John Galliano e o apresentador Charlie Rose, na entrevista que foi ao ar pela TV americana ©Reprodução
Após dar uma entrevista para a edição de junho da revista “Vanity Fair”, John Galliano apareceu na televisão americana entrevistado no programa de Charlie Rose. A entrevista foi ao ar na quarta (12.06) e foi sua primeira aparição na TV desde que seu ataque antissemita a um grupo em um bar de Paris levou sua carreira por água abaixo há dois anos. + Relembre o caso inteiro aqui
Galliano compareceu ao programa com a barba feita, o cabelo puxado para trás e vestindo um terno Yves Saint Laurent.
Com duração de uma hora, o apresentador abordou diversos fatos, desde a infância do estilista no sul de Londres a sua subida meteórica ao topo da moda, mas o foco mesmo foi seu abuso de álcool e substâncias químicas.
Charlie Rose exibiu o vídeo que mostra John agredindo verbalmente pessoas em um bar em Paris. Galliano mostrou arrependimento e tentou explicar seus atos atribuindo ao vício em comprimidos, ao alcoolismo e ao bullying que sofreu na infância. “Nesse momento da minha carreira eu havia me tornado um blackout drinker (pessoas que bebem tanto que no dia seguinte não lembram o que fizeram). Descobri que esse estado pode levar à paranoia em um grau que pode liberar frustrações desde a infância”.
Durante toda a entrevista Galliano mostrou-se desarmado e franco. “Sobriedade não é fácil, Charlie. Tem sido uma jornada difícil”, ele disse. O apresentador, por sua vez, fazia perguntas que demandavam respostas claras. Em um momento ele sugeriu que há alcoólatras que não usam termos racistas quando estão fora de si, então de onde saíram as palavras de John?
“Passei dois anos e três meses sendo tratado por terapeutas e trabalhando com teologistas e professores na França para encontrar a resposta. Sim, o álcool nos deixa menos inibidos e o que está viajando pelo nosso subconsciente pode ser colocado para fora”, disse Galliano.
Quando questionado sobre o fato de que seus problemas com álcool baixaram a qualidade de suas coleções, ele disse que até aquele momento, as vendas ainda estavam boas. “Na minha cabeça eu sempre podia fazer melhor. E especialmente agora, no meu estado lúcido, claro que penso que poderia ter feito muito melhor. Eu estava fazendo o que achava certo para as duas casas”, diz, referindo-se a Dior e a marca John Galliano.
O estilista também contou sobre sua experiência no ateliê de Oscar De La Renta, no início deste ano. “A coleção já estava adiantada. No início foi difícil, pois eu não pisava em um ateliê há dois anos. Corri para o banheiro e me joguei de joelhos. Depois saí e fui para a sala de trabalho, onde me apresentei para as moças adoráveis que trabalham lá, as costureiras e as modelistas vestidas em seus jalecos brancos. E aí ficou tudo bem, meus ombros relaxaram”.
Além de De La Renta, John ainda mencionou Anna Wintour e Jonathan Newhouse, presidente da Condé Nast International, como pessoas fundamentais em sua reabilitação.
Já Bernard Arnault, CEO do grupo LVMH, e Sidney Toledano, CEO da Dior, têm mantido distância do estilista desde então. “Tentei falar com eles, mas minhas ligações não foram aceitas. E recentemente tentei de novo, mas só recebi a mensagem de que ainda era cedo demais”. Galliano e a LVMH estão no meio de um embate legal sobre o término de seu contrato.
A questão que Galliano não conseguiu responder foi se ele trabalhará em uma marca de moda novamente. “Não tenho a resposta para isso. Quer dizer, eu posso criar, estou pronto para criar. Estou me sentindo saudável, mas realmente dependo desses passos que estou dando. E espero que, através da minha recuperação, eu receba uma segunda chance”.
O programa teve uma boa audiência e foi visto por cerca de 40 mil espectadores, bem acima da média de Charlie Rose nos últimos seis meses, que tem sido de cerca de 10 mil ou menos espectadores.