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    Conheça a designer brasileira por trás dos sapatos 3D que conquistaram Beyoncé e Gaga
    Conheça a designer brasileira por trás dos sapatos 3D que conquistaram Beyoncé e Gaga
    POR Camila Yahn

    Andreia Chaves na Livraria da Vila do shopping Patio Higienópolis, em São Paulo, em entrevista ao FFW ©Ricardo Toscani

    Quem visitou o Tumblr de Beyoncé recentemente conheceu o que encantou a cantora durante sua passagem pelo Brasil. Entre o restaurante Aprazível, na capital carioca, o filme “Cidade de Deus” e artistas de rua como Os Gêmeos, Nunca, Herbert Baglione e Vitché, estavam os sapatos surrealistas da designer paulista Andreia Chaves, 32.

    Feitos em impressão 3D, técnica que vem crescendo nos últimos tempos, mas ainda muito embrionária, é impossível não ficar intrigado com os seus detalhes principalmente quando sabemos a procedência da sua execução. Quando ainda era estudante da Polimoda, em Florença, e os seus projetos foram publicados no site de referências Yatzer, o primeiro pedido que recebeu – ainda sem saber como o realizaria -, foi de Nicola Formichetti, procurando um sapato diferente para Lady Gaga, ainda sua cliente na época. Gaga não usou, mas outra cantora especial acabou comprando: Björk. “Quando ficou pronto, o Formichetti falou que não precisavam mais. Mas foi ótimo, porque assim começou a minha marca. No final das contas, quem comprou foi a Björk”, diz em entrevista ao FFW.

    O estudo Prism Shoe que Andreia enviou para o Yatzer ©Reprodução

    A designer tem duas linhas: a InvisibleShoe, de execução 3D com um apoio de couro, e a Goldsculpt, feito à mão, em couro com aplicação de joias em ouro. Como parceiros nas suas criações está um ateliê centenário na Itália, que faz toda a parte de couro, e a empresa holandesa especialista em 3D Freedom of Creation. Os seus “sapatos invisíveis” estão representados na China, nos Estados Unidos e em breve no Japão, e ainda no site Solestruck, por aproximadamente € 3 mil (aprox. R$ 8.900).

    Em uma breve visita ao Brasil (ela mora em Milão há oito anos), Chaves conversou com o FFW sobre a sua marca, o presente e o futuro da impressão 3D e a obrigatoriedade de preservar heranças artesanais ao mesmo tempo em que presenciamos avanços tecnológicos. Leia abaixo:

    Como surgiu a marca Andreia Chaves?

    Por acaso. Antes de me formar mandei algumas fotos de estudos para o Yatzer e eles publicaram. E bombou na internet. E era só um estudo, tudo muito conceitual. Recebi algumas propostas de stylists de celebridades que queriam o sapato. Mas eu não tinha o produto, aquilo era só um trabalho de faculdade. Naquela época, em 2010, o Formichetti me contatou e pediu um par para a Lady Gaga. Eu não queria perder a oportunidade e falei que conseguia para setembro. Foi uma loucura porque não tinha nem o desenvolvimento do produto. Mesmo para impressão 3D, tinha um super trabalho pela frente de produção, desenho, os testes e tudo.

    Não deu para setembro, consegui entregar só em fevereiro. Foram pelo menos oito meses de desenvolvimento. Quando ficou pronto, ele falou que não precisavam mais. Mas foi ótimo, porque assim começou a marca. Eu nunca nem pensei em ter a minha marca. No final das contas, quem comprou foi a Björk, mas a Lady Gaga está usando agora, vai sair um ensaio fotográfico dela.

    O sapato impresso em 3D criado por Andreia Chaves e encomendado por Lady Gaga ©Reprodução

    A cantora Björk, em um ensaio da “Dazed & Confused”, com a criação em 3D nos pés ©Reprodução

    Quando fez esses estudos, os sapatos já eram pensados para serem feitos em 3D?

    Não. A impressão 3D era e é muito cara e não tem nenhuma escola na Europa que ofereça isso para os estudantes e nenhum estudante consegue pagar, então não tinha nada de impressão 3D.

    Como chegou no 3D?

    Eu não achava que tinha que ser 3D porque ainda há muitas restrições de material. Eu queria que fosse em injection mode, em PVC, como a Melissa. Para as formas que eu desenho,  seria impossível fazer isso, então desistimos. O 3D era a nossa única opção e no final fiquei feliz.

    Para onde você acha que caminha esta tecnologia?

    O futuro da impressão 3D é a comercialização de arquivos pela internet. Você quer comprar uma xícara, vai ter lá o arquivinho, você compra e imprime na sua casa. Estamos caminhando para a comercialização não mais das empresas que imprimem, mas das empresas que vendem arquivos 3D. O meu sapato, por exemplo, poderia colocar o arquivo no tamanho do pé da cliente e ela imprime em casa. Acho que em 10 anos já vamos ter isso. É muito interessante, mas é muito desafiador para quem vai investir nisso. E até mesmo para um designer manter o controle da criação. Hoje em dia, ninguém tem o controle da criação em absoluto, claro, mas com a impressão 3D vai ficar mais difícil ainda.

    A versão “pelada” do Invisible Shoe de Andreia Chaves, também impresso em 3D ©Reprodução

    Quanto custa uma impressão 3D?

