Wheatfields off Woldgate, 2006 ©David Hockney/Reprodução
A moda, desde os seus “primórdios”, sempre teve uma relação muito próxima às artes plásticas. Através do impacto visual – e, em alguns casos, emocional –, pinturas e fotografias podem dar vida a cartelas de cores que variam do pastel ao chocante, como visto em coleções de Primavera/Verão 2012 da Semana de Moda de Londres, com ênfase nas criações dos estilistas Jonathan Saunders, Erdem Moralioglu, Mary Katrantzou e Basso & Brooke. Combinados à tecnologia têxtil 3D e a estampas inebriantes, estes tons doces, quase hiperglicêmicos, ajudaram a definir o que será usado – e desejado – na próxima estação internacional.
Looks de Primavera/Verão 2012 de Jonathan Saunders ©Reprodução
Looks de Primavera/Verão 2012 da Erdem ©Reprodução
Looks de Primavera/Verão 2012 de Mary Katrantzou ©Reprodução
Alexander McQueen, o provável precursor desta “tendência” multidimensional com sua última coleção, Platos Atlantis, desfilada em outubro de 2009, elevou as estampas, em especial as digitais, à vanguarda da moda. Se nessa área a tecnologia multimídia começou a ser usada há pouco, em outros territórios da cultura, como na música, no cinema e nas próprias artes plásticas, tal movimento se encontra já estabelecido. O direcionamento “moda se espelha na arte” parece natural, já que atualmente o espectador não quer mais apenas visualizar uma obra, quer ter todos os seus sentidos contemplados.
Em alusão à cartela de cores e às estampas 3D que pretendem reinar na temporada de Primavera/Verão 2012, as obras dos artistas britânicos David Hockney e Gary Hume parecem brilhar no escuro. Se usados como referenciais, as pinturas de Hockney e Hume ajudam a compreender o fascínio e a necessidade da sociedade contemporânea, chamada pelo filósofo contemporâneo francês Gilles Lipovestky de “Hipermoderna”, de preencher todos os vazios, inclusive os não-táteis, verdadeiramente existenciais.
May Blossom on the Roman Road, 2009 ©David Hockney/Reprodução
O pintor inglês David Hockney, de 74 anos, começou a experimentar técnicas de trompe-l’œil muito antes de James Cameron lançar o seu “Avatar” ou do movimento dos “Jovens Artistas Britânicos” (“Young British Artists”) ser iniciado em 1988 e virar “moda”. Convidado pela Royal Academy of Arts de Londres a apresentar as telas desenvolvidas a partir da paisagem de sua terra natal, Yorkshire, o pintor ganhou uma exposição multimídia em que, além dos quadros, é possível encontrar os desenhos de Hockney feitos em iPads e uma série de vídeos produzidos com 18 câmeras que, exibidos em diferentes telas, proporcionam uma viagem através dos olhos do artista.
Ao contemplarmos as pinturas de Hockney, as cores e as formas se destacam e quase é possível sentir o ar fresco e a textura da grama verde. Já Gary Hume, que ganhou uma mostra chamada “The Indifferent Owl”, na galeria londrina White Cube, trabalha com formas mais abstratas, mas que por meio do uso pontual dos tons opacos e do alumínio parecem saltar da tela. Hume, inclusive, já colaborou com a designer espanhola Consuelo Castiglioni ao criar estampas de camisetas para a grife italiana Marni.
Paradise Painting e Horizon, ambas de 2011 ©Gary Hume/Reprodução
As cores escolhidas por Jonathan Saunders e Erdem Moralioglu para vestir as mulheres na Primavera/Verão 2012 parecem se encaixar perfeitamente à obra de Gary Hume, enquanto Mary Katrantzou fez jus a sua origem grega e captou a vivacidade encontrada nas pinturas de David Hockney. A conexão entre as tendências sugeridas nas passarelas e as obras de determinados artistas pode ser meramente subjetiva; no entanto, o uso de tonalidades específicas e, principalmente, de tecnologia têxtil e de estamparia trompe-l’œil é um fato objetivo.