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    Direto da “Mag!”
    Direto da “Mag!”
    POR Camila Yahn

    Chanel Resort 2013 ©Chanel/Divulgação

    “Há muita paixão envolvida. Mesmo quando a equipe está enfrentando os maiores problemas que você pode imaginar, as pessoas que trabalham na Chanel são alegres porque elas acreditam no que fazem e querem dar o seu melhor”.

    Essa frase é de Bruno Pavlovsky, presidente de Moda da Chanel, que conhecemos pessoalmente durante a viagem para assistir ao desfile da Cruise Collection, que a Chanel apresentou no Palácio de Versailles, na França. Entrevistamos Bruno na sede histórica da marca, na Rue de Cambon, em Paris, e constatamos: só mesmo muita paixão explica o nível de rigor e disciplina que permeia o universo da marca. Mas se achamos que essa exigência, característica da indústria do luxo, se traduz em profissionais tensos e agitados, na Chanel eles parecem até mesmo leves – além de muito fiéis.

    A empresa é formada por grandes maestros, cada qual responsável por sua própria orquestra, que no final se juntam sob a mesma sinfonia. Karl Lagerfeld é a principal estrela desse grupo e todo o trabalho acontece para transformar sua visão em realidade. Bruno Pavlovsky é o outro grande maestro.

    O desfile da Cruise Collection é até mais especial para a Chanel do que os de prêt-à-porter. Ele acontece em um lugar diferente a cada edição (Riviera Francesa, Saint Tropez…), e todas as pessoas presentes (de celebridades a jornalistas) são convidadas pela marca, vindas de diversas partes do mundo, para conferir ao vivo os lançamentos da Chanel para o período de final de ano.

    Inspirado em Maria Antonieta, que outro lugar senão o histórico Palácio de Versalhes para sediar o desfile? A apresentação aconteceu em frente às famosas fontes do palácio, servindo como belíssima cenografia para as criações de Karl Lagerfeld.

    Maria Antonieta viveu no século 18, período marcado pelo estilo rococó, que traduzia os excessos e a busca pelo prazer pessoal da sociedade na época. Na moda, ele é representado por cores delicadas, excessos nos enfeites, formas extravagantes, com laterais armadas, e ornamentos, como fitas, babados, amarrações e flores artificiais.

    Tudo isso está na coleção: nos tons clarinhos (rosa, azul e verde entre eles), nos adornos (bordados, aplicações, flores, dourados, laços) e nas armações laterais que vimos em diversas peças e em volumes diferentes. O desfile parece acompanhar a trajetória de Maria Antonieta e termina com os vestidos inspirados no “chemise à la reine” (algo como “camisa à moda da rainha”), as vestimentas brancas de algodão, mais simples, que ela passou a usar para escapar da vida rigorosa da corte. Ainda assim, as roupas comunicavam juventude, leveza e riqueza.

    Quase 70 modelos desfilaram os looks da coleção, desejáveis como produto e fortes como imagem de moda. Georgia May Jagger, Cara Delevigne, Lindsey Wixon, Saskia de Brow e as brasileiras Carol Thaler e Nadine Ponce ao som da música “Bad Girls”, de M.I.A.

    Chanel Resort 2013 ©Chanel/Divulgação

    Por mais que tudo estivesse perfeitamente executado, havia uma preocupação no ar: chovia há muitos dias em Paris e o desfile seria ao ar livre. Porém, no dia do desfile, não havia uma nuvem no céu. Só o sol brilhava. Mais absurdo ainda foi acordar na manhã seguinte com a cidade sob chuva novamente. “Faz parte do risco que gostamos de tomar”, brinca Pavlovsky. Mágica? O fato é que esse acontecimento explica muito como as coisas funcionam na Chanel: não há espaço para erro.

