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Se os desfiles masculinos de Milão pareceram algo sem sentido, os de Paris foram bem o oposto. A alfaiataria pode continuar no centro das atenções, mas ao invés de tentar re-inventá-la, estilistas estavam mais preocupados em usá-la como meio para um outro fim: a busca por um novo conceito de elegância.
Conceito que independe de qualquer associação com idade, como Yohji Yamamoto deixou bem claro em seu casting de diferentes tipos físicos e faixas etárias. Como denominador comum nessa ode à variedade/individualidade vinha sua mais que perfeita alfaiataria, agora em formas amplas, como nas ótimas calças e blazeres oversized. Em tecidos pesados, como tweed, traziam um certo rigor, porém suavizados e até sensualizados pelo caimento das formas que se afastam do corpo, quase que num misto de proteção com conforto.
Na Lanvin, Lucas Ossendrijver e Alber Elbaz tiveram questionamento similar: como falar de uma elegância atrelada ao conceito e universo jovem? A resposta veio num hibridismo perfeito entre as formas e tecidos da alfaiataria pensados e usados como se fossem do sportswear. Sem qualquer ornamentação aparente e silhueta alongada, a imagem trazia uma completa pureza visual, onde nem mesmo botões tem espaço _casacos e camisas são fechados por imãs escondidos no interior das peças.
Calças de modelagem ampla, blazeres de corte perfeito, levemente ajustados ao corpo e chapéus falavam _com toda sensibilidade peculiar dos estilistas_ de um dandismo contemporâneo, onde passado, presente, novo, velho, causal e formal sem encontram como algo totalmente novo, sem quaisquer amarras com algum desses conceitos.
Essa mesma silhueta alongada ganha fluidez na Dior Homme, onde Kris Van Assche parece cada vez mais em sintonia com o universo da maison. Dando continuidade a coleção de peças esvoaçantes do verão passado, para o inverno 2011 o estilista buscou trabalhar o mesmo efeito, porém com tecidos ditos mais invernais. O efeito fluído vem com as sobreposições de casacos e capas de pegada minimalista, sobre os famosos ternos, agora combinados com ótimas calças de pernas largas, estendendo-se até o chão. Toda monocromática, com pitadas de vermelho, Van Assche trouxe um certo drama para coleção, que junto com os chapéus de abas largas exalava as referências da cultura Amish _onipresente na temporada.
Definir a elegância pela decadência, por mais complexo e paradoxal que possa parecer, foi exatamente o que fez Rei Kawakubo em sua Comme des Garçons. Combinou blazeres e casacos de corte preciso com maxi calças _ou até saias_ de seda estampada que se alongavam até o chão.
Já Dries Van Noten foi pelo caminho inverso, buscando falar de um glamour masculino, sem que para isso precisasse de quaisquer elementos femininos. Vem daí sua alfaiataria rigorosa, em tecidos texturizados com extremo foco nas golas _rígidas ou volumosas em pele. Blazeres de ombros marcados, sobre calças amplas traziam quase que um duelo de oposto, melhor caracterizado no look de jaqueta de smoking creme + calça cargo. Ah, e tudo isso com uma ótima beleza à la David Bowie deixando todo conceito de glamour ainda mais latente nessa excepcional coleção.
Porém, quem talvez tenha se aproximado melhor de uma resposta _plausível e coerente_ sobre o que define a elegância no século 21 seja o belga Raf Simons. O conceito por trás de sua coleção falava da necessidade de abandonar a nobreza para abraçar a geração Facebook, porém sem deixar o hype do nome ofuscar o artesanato. Pode parecer complexo, mas na prática faz perfeito sentido.
Assim como no verão 2011 que apresentou para Jil Sander, Simons concentrou-se aqui no estudo sobre as formas. Casacos de ombros arredondados, fechamento traseiro (tipo vestes de hospital) e calças amplas combinadas com suéteres ajustados ao corpo, falavam de uma elegância nada óbvia, jovem e 100% voltada para o presente. A essência da moda masculina mergulhada nas formas da alta-costura de maneira totalmente possível.