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    Ícone no Brasil, Costanza Pascolato fala de suas percepções da moda atual
    Ícone no Brasil, Costanza Pascolato fala de suas percepções da moda atual
    POR Redação

    Costanza Pascolato em conversa com o FFW ©Juliana Knobel

    Costanza Pascolato, dona da tecelagem Santaconstancia e colunista da “Vogue” brasileira, é um dos maiores ícones da moda nacional, além de ser respeitada internacionalmente. Nascida na Itália, em 1939, bem no começo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Costanza chegou ao Brasil com cinco anos ao lado dos pais, Michele e Gabriella Pascolato, e do irmão mais novo, Alessandro, e se estabeleceram em São Paulo, onde criaram um grande império têxtil. A história da empresária e consultora é fascinante, por isso mesmo o FFW a entrevistou com exclusividade na noite de sábado (21.01) no restaurante Manioca, durante o SPFW.

    Sua mãe, Gabriela Pascolato, veio da Itália com você e seu irmão ainda muito novos, fugindo da guerra, e construiu um império têxtil praticamente sozinha. A senhora pode contar um pouco mais dessa história?

    Na verdade não foi sozinha, foi junto com meu pai. Em 1945, eu tinha de cinco para seis anos, meu irmão tinha dois, e meus pais vieram depois da guerra… e a guerra era uma coisa assim, que mudou a vida da gente, eles tiveram que recomeçar. Então, eles perceberam que no Brasil, na época, só se fabricava algodão e minha mãe teve a ideia, depois de um ou dois anos que estavam aqui, de começar algo e o cruzeiro era uma moeda muito forte, era uma época boa para começar um negócio. Minha mãe resolveu começar com 12 teares e compraram seda no interior de São Paulo, que já era fabricada pelos japoneses, mas que quase tudo era exportado. O início foi com uma tecelagem de seda e, nos anos 70, o meu irmão começou a pensar no que era tecnológico, no sentido da fibra com memória, com elastano, lycra, por exemplo. A nossa fábrica foi a primeira homologada para fazer o primeiro cotton lycra, o primeiro tecido de uso diário que tinha uma origem esportiva e que era estudada para a melhor performance possível do corpo. Foi uma ideia pioneira, que meu irmão, junto com a minha mãe, começaram a introduzir na vida do dia-a-dia, afinal aqui todo mundo se veste casual, não tem centro urbano muito grande para ter que se vestir como no hemisfério norte, lá fora e tudo o mais. No Brasil, tudo é malha e elástico, todo mundo quer uma moda próxima do corpo e confortável para o dia-a-dia.

    À que a senhora atribui as figuras femininas tão fortes na sua família?

    Acho que a figura feminina já vinha forte da minha avó materna, que trabalhou junto com o pai dela que era prefeito de uma cidade na Sicília e ela, já com 15 anos, no final do século 19, trabalhava em um escritório. Depois, ela foi super ativa e cuidou de casas gigantescas e fazendas que o meu avô teve, inclusive do pessoal. Chamavam ela de “Rainha Sol”, como Luís XIV, o “Rei Sol” na França, sabe? Aí minha mãe era do mesmo jeito, mas acho que ela era até mais forte que a gente. Enfim, eu acho que é uma família de matriarcas, mas sem desmerecer os homens porque, na verdade, o meu irmão é uma pessoa super interessante e capaz, ele está por trás de uma empresa que ainda funciona, depois de tantos anos.

    Como foi crescer neste meio tão ligado à “moda”, mesmo que com um conceito de moda tão distinto do que temos hoje?

    A mudança mais importante foi a questão de que quando minha mãe começou não existiam confecções, eram simplesmente costureiras e ateliês que atendiam. Então as pessoas costuravam em casa, a gente vendia à metro, quer dizer, vendia a lojas que vendiam à metro. A grande revolução foi no começo dos anos 1970, final dos 60. Quanto a mim… eu não sei, a moda foi um importante viés para entender o mundo. Eu vi a moda em mim quando tinha três, quatro anos, e comecei a reparar nas pessoas. Para mim é fácil enxergar a moda. E minha mãe sempre me falava sobre o que ela andava fazendo, sobre o que vinha acontecendo, já com 12 anos ela me levava para os escritórios todos para que eu visse as pessoas que atuavam na moda. Com 15 anos, em Paris – ela exportava seda para a França – eu vi de longe a [Coco] Chanel porque ela estava dentro do escritório de um fabricante francês, que importava coisas da gente… eu vi os primeiros desfiles de alta-costura nas maisons. Ela falava sobre roupas e se vestia lindamente, minha avó também… minha avó tinha roupa da Chanel de 1912, 1914… então é uma cultura familiar. Além de eu ter um olho, entende? Algumas pessoas da família não são assim, a Consuelo [Pascolato Blocker, filha de Costanza] é, por exemplo. Eu acho que a gente leva jeito e um olhar que a gente tem para isso e para mim a moda é uma das maneiras de enxergar o comportamento de uma época.

    Costanza Pascolato em conversa com o FFW ©Juliana Knobel

    Como é ter presenciado “o comportamento” daquela época, de grandes designers como Dior, Givenchy, além da própria Chanel? Como é lidar com a diferença desse tempo para os dias atuais?