    Um desfile para 400 pessoas fora da cidade pode contar com alguns imprevistos, como trânsito ou a chegada de celebridades como a atriz Tilda Swinton, que participou do desfile acompanhada pelo estilista sensação Haider Ackermann. E é nessa hora que a orquestra entra em cena. Cada um cumpre com a sua parte de maneira excepcional e o resultado é um atraso de apenas 30 minutos. Com esse controle, é engraçado notar que a Chanel é uma das poucas marcas que não fazem live streaming de seus desfiles. “Nós trabalhamos muito para as coisas darem certo, mas é muito difícil falar: ‘o show vai começar às 17h’. Ter esse nível de controle sobre o tempo é muita pressão e nós não precisamos disso”, diz Bruno. “Há muitas coisas de último minuto e não há razão para eu colocar esse tipo de pressão na equipe hoje. Vou ter que chegar no Karl e falar: Karl, você tem que começar agora, faltam cinco minutos, faltam três minutos (risos)!”.

    O desfile não é transmitido ao vivo, mas é comunicado com agilidade nas redes sociais da marca e no canal online chanel-news.chanel.com.

    Chanel Resort 2013 ©Chanel/Divulgação

    Qual o tamanho da engrenagem necessária para criar momentos perfeitos praticamente a cada dois meses? A Chanel hoje entrega oito coleções por ano, incluindo duas de alta-costura. São verdadeiros espetáculos com uma obrigação mostrar coleções novas, inspiradoras e desejáveis. Por trás da visão de Lagerfeld, há uma equipe conhecida pela devoção à marca. “Este é um jogo muito sério. Assim que termina uma coleção, todas as pessoas da área criativa querem pular para a próxima porque é assim que eles trabalham; dão tudo o que tem a todo instante”, explica Bruno.

    Para continuar dando motivação a esse grupo, para que eles possam entregar constantemente inovação, criatividade e desejo, a Chanel tem o melhor ao seu dispor. A empresa tem adquirido pequenas casas especializadas, como a Lesage, Michel, Lemarié e Desrues, que estavam fadadas ao desaparecimento. “Precisamos ter pessoas que saibam dar vida a um produto e elas precisam estar por perto e disponíveis”, disse Pavlovsky em uma entrevista ao site Business of Fashion.

    Esse senso de perfeição vai, então, de ponta a ponta. “O resultado do que fazemos é muito bom porque todo mundo é dedicado. E não há limites. Essa é uma das lições que a alta costura nos ensina. Há muitos detalhes e tudo tem que ser muito bem trabalhado. Precisamos entregar o melhor possível”, disse à MAG!.

    No final, todo esse esforço é feito para mimar a clientela exigente da marca, que cada vez mais pode encontrar as peças da Chanel em seu próprio país. “Da cenografia às modelos, todos dão o melhor para beneficiar as coleções. Porque é o que nós entregamos aos nossos clientes. Se nós fazemos isso tudo é pra criar um sonho, um desejo para o nosso produto”.

    Marcas históricas como a Chanel, quando bem cuidadas, conseguem prolongar o sonho e expandir o desejo por meio de peças ícones. “Temos muita sorte porque temos ícones fortes, como as bolsas 2.55 e a Little Black Jacket. Esses produtos estão disponíveis em todos os lugares e são trabalhados em todas as coleções. Karl e seu time propõem uma animação em torno deles”, diz o presidente da marca. E olha que você não cria um ícone de uma hora para outra. “São 20 anos de trabalho consistente”.

    Quando eu pergunto sobre a loucura de construir coleções novas a cada dois meses com esse nível de qualidade, Bruno diz que, se eles fazem assim, é simplesmente porque existe a demanda. “O mais importante não são os shows, mas o que vamos entregar aos nossos clientes. Se hoje temos oito coleções por ano é porque precisamos introduzir novidades nas nossas boutiques a cada dois meses”. Parece o timing perfeito para o incansável Karl Lagerfeld, dono da frase “não gosto de nada que seja permanente ou definitivo”.