    Depende. Eu falo depende porque… já viu uma máquina de impressão 3D? É tipo um forno. E tem fornos de vários tamanhos. Então você pode imprimir só um par, em um forno pequeno e tem o material que vai ser gasto só nesse espaço, que custa, por exemplo, € 1.000. Se eu produzir mais pares, vou ocupar mais espaço, mas vou gastar os mesmos 1.000 de material. Quanto mais você produz, mais barato sai cada um. No meu caso eu produzo por demanda, alguém me pede e eu produzo. É difícil falar de preço.

    Quais são as principais restrições da impressão 3D?

    O 3D não tem ainda a flexibilidade que os designers de moda procuram. Para um designer de moda é difícil. A Iris van Herpen trabalha com 3D, mas com certeza não é uma coisa que está comercializando. São peças mais conceituais.

    E quais são as vantagens?

    A liberdade de você produzir o que quiser. Poder criar a forma mais louca. Mas ainda existe uma distância entre isso e o produto final, porque em termos de materiais ainda não há muita flexibilidade. A rapidez também é uma vantagem. Eu mando o desenho para a empresa e no dia seguinte eles me devolvem. Não sei o tempo exato, pode demorar uma hora ou oito, mas eles me devolvem no dia seguinte.

    Você acha que um dia vai dar para fazer uma blusa ou uma saia em seda?

    Eu espero que não. (risos) Eu acredito, e na Europa já tem um movimento nesse sentido, que temos que dar um passinho para trás, com essa produção de massa. E o 3D nisso é bom porque é muito individual ainda. Na Europa as pessoas já pensam mais nisso da edição limitada e de materiais melhores. Se começarmos a imprimir seda em 3D, eu vou ter medo. Mas talvez seja ok imprimir seda em 3D se você achar que o seu design vale a pena. Tenho muitos clientes que trabalham na Coreia do Sul e eles contam que existe um apoio do governo para o que eles consideram que seja um design que agregue. Não só produzir, mas produzir algo que valha a pena.

    Quantas pessoas trabalham com você?

    Por enquanto sou só eu e uma assistente, somos bem pequenos e eu estou feliz assim. Não tenho assessoria e todos os contatos que faço são de stylists ou revendedores que veem o meu produto na internet, que é uma ferramenta muito poderosa, e entram em contato comigo. Trabalho também com um ateliê na Itália, porque além do 3D, os meus sapatos têm uma componente de couro por dentro, para ficar mais confortável.

    Um dos modelos da sua outra linha, Goldsculpt ©Reprodução

    Então existe um trabalho artesanal…

    É uma coisa que eu gosto e quero manter no meu trabalho, porque é um negócio que infelizmente na Itália está morrendo. Os filhos não querem mais aprender e os pais não conseguem mais competir com as grandes indústrias. Essa fábrica com a qual eu trabalho são de três irmãos que aprenderam do pai, que aprendeu do pai e a próxima geração deles já não quer aprender. Eu acho super bacana você trabalhar com tecnologia tanto quanto eu acho necessário preservar o trabalho artesanal. Eu adoraria que o mundo tivesse mais alfaiates, mais artesãos, lugares onde você fosse tirar medidas e fazer uma coisa especialmente para você.

    Mas aí nem todo mundo pode pagar…

    Antigamente todo mundo podia. Hoje em dia a gente compra dez que não valem um. Eu gosto de fazer essa peça mais individual. E eu sinto que é uma tendência, existe um movimento nessa direção. É muito difícil para um designer hoje competir com as grandes cadeias. A produção em massa nunca vai acabar, mas podemos nos concentrar em fazer coisas mais individuais.

    Quanto custa o seu produto?

    O preço final do meu sapato é € 3.000. Ainda é muito caro para mim. Se eu tivesse uma produção de 100, que eles pudessem colocar 100 pares dentro da impressora, ficaria mais barato. Mas não é o meu caso.

    A internet ajuda muito para tornar a marca conhecida.

    A internet é uma super ferramenta para novos designers. Hoje em dia não é tão difícil apresentar um trabalho para um público mundial. Principalmente em moda, se você tem alguma coisa diferente, você consegue receber uma opinião rápida de várias pessoas e elas te acham facilmente. Eu não estou mais fazendo semana de moda, mas já fiz Paris e Milão, apresentando em showroom. Para um designer novo, é um investimento alto. Você pega uma esquina dentro de um showroom e paga pelo menos uns € 5 mil. Mais PR, mais hospedagem, convites, é um investimento alto. Aí você vai para Paris com mais mil designers brigando por um espaço. Então a internet é uma ferramenta muito bacana nesse sentido.

    Você já trabalhou com algum designer na Europa?

    Eu já disse não para vários designers de moda. Eu tive uns quatro convites de designers bem famosos na Europa que recusei. O triste da moda, e que eu procuro não fazer, é não valorizar o trabalho das pessoas. As pessoas que se formam em moda ficam uns cinco ou seis anos sendo mal pagas. E muitas delas vão trabalhar de graça. Acontece no mundo inteiro. E muita gente fecha os olhos para isso. Eu não. Eu não trabalho de graça. É importante ganhar experiência e às vezes temos que trabalhar de graça mesmo. Mas os designers têm que ter consciência que nós somos uma indústria e que essa postura vai passar adiante. Fizeram comigo, vão fazer com o meu assistente e ele vai fazer com os funcionários dele. Tem que ser mais profissional e mais humano. Foi uma escolha minha não aceitar esses trabalhos.

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