Por Juliana Lopes, de Milão
Leveza no desfile de Ferragamo ©Juliana Lopes
Verão 2012 – Três tipos de homens ficaram marcados durante a semana de moda de Milão: o esportivo, o british-rocker e o casual-boêmio. Parecem contrastantes entre si, mas são apenas direções superficiais. Independentemente da memória de estilo que cada um desses homens nos provoca, existe um ar geral, comum – seria a tal “macrotendência”, palavra que os trendsetters amam? – de um certo despojamento na moda. Uma des-ostentação, des-obrigação, informalismo.
Despojamento para o “bem” da elegância, ou seja, não estamos falando de desprezo pela moda. Um despojamento… de qualidade. Mesmo porque, estamos na Itália. O mercado italiano – e nisso entram marcas de outros países que vêm para cá produzir – é bastante rigoroso com os detalhes, mínimos que sejam. Na moda masculina, onde as mudanças são sempre mais discretas, esse rigor ganha ainda mais força. Então, onde está o despojamento?
Volume e leveza na Ferragamo ©Juliana Lopes
Os italianos são conhecidos por seu ar ‘arrumadinho’, até quando estão na praia. Com pouco dinheiro, é possível comprar uma bermuda bem desenhada, uma jaqueta com caimento incrível, tecido de qualidade. E os italianos adoram. A elegância está presente em todas as faixas sociais. Uma camisa bem passada, ou “crocante” como alguns dizem (tão ‘durinha’ que parece que vai quebrar), não é só pro dia do casamento.
Entendido isso, pensemos: como assim um look “amassadinho” na passarela da super tradicional Salvatore Ferragamo? Algo acontece. O luxo mudou de cara. Esse “algo” é a vontade de livrar-se da ostentação, uma espécie de minimalismo no approach com a moda. Anna dello Russo já pescou a informação e foi bem menos espalhafatosa aos desfiles. Está menos fashionista? Pelo contrário.
Alfaiataria “amassadinha” na Zegna… ©Juliana Lopes
…e um close no efeito amassado
Dentro desse despojamento vemos: modelagens desconstruídas (menos geometria nos cortes), cavalo baixo para as calças, tecidos que ajudam a proporcionar mais volume, distanciando do corpo, mais presença de calças curtas, estilo pescador. Menos classicismo. Materiais que, embora de grande qualidade, não precisam do ferro de passar. Travel friendly. Nesses looks soltos, os tecidos escolhidos são cada vez mais leves: toda a indústria de matéria-prima, ano a ano, nos últimos tempos, pontua evolutivamente numa alta tecnologia que produz, cada vez mais, os fios mais leves. Quanto mais “peso pena”, melhor. Menos gramas na balança possível. Alessandro Sartori, da Zegna, no backstage, em menos de duas frases já fala da gramatura dos linhos e sedas.
Se o look é mais estruturado, o formalismo é quebrado nas padronagens, com o mesmo mood de humor que já dava sinais na temporada passada: quadriculados ou vários tipos de xadrezes, que continuam super. Dessa vez em Milão vemos xadrezes misturados com listras, e xadrezes que brilham, em tecidos que parecem engomados. Mas é um engomado “de brincadeira”, como os trench coats da Gucci, acetinados, mas ao mesmo tempo com uma textura esportiva-emborrachada. Ou seja, um chic-irônico.
Os xadrezes da Gucci ©Juliana Lopes
É chic-irônico um homem vestido em alfaiataria impecável deixando canelas de fora e misturando xadrezes, não? É também chic-irônico usar uma camisa ou jaqueta sequinha e, embaixo, calça de cavalo baixo, com volume quase indiano. A moda cortou o excesso de pretensão e seriedade em algum aspecto da roupa, sem desvalorizar sua qualidade. Por isso a tendência, aberta pela Prada, do sapato social, que tem sola grossa com detalhes de palha (!) daquelas de espadrilhas ou alpagartas. Todo mundo usou nas primeiras filas e as lojas da Prada estavam sem estoque. Por isso vale usar uma calça aparentemente largada, feita com a melhor lã do mundo.
“Estou de camisa crocante porque estamos trabalhando, mas vejo que a coleção na passarela está muito mais leve, casual”, comenta Alessio Esposito, 31, fashion merchandiser da Salvatore Ferragamo, na saída do desfile. “A moda fica fácil de usar. Pessoalmente aposto que vai vender mais”, opina.