    Como videntes das próximas ondas, a equipe criativa tem que se adiantar ao gosto de seu consumidor. O papel de uma marca de moda é descobrir de antemão o que as pessoas vão querer usar seis meses adiante. E que maneira melhor de surpreender se não criando uma imagem forte, com shows muito bem produzidos pelo mundo. “As pessoas que trabalham no criativo têm que entregar algo especial que o público vai querer usar amanhã e então a nossa parte é maximizar o impacto dessas coleções”, explica Bruno.

    É quando entram em cena os buyers, que compram as peças da marca e levam para as boutiques que representam em seu próprio país. Eles têm olhares diferentes sobre as peças e sabem o que é melhor para suas consumidoras. “No final, é o mesmo produto, mas é muito interessante conversar com o comprador e ver como ele joga com a coleção. É como se cada país tivesse uma visão única da Chanel”.

    Chanel Resort 2013 ©Chanel/Divulgação

    A Chanel chegou ao Brasil pelas mãos da Daslu e, enquanto não era o momento certo de fazer seu próprio negócio no país, a marca foi construindo uma relação com a clientela brasileira, que consumia não apenas na Daslu, mas também em boutiques da Europa e dos EUA. “O Brasil hoje é muito importante. Nossa estratégia em muitos países é desenvolver uma relação com as clientes em seu próprio país. O custo de uma boutique hoje ainda é muito alto no Brasil e por isso leva-se um tempo. Mas acredito que nos próximos cinco anos a situação será melhor para a gente desenvolver nosso negócio aí. É só uma questão de tempo”. Pavlovsky deve vir ao Brasil em 2013.

    O crescimento nos negócios reflete o trabalho que Karl Lagerfeld vem tramando coleção após coleção há mais de 25 anos. Prestes a completar 80 anos, Lagerfeld se mantém jovem e ativo, inspirado por música, literatura e arte. Assim, um desfile da Chanel é sempre uma explosão de novidades: da cor do esmalte à trilha sonora, passando por suas reinvenções dos ícones da marca. A palavra “novo” é constantemente ligada à Chanel e a seu estilista. Ainda assim, Bruno Pavlovsky acredita que moda não é apenas inovação. “É o design certo no tempo certo porque muitas coisas já foram feitas na moda. Nós podemos desenvolver novos materiais que são um mix de natural e tecnológico, e isso é parte da inovação. Mas não acho que moda é sobre inovação. O mais forte é o que é feito no tempo certo. Hoje, quando trabalhamos na seleção de uma fábrica ou desenvolvemos novas tecnologias, nós usamos muita inovação, mas não sei ao certo se isso é o mais importante pra mim. O principal é ter o material certo com a forma certa, esse é o ponto para a gente”.

    O estilista alemão, à frente da Chanel desde 1983, está sempre envolto em controvérsias, que no final das contas ajudam a aumentar o mito que ele se tornou. Uma prova disso foi a festa que aconteceu após o desfile em Versalhes. Modelos famosas, artistas e celebridades da moda circulavam pelo local, todos mais do que acostumados à figura de Lagerfeld. A banda de Alice Dellal, Thrush Metal, tocava ao vivo quando de repente todos viraram de costas para o palco com suas câmeras e celulares em punho. Era Karl que acabava de entrar no salão, chamando a atenção total dos presentes. Então, uma a uma, as pessoas realmente importantes lá dentro, se organizavam para passar pela barreira de seguranças e cumprimentá-lo – e, claro, posar para fotos ao seu lado. “Todos nós estamos aqui para poder dar o melhor suporte às ideias de Lagerfeld, que é o visionário. Ele tem uma visão do futuro e nós fazemos o melhor que podemos para realizar essa visão e fazer com que ela aconteça da melhor maneira possível”, finaliza Bruno Pavlovsky. Com um feeling danado para a contemporaneidade, aliado a expertise de cada profissional dentro da empresa, a Chanel mantem o trânsito entre sua história e os desejos que a gente ainda não sabe que iremos sentir.

    *Reportagem originalmente publicada na “ffwMAG!” 32, já nas bancas.

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