Imagem da exposição “California Dreamin'”, curada por Hedi Slimane ©Juliana Lopes
Por Juliana Lopes, de Paris
A moda não existe sem o universo que a retrata – moda não existe sem a imagem de moda. Essa é uma das conclusões do italiano Claudio Marra, um dos pensadores de moda contemporâneos mais significativos. E não só em imagens da própria roupa e de quem a veste, mas em projetos indiretos, num modo de ser, num “gosto” que está numa escolha de estilo. E numa curadoria.
Por isso, quando um nome como Hedi Slimane (estilista, ex Louis Vuitton e Dior) cura uma exposição, é como se a moda adquirisse um endereço ainda mais nobre. As obras escolhidas, o modo como estão distribuídas pelo espaço, a atmosfera. Atrás de tudo isso está um DNA visual de quem tocou na moda, mas também na música e na fotografia. Na página do Wikipedia de Slimane se fala de “non fashion projects”, mas será? A exposição “California Dreamin”, curada por ele, em Paris, inaugurada em plena Semana de Moda, pode suscitar uma sensação de que, em alguns momentos, não dá para separar a moda da arte.
“A ideia foi do próprio Slimane, que morou dois anos em Los Angeles e gostou de estar lá. Ele quis selecionar artistas que trouxessem esse específico espírito americano”, explica ao FFW a press&public relations Camille Blumberg, da Almine Rech Gallery. Não foi a primeira vez que Slimane curou uma exposição lá.
A galeria é um endereço bastante discreto do bairro Marais. Quem conhece o Marais sabe que as concept-stores e as pequenas boulangeries nos convidam pelo olhar, mas a Almine Rech é uma porta discreta. A mostra também é bastante sutil. As relações que fazemos entre as obras não é nada imediata e talvez um olhar conservador ou impaciente não vá entender porque gravuras de cartuns estão ao lado de um painel transparente gigante que se segue por uma fotografia de um peito de um garoto tatuado “California Dreamin”.
É bom esperar alguns bons minutos para apreciar as escolhas de Hedi. Tudo muito clean, obras não assinadas (é preciso olhar um mapa que indica obras de John Baldessari, Dennis Hopper e outros), branco e preto. “Memória intimista, fragmentos, signos, símbolos”, definiu oficialmente Slimane.
E naquelas obras está o gosto de Slimane, que captou intenções de artista que vivem aquela “América” on the road, nas estradas inóspitas de L.A., na arte e no submundo de luxo cruel e instigante.
A exposição vai até dia 26 de março.
Galerie Almine Rech
19 rue de Saintonge – 75003 Paris, France