    Eu tinha a noção muito clara do que era a moda uma certa época antes do advento do prêt-à-porter na Europa, que foi um momento… é assim: a alta-costura representava uma elite, todo mundo copiava o modelinho da alta-costura que vinha nas revistas, levava na costureira e copiava. Quando o prêt-à-porter começou, nos anos 1970, lá na Europa, principalmente em Paris, depois na Itália, foi o movimento libertário e de pensamento, mas ao mesmo tempo outros consumidores entraram no mapa, ou seja, outros consumidores com a mentalidade mais jovem e mais democrática porque a partir dos anos 1968, 69, 70, as ideias dos jovens, que não eram respeitadas, começaram a valer e ao mesmo tempo houve a libertação sexual… Mas toda aquela novidade que foi revolucionária no mundo veio junto com o fato de que os consumidores viraram consumidores independentes dos adultos, principalmente dos pais, eles pensavam diferente e queriam ser vestir de uma maneira diferente, as ideias muito rígidas não funcionavam com eles e as roupas também não. Eu vivi na melhor parte do século 20. Quando eu cheguei ao Brasil tinha telefone “à manivela” e hoje eu tenho dois celulares e dois iPads, então viver esse período, até hoje, é uma experiência, estando ativa e tendo o olhar ainda “dissernidor”, acho que é uma das experiências mais fascinantes que alguém pode ter.

    Como foi ter nascido em uma família tão abastada e depois ter sido deserdada?

    O fato de ser deserdada foi um movimento meio radical do meu pai, que ele achava que eu não tinha juízo e precisava aprender a ser independente. Eu acho que para mim foi muito bom, no sentido de que eu tive que me virar e aprender a conviver com outras pessoas e outros grupos e trabalhar para os outros, que é bom, porque se só tivesse ficado dentro da minha empresa, primeiro que eu não tenho uma função administrativa, eu nunca soube fazer isso, só tenho o talento de contribuidora porque tenho uma visão, tanto que sou consultora de várias empresas. E é o que eu gosto de fazer. Eu trabalhei 20 anos na editora Abril, como editora, e tive que voltar para a minha empresa porque meu pai estava morrendo e minha mãe estava ocupada, meu irmão disse que seria bom que eu voltasse, o que aconteceu em 1987. Mas escrevendo, eu tinha uma coluna na “Folha de S.Paulo”, na Ilustrada, e me deram uma página inteira por semana, até 1991. Depois eu comecei na “Vogue”. O exercício disso tudo, que é bacana, é que eu tive que me adaptar a várias épocas. Eu tive que pensar em função da época que eu estava vivendo para escrever.

    Quais foram – e continuam sendo – as referências da senhora?

    Minha referência, na verdade hoje, é a internet, porque atualmente nós fazemos o nosso conteúdo. Eu gosto de livros, de fotografia e de arte contemporânea porque nesse período que eu te falei, a partir do século 20, já foi uma revolução, sobretudo em Paris, de movimentos artísticos que saiam do convencional e eu segui muito isso e continuo me informando sobre isso. Eu gosto de ir à Basil, Miami Basel, quando posso vou para Veneza, mas que é nesse período que a moda aqui está muito ativa e muitas vezes eu perco, mas o olhar do artista contemporâneo, não necessariamente de hoje, mas de ontem ou de anteontem, para mim ainda são aquelas “antenas” que você redescobre caminhos que eu não tinha entendido ainda. A cada dia e a cada mês e a cada ano da sua vida, você vive uma – se você não ficar parado, obviamente — mini evolução e você consegue ver as mesmas coisas de outro jeito.

    O que a senhora acha de parte da cultura de moda atual e dessas referências, que por serem vinculadas à internet, algumas vezes são tão rasas?

    Eu acho que é ruim, não para nós, que nos formamos de outra maneira. Eu fico preocupada é com a juventude que está muito mergulhada nisso, porque é ela que vai ser prejudicada e vai enxergar o mundo cada vez mais rasteiro, raso e superficial. O chato do novo, como diz o Gilles Lipovetsky, é que na hipermodernidade, você quer tudo já e de qualquer jeito. Isso tira a antecipação e a curtição da coisa. Eu vejo estas crianças fantasiadas de adultos, com 10, 12 anos, e fico pensando que elas vão perder uma parte da vivência delas e vai fazer falta no futuro. Não é que eu vá querer reformar o mundo, só acho uma pena, porque a vida é uma só, não é? Então, se você perde essas fases, momentos e oportunidades da vida e banaliza, você nunca vai sentir nada. Eu gosto de ver filme de época, acabei de ver um filme da Jane Campion.

    E seus autores e diretores preferidos?

    Eu não sou muito culta. Eu li muito enquanto era menina, muita coisa francesa porque foi a primeira língua que eu aprendi. Minha paixão é o cinema da “Nouvelle Vague” francesa, estou revendo tudo, porque estou entendendo um monte de coisa. Adoro Bernardo [Bertolucci] e [Luchino] Visconti, que eu conheci e tirou uma foto famosa minha de perfil.

    Foto de Costanza Pascolato em 1965 ©Luchino Visconti/Reprodução

    Dentre os designers brasileiros, o que a senhora mais gosta e utiliza?

    Eu visto Glória [Coelho] e Reinaldo [Lourenço] há muito tempo e agora eu sou apaixonada pelo Pedro [Lourenço]. Tenho muita coisa especial do Alexandre [Herchcovitch]. Mas você entende que, talvez por eu ter uma relação especial com eles e porque eu preciso que as coisas sejam feitas hoje em dia quase no meu corpo, não é natural que eu vista qualquer coisa. Primeiro porque tem que ter manga, sem manga eu não uso mais, preciso manter uma certa imagem, então necessito de muita elaboração. Eu não compro qualquer coisa, não dá certo mais, entendeu?

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