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    Juliana Jabour: “Eu tinha na cabeça que só ia fazer o que gosto” #entrevistão
    Juliana Jabour: “Eu tinha na cabeça que só ia fazer o que gosto” #entrevistão
    POR Redação

    Juliana Jabour no dia da entrevista com o FFW, no atelier da marca ©Juliana Knobel

    Hit desde o seu início despretensioso, com mini-coleções vendidas na loja Pelu, em São Paulo, a marca Juliana Jabour, hoje com 180 pontos de venda no Brasil e representação em Nova York, Los Angeles, Seattle, Londres, Lisboa, Atenas e Tóquio, tem uma história curiosa por trás, que surpreende quando se descobre o background da estilista, que tinha o sonho de ser diplomata e é pós-graduada em Ciências Políticas em uma das melhores universidades de Paris. Juliana Jabour gentilmente recebeu o FFW em seu atelier para falar sobre este e muitos outros assuntos na entrevista que você confere abaixo:

    A formação internacional e o início do interesse por moda

    Fui pros Estados Unidos aos 15 anos, fiz dois anos de high school e quatro de faculdade. Eu queria ser diplomata, e estudei Ciências Políticas e Economia em Georgetown, que fica em Washington, D.C.. No terceiro ano de faculdade eu já sabia que não ia trabalhar com aquilo, mas amo que estudei, se eu tivesse que voltar atrás e fazer tudo de novo eu estudaria exatamente a mesma coisa! Eu nem sabia o que era Prada, Louis Vuitton, mas lá, por eu ter muitas amigas de Los Angeles, cujos pais trabalhavam com cinema, elas começaram a me mostrar essas coisas. Aí comecei a consumir muita informação de moda, a ler, e acompanhar, tomar gosto mesmo. Mas fui até o fim, depois fui pra Paris e fiz pós-graduação em Ciências Políticas na Sorbonne — minha pós é em Política de Integração da União Europeia. Depois me mudei pra Londres, e aí é que fui trabalhar com moda pela primeira vez. Comecei na Joseph, que é uma cadeia de lojas de um marroquino radicado na Inglaterra, que além da marca dele, vendia outras marcas também. Comecei como vendedora, ele gostou do meu trabalho e me chamou pra ser assistente dele de compra, e passei a ir pra showroom, desfile, pra ajudar a escolher mercadoria pra abastecer as lojas.

    O início das atividades como estilista

    Eu estava totalmente perdida, porque tinha acabado de me formar, uma baita formação, e eu não queria trabalhar com nada daquilo; eu sabia que queria trabalhar com moda, mas não sabia nem por onde começar. Não fiz muito plano, fui fazendo um passo de cada vez. Fiquei quase dois anos lá e voltei pro Brasil no final de 1997. E sou de Belo Horizonte, então quando voltei pra lá tive minha primeira oportunidade de trabalhar como estilista na Vide Bula. Fiquei três anos e em 2000 recebi uma proposta do Tufi [Duek] pra ir pra Triton. Eu já não aguentava porque tinha morado 10 anos fora do país, daí morar em Belo Horizonte é difícil, né? Juntei minhas coisas e vim pra cá e estou aqui desde agosto de 2000.

    Imagens da coleção mais recente da marca, de Inverno 2012 ©ImaxTREE

    O peso da experiência internacional

    A experiência fora trouxe, primeiro, a familiaridade com o universo da moda em si, porque você consome muita informação, e eu trabalhava numa loja que era muito reconhecida, que vendia marca boa, eu tinha muito contato com as marcas, com as roupas, até com as pessoas que frequentavam o lugar. Daí na hora que você começa a ir pra desfile, pra showroom, você mergulha mesmo no universo – isso já te dá uma bagagem. E como compradora, eu trabalhei do outro lado da moeda. Isso é bom porque você consegue ter uma visão mais comercial, sem ficar devaneando. Porque senão você fica só como um atelier.

    A motivação para lançar uma marca própria

    Uma coisa foi levando à outra. Eu comecei trabalhando pros outros, na Vide Bula, na Triton; depois, na M.Officer, com o Carlos Miele, acompanhei todo o processo de quando ele começou a fazer desfile fora – nas duas primeiras coleções eu fui com ele, o que foi ótimo pro meu currículo, se não fosse ele talvez eu nunca tivesse tido essa oportunidade. Depois ainda fui pra MOB, e lá eu comecei a minha marca, porque uma das minhas melhores amigas, a Claudia Tannous, estava montando a Pelu, e me deu o maior incentivo, então comecei fazendo uma mini-coleção de seis itens, que vendeu muito bem. Em uma loja daquele tamanho, dentro de uma vila, vendia 200 peças por mês. Fiquei uns seis meses fazendo mini-coleções pra lá, e com o resultado, resolvi fazer minha primeira coleção com barba, cabelo e bigode, grande, de 35 itens — nada perto do que é hoje, que eu tenho quase 350. Dali fui pra Casa de Criadores, fiquei duas temporadas, até que surgiu o convite pra ir pro Fashion Rio, eu fui, fiquei lá nove temporadas, e desde janeiro de 2011 eu estou no SPFW.

