    Como foi o começo de vocês na moda e como vocês se conheceram?

    Pitty: Eu nasci em uma família de empresários de moda, meus pais têm uma confecção, a Vício, até hoje. Vivo nesse universo desde pequena, porque frequentava a empresa deles e me divertia muito lá dentro. Depois fui crescendo, achei que não era aquilo que eu queria e resolvi fazer economia. Não sei o que eu pretendia com isso na verdade, mas no fim do curso me dei conta de que eu queria fazer moda mesmo, então larguei a economia e fui para a faculdade de moda. Comecei fazendo algumas coisas superpequenas para mim e para os meus amigos, que eram todos da moda e das artes. Foi nessa época que conheci a Carô, um dia na casa do Dudu (Bertholini). Mostrei as minhas roupas para ela e a gente resolveu fazer junto o projeto de uma coleção para uma loja. Isso foi no meu último ano de faculdade, no início dos anos 2000. A gente se divertiu bastante, era uma coisa totalmente despretensiosa e as pessoas gostaram do resultado. Aí a Carô estava passando um dia pela Rua 25 de março e viu uns tecidos legais e a gente teve a ideia de fazer uma nova coleção para mostrar para outras lojas. Foi assim que a coisa toda começou.

    Carô: Eu comecei a fazer moda na faculdade Santa Marcelina, mas larguei antes de me formar, porque fui trabalhar como figurinista de publicidade e acabava faltando muito. Trabalhei com isso durante oito anos até esse encontro com a Pitty. Percebi que esse negócio de publicidade, apesar de dar muita grana na época, não era para mim, porque não tinha nada a ver com criatividade.

    A estreia nas passarelas veio logo cedo para a Amapô. Foi algo planejado?

    Pitty: Enquanto desenvolvíamos nossa primeira coleção, nós pensamos em tentar fazer um desfile. Em questão de um ou dois meses, tudo superrápido, a gente elaborou um projeto para apresentar para a Luminosidade, que tinha a plataforma HotSpot, e para a Casa de Criadores, do André Hidalgo. O projeto acabou sendo aprovado pelas duas empresas e a gente optou pela Luminosidade. Nosso primeiro desfile foi um sucesso e acho que acabou dando uma virada até no próprio HotSpot, que foi uma oportunidade muito bacana para a gente. Acredito, inclusive, que se não tivéssemos tido esse impacto tão forte logo no início, talvez a gente nem estivesse aqui hoje.

    Depois de mais de dez anos juntas, como é a relação de vocês?

    Carô: Hoje a gente tem uma relação que é do tipo familiar. É como se a gente fosse irmãs, então temos todo e nenhum respeito ao mesmo tempo uma pela outra. E, como toda relação, ela tem que ser sempre trabalhada, cuidada, tudo em prol da marca. E, mais uma vez, você pode perceber dentro da moda brasileira que várias sociedades se dissolveram. Por quê? Porque as pessoas não aguentaram esse nível de relação, que é bem complexa. Nós já não somos amigas há muito tempo, já viramos outra coisa. Se você não aceitar isso na sua vida, que é uma coisa estressante e desgastante em muitos momentos, não tem jeito mesmo. Às vezes a marca é linda e maravilhosa, mas a relação não funciona.

    Pitty: A gente se escolheu para ser irmãs. Temos todos os problemas, como qualquer família, e também todas as coisas legais. Acaba sendo incondicional. Se ela faz merda ou eu faço merda, uma hora vai passar porque é família. Eu convivo com a Carô mais do que com minha própria família, e ela também. Mas você só suporta isso também se tiver admiração pela pessoa. Eu admiro a Carô pelo que ela faz e pelo que ela é até hoje em dia. Eu tenho orgulho de trabalhar do lado dela. Toda essa força é de ter todo esse respeito.

    Mas existe uma divisão de tarefas?

    Carô: Sim, existe uma divisão na parte burocrática, o lado chato do negócio. Eu faço a parte do comercial e financeiro e a Pitty faz a parte da produção, que é acompanhar a roupa até ela ficar pronta. Na parte criativa, é uma mistura louca.

    Matéria originalmente publicada na “FFWMAG” 40, disponível em bancas e livrarias e também através dos sites FFWSHOP e Livraria Cultura.

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