    Primeiro desfile de Juliana Jabour, na Pelu (vídeo disponibilizado pela estilista para uso do FFW):

    O início dos negócios

    Eu não era aquela pessoa que tem tudo planejado, até porque comecei essa marca sem aporte nenhum de investimento de capital inicial, eu comecei aqui com 10 mil reais. Aí me associei ao meu sócio, que é meu sócio até hoje, e que era o meu fornecedor quando eu trabalhava pra outras marcas. Quando comecei a minha história, ele que produzia pra mim, porque quando você é pequeno, tem dificuldade pois ninguém quer produzir volume baixo. É por isso que muito estilista novo acaba nadando, nadando e morrendo na praia. E eu tive a oportunidade de me associar a uma pessoa de fábrica, o que foi bom, porque eu conseguia fazer coisas que marca do meu tamanho não conseguiria fazer nunca. Com a venda da primeira coleção a gente conseguiu bancar a segunda, com a venda da segunda bancamos a terceira… ninguém chegou assim “meu pai vai me dar tanto, vou abrir uma empresa”. Quando você começa uma empresa é assim, nos três primeiros anos tudo o que você ganha, tem que investir pro negócio ir pra frente.

    As mudanças de mercado que mais afetaram a marca

    A marca era só malha, aí eu não aguentava mais, quando já estava fazendo plano há algum tempo e as pessoas insistiam em escrever “ah, ela só faz malha, a rainha da viscolycra”, e você lá se matando, tentando fazer uma história, fazer um produto legal, diferente. Teve cobrança da mídia, do cliente, do consumidor final, e claro que eu podia continuar sendo uma marca só de malha, mas talvez a gente não tivesse o apelo que tem hoje. Mas foi até uma coisa meio “vou mostrar pra esse povo que eu consigo fazer outras coisas”, de tanto eles baterem nessa tecla. Mas com certeza o que mais fez com que a gente tomasse esse caminho foi essa demanda do mercado. É difícil ter uma loja se você não tem um mix de produtos, se não tem um pouco de tudo. Outra coisa foi o preço do dólar, que foi uma das coisas de mercado que mais afetou a nossa venda, porque ficou muito barato viajar pra fora. Hoje qualquer pessoa vai, enche a mala e volta. E as pessoas compram um sapato, um óculos, uma joia, um relógio caro, mas elas não gastam muito com roupa cara.

    Juliana Jabour e Reinaldo Lourenço nos bastidores do primeiro desfile da marca, na Pelu (imagem cedida pela estilista para uso do FFW)

    A marca Juliana Jabour no mercado internacional

    As vendas deram uma queda, porque como o dólar caiu, a minha roupa que era relativamente barata lá fora começou a ficar cara. Por exemplo, meus acessórios no Japão: meu sapato começou a competir com preço de sapato da Miu Miu; aí fica difícil, como você justifica isso? Mas por incrível que pareça, mesmo com tudo o que aconteceu no Japão, com o terremoto e o tsunami, a nossa venda, que eu achei que ia cair, aumentou. Não explodiu, mas poderia ter caído ou ficado igual, mas deu uma leve aumentada.

    O Japão é o mercado internacional onde vendemos melhor. Depois que fiz a parceria com a Uniqlo em Tóquio, explodiu. Fiz uma parceria com eles na Primavera/Verão 2008; eles têm um programa chamado Designer Invitation Project, só que em vez de chamar designers consagrados como a H&M, que chama Cavalli, Versace, etc, eles chamam gente que está começando. E eu fui chamada junto com o Alexander Wang, de quem eu já era fã na época, e tive a oportunidade de fazer isso junto – os trabalhos foram separados, mas fomos pro Japão juntos, fizemos a divulgação juntos, prova de roupa, porque foi lançado na mesma época. Fui pro Japão e vi gente usando minha roupa na rua, numa cidade do tamanho de Tóquio. Isso não tem preço, foi muito legal.

    As parcerias da marca e do mundo da moda em geral

    A da Uniqlo foi a primeira. Também tem Riachuelo, Shoestock, que são as mais recentes, mas fiz durante muito tempo Nivea, Brastemp, Lancôme, Raphael Falci, Evoke, Hope. Com certeza é uma tendência do mercado. Lá fora chega até a cansar, é tanta, tanta, tanta coisa que começa a ficar banal. Mas é uma tendência com certeza, e acho que o futuro é isso aí mesmo. Porque você consegue juntar forças, né. Às vezes você consegue fazer coisas que sozinho não conseguiria, é bom pra todo mundo, é bom pra você; negociando bem você pode receber de diversas formas: por cachê ou participação em cima das vendas.

    Sapatos da mais recente colaboração Shoestock + Juliana Jabour ©Divulgação

    A relação com a crítica de moda

    Sempre leio. Te confesso que no começo eu lia muito mais, mas aí começou a me fazer mal, porque eu ficava triste, levava pro lado pessoal. Hoje leio as principais que me interessam, de pessoas de quem eu considero a opinião, mas não leio *tudo* o que sai como eu fazia antes. Mas aprendi a lidar com isso; antes me machucava, mas hoje se eu leio uma crítica ruim eu tento ver o embasamento da pessoa, o fundamento. Porque se é uma pessoa que eu respeito, que acredito na opinião, vou tentar aprender e enxergar qual a mensagem que ela está me passando. Mas você tem oito minutos pra apresentar um trabalho de quatro meses, que você trabalhou que nem uma camela, e uma pessoa vem em um parágrafo e te detona… é muito triste!

    A ausência no SPFW Verão 2012

    Mudei pra São Paulo, fiz minha estreia no Inverno 2011 e o Verão 2012 eu pulei por falta de patrocínio. A minha estrutura é relativamente pequena, e pra pagar do meu bolso é um custo que eu não posso arcar. E eu sempre consegui fechar bons patrocínios – eles patrocinam o desfile, e a gente fecha um pacote de ações por um ano. Então por exemplo a Brastemp patrocina um desfile e durante um ano eu vou lá, faço um adesivo pro micro-ondas, o uniforme de chef. Ou a Nivea me patrocina, e eu faço o rótulo do brinde que eles vão dar pros formadores de opinião do fim do ano. E pro Verão 2012, foi chegando meio em cima e eu não tinha conseguido fechar nada, então avisei que infelizmente ia ter que pular porque não ia conseguir arcar com o desfile. Aí já começamos a trabalhar pra captar patrocínio e poder desfilar agora no Inverno 2012 – e já estamos correndo de novo pra fazer o Verão.

    A importância dos desfiles para a marca

    Quando comecei a desfilar, eu já tinha uma venda de atacado estruturada e relativamente boa, então achava que não ia vender mais ou menos por causa de desfile. Mas por exemplo, na coleção que eu pulei, eu senti uma grande cobrança tanto por parte de cliente quanto de divulgação da coleção, de produtor trabalhar nossos produtos em editoriais, por exemplo. Porque apesar de eu ter feito um evento pra imprensa, acho que foi mais difícil emplacar as coisas — não em São Paulo, mas em abrangência nacional. O desfile abre portas; com certeza todas as parcerias vieram por conta da visibilidade que a gente consegue desfilando numa semana de moda da importância de um SPFW.

    As novas tecnologias e redes sociais

    Temos tudo, twitter, facebook, instagram, e-commerce, e fomos sempre pioneiros, porque como eu sou muito ligada em internet, a marca foi pelo mesmo caminho. O facebook a gente teve antes de todo mundo, e o próximo passo é colocar uma aba de e-commerce dentro da minha página do facebook, porque hoje as pessoas passam mais tempo no facebook do que em qualquer outro site, até mais que o google. Se a pessoa vê o produto no seu facebook e ela consegue comprar ali, você vende mais do que se ela tiver que entrar no seu site, no seu e-commerce. Acho que esse tipo de coisa dá uma alavancada boa na venda online.

    Imagens da coleção Verão 2012, que Juliana Jabour elegeu como sua preferida ©Agência Fotosite

    A identidade da marca

    Quando comecei a marca, eu tinha na cabeça que só ia fazer o que gosto. Independente de tendência, de “tá todo mundo usando”; eu abri a marca pra fazer isso. Quando eu trabalhava nos outros lugares, eu era meio podada, porque você tem que fazer o que é a cara da marca onde está trabalhando, é o certo. Eu queria fazer o que eu gosto, que eu uso, que eu não achava em lugar nenhum pra comprar, e até hoje é assim. Às vezes fico até meio resistente, porque algumas pessoas falam “ah, sua roupa não é sensual, a mulher brasileira quer roupa justa, curta, decotada”. Então gente, vai comprar em outro lugar, porque não é a minha marca, entendeu? Nada contra, mas não é o meu DNA. Ao mesmo tempo, não dá pra eu ficar alheia ao mercado e à necessidade dos meus clientes, pra não atrapalhar a minha venda. Então tenho que inserir essa sensualidade, de um jeito que eu atenda a essa solicitação de mercado, mas sem descaracterizar o meu DNA.

    Hoje em dia você se imagina fazendo outra coisa?

    Se não fosse pra fazer o que eu faço, acho que a única coisa que eu ia querer fazer é ser compradora de alguma loja de departamento grande.

    Mas você continuaria dentro de moda?

    Sim.

    É interessante porque você falou que mesmo na faculdade já sabia que não ia trabalhar com aquilo, mas gostou de fazer o curso e faria novamente.

    Eu amo política, história, te dá uma bagagem, você consegue falar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto em qualquer lugar. Eu gosto, mesmo não atuando na área, leio sobre tudo, acompanho.

    E mesmo assim, você continuaria em moda?

    Eu amo. Apesar de ser muito trabalho pra pouco dinheiro. Se eu estivesse trabalhando com o que eu estudei, você pode ter certeza que eu estaria ganhando quatro vezes mais. Mas não consigo me imaginar estar trabalhando com banco de investimento, não ia dar certo (risos).

    + julianajabour.com.br

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